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segunda-feira, 15 de março de 2021

Caso Navalny prova ineficiência e perigo de Moscou, diz jornalista russa

por Julia Possa

A “falha” do FSB (Serviço Federal de Segurança da Rússia) no atentado ao opositor russo Alexei Navalny, em agosto de 2020, é mais uma prova da incompetência – e da periculosidade – do órgão, afirma a jornalista russa Natalia Antonova, baseada em Washington.

Em entrevista a “A Referência”, por e-mail, a jornalista que deixou a Rússia após anos trabalhando na imprensa do país afirmou que a inépcia e corrupção das forças de Vladimir Putin são, na realidade, seu “atributo mais perigoso”.

Segundo Antonova, a recuperação de Navalny após o envenenamento por novichok serve para identificar um “caos previsível” nos serviços de segurança do país. Essa ineficiência, contudo, não é sinônimo de um eventual desgaste que, no limite, possa ensejar a queda de Vladimir Putin.

Recuperação de Navalny prova ineficiência e perigo de Moscou, diz jornalista russa
Vladimir Putin, ainda como primeiro-ministro da Rússia, em novembro de 2009 (Foto: Divulgação/Ukraine Politics)

“É preciso olhar a situação em um contexto mais amplo do putinismo tardio”, escreveu. País que figura entre as economias mais desiguais do mundo, a Rússia vive um clima contínuo de “ameaça à segurança nacional” e crédito cada vez mais escasso nas instituições oficiais – fatores que contribuem para a erosão da confiança em Putin.

“Por isso eu não diria que é tanto um declínio quando o resultado lógico das políticas internas do Kremlin nas últimas duas décadas. O caos é um sintoma, mas Putin ainda não terminou e provavelmente não terminará por enquanto“.

A suposta “incompetência” das agências de inteligência russas tornou-se tópico de discussão após a tentativa de assassinato do líder da oposição. Analistas questionaram se o ataque a Navalny não poderia ter falhado “de propósito”, em uma tentativa de “alertar” outros dissidentes do Kremlin.

“Definitivamente, não”, disse Antonova. “O atentado contra a vida de Navalny não falhou propositalmente. Isso exigiria uma calibragem delicada demais – algo que o FSB é claramente incapaz de fazer”.

Recuperação de Navalny prova ineficiência e perigo de Moscou, diz jornalista russa
Momento da detenção de Alexei Navalny ao chegar no Aeroporto de Moscou, em 17 de janeiro de 2020 (Foto: Reprodução/Twitter Kira Yarmysh)

A incompetência das forças de segurança não surpreende os russos. Em artigo publicado na revista “Foreign Policy” em janeiro, a jornalista relata que o que ocorreu com Navalny foi uma “caricatura” – exatamente o que os russos já esperam de seus serviços de segurança em Moscou.

“Na Rússia de Putin, os serviços de segurança não precisam ser realmente profissionais para serem considerados temíveis”, escreveu. “Em vez disso, sua terrível reputação vem de uma total falta de responsabilidade”.

Fracassos

Navalny foi preso ao retornar à Rússia em 17 de janeiro, após meses de recuperação na Alemanha. Protestos irromperam em toda a Rússia após a detenção, movimento que desencadeou repercussões diplomáticas e novas sanções da UE (União Europeia) contra Moscou.

O caso de Navalny não é o primeiro fracasso das forças de inteligência russas – e provavelmente não será o último, disse o portal de notícias russas em inglês “The Moscow Times”.

O GRU (Departamento de Inteligência Militar) também errou na tentativa de homicídio por envenenamento do ex-agente russo Sergei Skripal e sua filha, em março de 2018 no Reino Unido. Também ocorreram outras duas tentativas de assassinato contra o também opositor ao Kremlin, Vladimir Kara-Murza, em 2015 e 2017.

O site de jornalismo investigativo Bellincat, do qual Antonova faz parte, chegou a identificar os agentes que perseguiram Navalny até o envenenamento.

Enquanto isso, porém, a Rússia mantém seus “investimentos” na espionagem ao redor do mundo. Autoridades alemãs prenderam um cidadão alemão por suspeita de entregar plantas do Parlamento local ao GRU no final de fevereiro, segundo informações da BBC. Nos EUA e Reino Unido, hackers russos estariam por trás de tentativas de interferência nos processos eleitorais. Moscou nega.

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