A teoria conspiratória QAnon, iniciada em 2017 no fórum anônimo 4Chan, tem pipocado em blogs obscuros da extrema direita em países como França, Alemanha, Reino Unido e Itália, segundo da consultoria NewsGuard, especializada em desinformação.
O relatório, divulgado no último dia 14, observa que as suposições – sem nenhuma evidência até o momento – esposadas pelo grupo têm sido adaptadas às realidades locais.
O QAnon é mais uma leva de suposições pouco ou nada respaldadas em evidências concretas vinda do fórum 4Chan, conhecido por trotes, hacks e protestos sem liderança definida.
Por ser anônimo e sem censura, circula de tudo por ali: de racismo a pornografia, de uso de drogas e preconceito religioso a informações falsas, sem nenhum tipo de prestação de contas.
No caso do QAnon, a história começa com postagens – sem identificação, como de hábito – de um suposto funcionário poderoso do governo norte-americano. O “Q” do nome refere-se à mais alta licença para liberação de informações confidenciais em Washington.
Elites democratas
“Q” afirmava em suas postagens que o presidente norte-americano Donald Trump teria uma incumbência secreta: destruir as “elites mundiais” e salvar o mundo de uma suposta “conspiração”.
Pessoas como o bilionário George Soros, além dos políticos norte-americanos Hillary Clinton e Barack Obama, entre outros democratas, seriam parte de uma operação de pedofilia tocada a partir do porão de uma pizzaria em Washington.
O suposto “escândalo” recebeu a alcunha de “Pizzagate”. Não são citados figurões republicanos como participantes na teoria conspiratória divulgada no fórum norte-americano.
O FBI, serviço de investigação do governo norte-americano, classificou o grupo como “ameaça de terrorismo doméstico” em 2019, conforme revelou à época o Yahoo! News. Os responsáveis pela busca descobriram, entre outras coisas, que o restaurante em questão sequer tem um porão.
“O FBI avalia que essas teorias da conspiração provavelmente irão emergir, se espalhar e evoluir no mercado moderno de informação. Em algum momento, levará grupos e indivíduos extremistas a realizar ataques criminosos ou violentos”, diz o documento.
Os investigadores já previam um aumento do espaço dedicado a essa teoria, sobretudo ao longo do ciclo eleitoral de 2020. É o que também avalia a consultoria e o Twitter, que no dia 21 de julho removeu sete mil contas relacionadas à história.
Culpa da ‘mídia tradicional’
Agora, diz o relatório, conspirações semelhantes têm surgido na Europa. O primeiro passo foi espalhar o suposto “pizzagate” em blogs nesses países. Na Itália, uma postagem de 2016 dizia que “esse escândalo satânico-pedófilo está sendo reprimido e enterrado na imprensa norte-americana”.
A partir do final de 2019, contas para “patriotas que não falam inglês” começam a pipocar nas redes sociais. As mais relevantes, diz o relatório, reúnem cerca de 550 mil seguidores do QAnon.
Em todas elas, um chamado para suposto “conluio” de “satanistas” e da “família Rothschild” com a mídia tradicional, alertando os visitantes de que estariam sendo “enganados”.
Em cada um desses países, imputa-se a suposta participação no esquema a personalidades locais. Na França, é o presidente Emmanuel Macron. Na Alemanha, a chanceler Angela Merkel e, na Itália, o premiê Giuseppe Conte.
Já as lideranças mais alinhadas ao populismo de extrema direita recebem tratamento laudatório. Não faltam elogios ao premiê britânico Boris Johnson, ao presidente russo Vladimir Putin e ao líder direitista italiano Matteo Salvini.
Os três estariam “trabalhando para nos libertar das elites diabólicas que dominam a União Europeia”.
Pandemia como conspiração
Com a pandemia, “último ataque desesperado em nossa liberdade concedida por Deus”, a culpa agora seria da vacina, que “patrocinada pelo inimigo” Bill Gates. O distanciamento social seria uma “tática de tortura”.
O vírus teria sido criado pelas “elites diabólicas”, mas a cura estaria em suplementos de vitamina C e goles de água quente.
A tática mais recente seria o aliciamento de celebridades, como o cantor britânico Robin Williams, famoso pela sua carreira em boy bands dos anos 1990. Também surge um movimento para levar aqueles que esposam da teoria conspiratória aos Parlamentos locais.
Também em sites franceses que apoiam o uso da cloroquina como remédio para a Covid-19, postagens sobre “Q” tem se tornado cada vez mais comuns.
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