Documentos divulgados pela Anistia Internacional na quinta-feira (10) revelam que uma empresa em Mianmar desviou o equivalente a cerca de US$ 18 bilhões (ou 107 bilhões de kyat, moeda local) em dividendos para militares birmaneses.
Os envolvidos nas atrocidades contra a minoria muçulmana rohingya e outros grupos étnicos que vivem no país também se beneficiaram com o esquema.
A empresa, registrada como MEHL (Seguros Econômicos Limitados de Mianmar, em tradução livre), tem todo o seu Conselho formado por altos oficiais militares da ativa e aposentados. A organização foi tem sede em Rangun, antiga capital e maior cidade birmanesa.
A MEHL é uma das principais fontes de receita para os militares birmaneses, além do orçamento oficial, apontou o relatório. O que não está claro é qual seria o serviço prestado às Forças Armadas do país.
Divisões de combate do estado de Rakhine, onde o conflito com os insurgentes da etnia arakan se intensificou nos últimos anos, coordenam cerca de um terço da organização. O comandante militar de Mianmar, general Min Aung Hlaing, é um dos mais beneficiados pelos desvios.
Min é acusado de liderar uma campanha contra os rohingya no estado, o mais pobre do país. Os rohingya são perseguidos pelo Exército e pelos insurgentes, que veem a população como imigrantes ilegais de Bangladesh.
De acordo com a Anistia Internacional, Min possuía cinco mil ações e recebeu cerca de US$ 250 mil. A ONU (Organização das Nações Unidas) já pediu a investigação e o julgamento do general.
“Os perpetradores de algumas das atrocidades e piores violações dos direitos humanos na história recente de Mianmar estão entre aqueles que se beneficiam das atividades comerciais do MEHL”, disse o chefe de Segurança da Anistia, Mark Dummett.
Os militares investigados não comentaram os documentos vazados, mas negaram os relatos de violência contra o rohingya em Rakhine.
MEHL no exterior
A corporação liderada pelos militares em Mianmar possui influência em mineração, manufatura e bancos na China, Japão, Coreia do Sul e Singapura. As japonesas Kirin Holdins e INNO Group e a exportadora sul-coreana Pan-Pacific estão entre as empresas mais próximas.
Os documentos vazados mostram que a MEHL pertence a mais de 381,6 mil acionistas individuais – todos militares – e pouco mais de 1,8 mil institucionais, como comandos regionais, divisões, batalhões, tropas e associações e de veteranos de guerra.
Após as acusações, a Pan-Pacific afirmou que encerrará a parceria comercial e a japonesa Kirin confirmou que reverá a sua relação com a MEHL. Depois de reivindicar reformas, o Ministério dos Transportes e Comunicações de Mianmar acusou a Anistia de espalhar “notícias falsas”, registrou a Al-Jazeera.
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