Protestos anti-China se espalharam por Mianmar desde o golpe que tirou o governo eleito do poder, no último dia 1. Nas ruas, manifestantes acusam Beijing de apoiar os militares e pedem boicote aos produtos chineses, informou o diário britânico “Financial Times”.
As queixas se acentuaram depois que Beijing se recusou a lançar sanções contra Mianmar pelo golpe no Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas), no dia 3.
Na segunda (22), uma paralisação deixou diversas cidades em greve. A revolta vem após um final de semana violento: no sábado (20) policiais atiraram contra ativistas que protestavam na segunda maior cidade do país, Mandalay.
Duas pessoas morreram em meio ao tumulto, segundo a CNN. No domingo, a junta militar que tomou o poder anunciou que usaria “força letal” contra manifestantes em um comunicado na emissora estatal MRTV.
Para driblar a violência policial, ativistas impulsionam campanhas online. Enquanto alguns defendem o boicote aos produtos da China, outros pedem ataques ao gasoduto que liga a província chinesa de Yunnan, no sul do país, ao porto birmanês de Kyaukphyu.
A junta militar determinou a suspensão da internet desde a noite de sábado (20). Também há especulações de que Beijing está instalando um “grande firewall” para censurar sites birmaneses.
O relator da ONU para Mianmar, Tom Andrews, alertou para a possibilidade de escalada da violência e pediu a colaboração de líderes e empresários birmaneses e estrangeiros para garantir a segurança dos ativistas nas manifestações.
“Dados os protestos em massa e tropas convergindo, possamos estar à beira do precipício, com os militares cometendo crimes ainda maiores contra o povo de Mianmar”, apelou.
Apoio a militares
Logo após o golpe militar, Beijing classificou a prisão de Aung San Suu Kyi e outros funcionários do governo como uma “remodelação de gabinete” na agência de notícias estatal Xinhua.
Além de Suu Kyi, outros líderes da oposição estão presos desde o dia 1 de fevereiro. Nas redes sociais de Mianmar, circulam rumores sobre supostos voos de carga que pousaram em Yangon, maior cidade do país, vindos da China.
O conteúdo e a razão dos voos são desconhecidos, já que o espaço aéreo do país estava fechado. O que se sabe, porém, é que os protestos anti-China já preocupam o governo em Beijing por conta de sua complexa relação com Mianmar.
A relação entre os dois países tem um histórico tenso, calcado em investidas territoriais e de influência do gigante asiático em direção ao vizinho ao sul.
A partir de 2011, quando o Exército birmanês passa a permitir uma ligeira abertura institucional, os dois países iniciam um processo de fortalecimento dos laços econômicos.
Mianmar já era um destino de negócios de armas e fluxos comerciais secretos durante regime militar, entre 1962 e 2011, mas a corrente de comércio se acentuou na última década.
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