A alta comissária de direitos humanos da ONU (Organização das Nações Unidas), Michelle Bachelet, é alvo de críticas em seu Chile natal por ter mantido um tom cordial na conversa com o ditador da Venezuela, Nicolás Maduro, no último dia 3.
O encontro virtual tratou dos impactos negativos das sanções internacionais contra a Venezuela e a política do país no combate à Covid-19. As acusações de crimes contra a humanidade, apontados por Bachelet e seu gabinete desde 2019, não entraram na pauta.
“O riso em uma reunião técnica com alguém que está sendo acusado de crimes à humanidade é ultrajante”, disse o coordenador da organização venezuelana de direitos humanos Provea, Rafael Uzcátegui, ao jornal chileno “La Tercera”. “É um tapa na cara das vítimas”.
A deputada venezuelana Delsa Solórzano classificou o comportamento de Bachelet como uma “vergonha”. “Como sorrir para quem detém trabalhadores humanitários arbitrariamente?”, afirmou a educadora venezuelana Ligia Bolívar.
No Chile, a candidata presidencial do Partido Socialista, Paula Narváez, afirmou que Bachelet pode ter tentado obter uma “vantagem política” na reunião com Maduro. “Ao fazer isso, porém, a alta comissária não compreendeu o papel de seu cargo para os Direitos Humanos”.
“O alto comissário teria sido cordial em uma reunião com o senhor Augusto Pinochet?”, questionou Uzcátegui. O ditador chileno comandou o país de 1973 a 1990 e, entre outros, ordenou a prisão e tortura de Alberto Bachelet, pai da alta comissária.
No Twitter, Maduro definiu a videoconferência como “excelente”.
Acusações contra Maduro
Ao visitar a Venezuela em 2019, Michelle Bachelet expressou profunda preocupação pelos presos políticos e pela deterioração democrática do país. Semanas depois, um relatório assinado pela alta comissária listou críticas à Maduro pelo uso da força policial.
A alta comissária sugeriu a dissolução das FAES (Forças de Ação Especial), consideradas um grupo de extermínio em diferentes regiões do país. Ao atualizar o documento, em setembro, Bachelet culpou o presidente venezuelano pela morte de duas mil pessoas entre janeiro e agosto de 2020.
No mesmo mês, Caracas renovou o Memorando de Entendimento com o ACNUDH (Alto Comissariado para os Direitos Humanos da ONU). A medida prevê avanços de cooperação e a criação de um escritório do órgão no país.
O ACNUDH deve voltar a tratar da situação da Venezuela na sessão do Conselho de Direitos Humanos desta quarta (10).
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