A alta desconfiança popular da população de Papua Nova Guiné às vacinas contra a Covid-19 fabricadas na China podem fazer com que o país não aceite a remessa de 100 mil doses vindas de Beijing, informou nesta quinta (18) o jornal australiano “Financial Review”.
Autoridades da Austrália apontam a probabilidade de que o governo papuásio recuse as doses devido ao risco de uma reação pública muito negativa. As suspeitas recaem sobre a farmacêutica Sinopharm e o fato da OMS (Organização Mundial da Saúde) ainda não ter aprovado a vacina por falta de transparência nos dados.
O chefe da Controladoria da Pandemia de Papua Nova Guiné, David Manning, disse à imprensa local que o governo trabalha com a Austrália para determinar a “melhor vacina” para o país. O mais provável é que a nação de oito milhões de habitantes, localizada na Oceania, receba os imunizantes da iniciativa Covax.
A rejeição, porém, atrasa o plano de recuperação da Papua Nova Guiné, que enfrenta um novo pico de contágios desde o começo de março. O aumento dos casos fez com que a Austrália pedisse à UE (União Europeia) uma remessa urgente de um milhão de doses da AstraZeneca para o país – e ainda não teve resposta.
O montante integraria as 3,1 milhões de vacinas enviadas a Camberra. “Trata-se de um desastre humanitário em uma nação em desenvolvimento”, disse o ministro da Saúde australiano, Greg Hunt. Papua Nova Guiné já soma 2,4 mil infecções por Covid-19 e 31 mortes – o maior número desde o início da pandemia.
“Estamos dispostos a renunciar a esses milhões da Austrália. Não esperamos uma resposta imediata, sabemos que a UE tem seus processos”, afirmou Hunt. Scott Morrison anunciou na quarta (17) que irá enviar oito mil doses do estoque do país aos profissionais da linha de frente da nação vizinha.
Disputa geopolítica
Os conflitos atuais entre a Austrália e a China também alimentam a rejeição aos imunizantes chineses na Papua Nova Guiné, que tem Camberra como seu principal parceiro comercial e diplomático. A recusa viria quase como uma resposta à “diplomacia de vacinas chinesa”, que já enviou milhões de imunizantes gratuitos ao redor do mundo mediante garantias de facilidades econômicas e políticas no futuro.
Apesar de recusar o título, Beijing tem usado em seu favor a ansiedade de governos com problemas para adquirir as doses. Ainda assim, o especialista em saúde da Papua Nova Guiné Brendan Crabb alerta para o risco que o país corre ao “evitar riscos geopolíticos”.
“O aumento astronômico nas nossas infecções significa que o uso de vacinas fabricadas na China não deve ser descartado. As circunstâncias são obviamente desesperadoras”.
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