O governo da Rússia anunciou na segunda-feira (1) a expulsão do segundo jornalista estrangeiro em num prazo de dois meses. O holandês Tom Vennink, do jornal de Volkskrant, teve seu visto de residência revogado e recebeu o prazo de três dias para deixar o país, segundo o jornal independente The Moscow Times.
A decisão ocorre praticamente dois meses após a expulsão da jornalista da rede britânica BBC Sarah Rainsford, cujo visto não foi renovado. Na ocasião, o Kremlin justificou a decisão como uma retaliação, alegando que Londres também se recusou a conceder vistos a jornalistas russos.
No caso de Vennink, o governo russo atrela a expulsão a duas multas administrativas que ele recebeu nos últimos anos. Em 2019, foi multado por não se registrar na autoridade de migração a tempo. No ano passado, uma multa foi aplicada por ele ter visitado a zona de segurança de fronteira restrita de Chukotka, no extremo nordeste da Sibéria.
O jornal holandês do qual Vennink é correspondente classificou a decisão como incomum. “É um mistério para nós por que o governo russo decidiu isso agora”, disse o editor-chefe Pieter Klok. “Tais infrações administrativas nunca foram um obstáculo para a extensão das autorizações de residência em anos anteriores”, acrescentou.
Informado na quarta-feira (3) sobre a decisão, o governo holandês também se manifestou sobre o caso. E reprovou a posição de Moscou. “Não é aceitável para a Holanda que um jornalista tenha de deixar um país contra sua vontade”, afirmou o ministro das Relações Exteriores da Holanda Ben Knapen, que destacou as tentativas infrutíferas de solucionar a situação.
Vennink, que trabalha como correspondente o de Volkskrant em Moscou desde 2015, não tem permissão para retornar à Rússia antes de janeiro de 2025.
Por que isso importa?
Jornalistas e veículos de imprensa críticos ao governo da Rússia são alvo de uma perseguição que tem o respaldo da Justiça do país. Em junho, Ivan Pavlov, ex-diretor da Fundação Anticorrupção de Alexei Navalny, entrou para a lista de criminosos procurados do país, sem que o Ministério do Interior tenha especificado o crime que ele cometeu.
Em julho, após a publicação de reportagens desfavoráveis ao presidente Vladimir Putin, o site The Insider e cinco jornalistas do veículo foram listados como “agentes estrangeiros”. A medida seria um ato de vingança contra a mídia independente por ajudar a revelar o papel do Kremlin nos envenenamentos do ex-espião Sergei Skripal, bem como outras tentativas de assassinato pela FSB (Agência Nacional de Segurança, da sigla em inglês).
A designação de “agente estrangeiro” carrega conotações negativas da era soviética e serve para rotular o que seriam organizações envolvidas em atividades políticas financiadas pelo exterior. A classificação acaba por afastar potenciais parceiros e anunciantes e muitas vezes sufoca financeiramente os veículos, obrigados ainda a fornecer ao governo relatórios detalhados sobre suas finanças e atividades.
Jornalistas independentes ou representantes de veículos de mídia que tenham se esquivado das exigências três vezes após terem o nome incluído na lista podem pegar pena de até dois anos de prisão, de acordo com o código penal russo.
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