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sexta-feira, 11 de setembro de 2020

Com empresa bilionária, militares financiam atrocidades em Mianmar

Documentos divulgados pela Anistia Internacional na quinta-feira (10) revelam que uma empresa em Mianmar desviou o equivalente a cerca de US$ 18 bilhões (ou 107 bilhões de kyat, moeda local) em dividendos para militares birmaneses.

Os envolvidos nas atrocidades contra a minoria muçulmana rohingya e outros grupos étnicos que vivem no país também se beneficiaram com o esquema.

A empresa, registrada como MEHL (Seguros Econômicos Limitados de Mianmar, em tradução livre), tem todo o seu Conselho formado por altos oficiais militares da ativa e aposentados. A organização foi tem sede em Rangun, antiga capital e maior cidade birmanesa.

Com empresa bilionária, militares financiam atrocidades em Mianmar
Comunidade rohingya aguarda para receber atendimento dos Médicos Sem Fronteiras no estado de Rakhine, em Mianmar, em setembro de 2013 (Foto: União Europeia/ECHO/Mathias Eick)

A MEHL é uma das principais fontes de receita para os militares birmaneses, além do orçamento oficial, apontou o relatório. O que não está claro é qual seria o serviço prestado às Forças Armadas do país.

Divisões de combate do estado de Rakhine, onde o conflito com os insurgentes da etnia arakan se intensificou nos últimos anos, coordenam cerca de um terço da organização. O comandante militar de Mianmar, general Min Aung Hlaing, é um dos mais beneficiados pelos desvios.

Min é acusado de liderar uma campanha contra os rohingya no estado, o mais pobre do país. Os rohingya são perseguidos pelo Exército e pelos insurgentes, que veem a população como imigrantes ilegais de Bangladesh.

De acordo com a Anistia Internacional, Min possuía cinco mil ações e recebeu cerca de US$ 250 mil. A ONU (Organização das Nações Unidas) já pediu a investigação e o julgamento do general.

“Os perpetradores de algumas das atrocidades e piores violações dos direitos humanos na história recente de Mianmar estão entre aqueles que se beneficiam das atividades comerciais do MEHL”, disse o chefe de Segurança da Anistia, Mark Dummett.

Os militares investigados não comentaram os documentos vazados, mas negaram os relatos de violência contra o rohingya em Rakhine.

MEHL no exterior

A corporação liderada pelos militares em Mianmar possui influência em mineração, manufatura e bancos na China, Japão, Coreia do Sul e Singapura. As japonesas Kirin Holdins e INNO Group e a exportadora sul-coreana Pan-Pacific estão entre as empresas mais próximas.

Os documentos vazados mostram que a MEHL pertence a mais de 381,6 mil acionistas individuais – todos militares – e pouco mais de 1,8 mil institucionais, como comandos regionais, divisões, batalhões, tropas e associações e de veteranos de guerra.

Após as acusações, a Pan-Pacific afirmou que encerrará a parceria comercial e a japonesa Kirin confirmou que reverá a sua relação com a MEHL. Depois de reivindicar reformas, o Ministério dos Transportes e Comunicações de Mianmar acusou a Anistia de espalhar “notícias falsas”, registrou a Al-Jazeera.

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