Um diplomata russo e suposto agente da FSB (Agência Nacional de Segurança da Rússia, da sigla em inglês) foi encontrado morto pela polícia local em frente à embaixada do país em Berlim, no dia 19 de outubro. A informação só se tornou pública e foi divulgada pela imprensa alemã nesta sexta-feira (5), de acordo com a Radio Free Europe (RFE).
Um porta-voz do Ministério de Relações Externas da Alemanha disse que o caso era “de conhecimento” do órgão governamental, porém, não trouxe mais informações.
A revista alemã Der Spiegel relatou que a suspeita é de que a vítima, um subsecretário do consulado de 35 anos, tenha caído do andar superior do prédio, localizado no centro de Berlim a poucos metros do Portão de Brandenburgo.
Ouvida pela Der Spiegel, a embaixada russa classificou a morte como um “trágico acidente” e alegou “razões éticas” para não comentar o caso, além de não ter concordado com a autópsia do corpo. Já os promotores alemães não puderam realizar uma investigação mais minuciosa devido ao status diplomático da vítima.
Segundo consta em uma lista oficial de diplomatas, o homem foi credenciado como segundo secretário da embaixada em 2019. No entanto, oficiais de segurança alemães suspeitam que ele era um agente da FSB usando cobertura diplomática para espionar a Alemanha.
Os veículos investigativos The Insider, da Rússia, e o Bellingcat, da Holanda, sustentam que a vítima seria Kirill Zhalo, filho do tenente-general Aleksei Zhalo, chefe do Gabinete de Proteção ao Sistema Constitucional da FSB.
Zhalo foi vinculado como suspeito pelos serviços de inteligência ocidentais ao assassinato ocorrido em 2019 de Zelimkhan Khangoshvili, um georgiano-checheno que vivia em exílio. O crime ocorreu em um parque de Berlim.O suspeito pelo homicídio, o russo Vadim Krasikov, de 55 anos, será julgado pelo crime que a Procuradoria alemã acredita ter sido ordenado por Moscou.
“Isso pode ser uma coincidência. Mas é importante notar que as autoridades alemãs acreditam que o assassino recebeu apoio em Berlim – quando ele chegou para o ataque, ele tinha uma e-bike e scooter prontas, e uma rota de fuga planejado para ele”, escreveu nesta sexta (5) em sua conta no Twitter o jornalista investigativo Christo Grozev, que atua no Bellingcat.
Granted, this might be a coincidence. But it’s of note that German authorities believe the killer received support on the ground in Berlin – by the time he arrived for the hit, he had an e-bike and scooter ready, and an escape route planned out for him.
— Christo Grozev (@christogrozev) November 5, 2021
Por que isso importa?
As atividades de espionagem russas na Alemanha aumentaram muito nos últimos anos, atingindo níveis que remetem aos tempos de Guerra Fria. Em junho, o diretor da Agência para a Proteção da Constituição, Thomas Haldenwang, afirmou que a Rússia possui enorme interesse em Berlim, sobretudo nas “áreas políticas”.
A Alemanha é o país com maiores população e economia dentro da União Europeia (UE), o que a torna forte influenciadora no bloco, inclusive em questões referentes a Moscou. Haldenwang diz que há um “grande número de agentes” russos na Alemanha, quase sempre próximos a pessoas poderosas. “A abordagem está cada vez mais dura e implacável”, diz ele.
Alguns casos ligados à espionagem russa na Alemanha vieram a público nos últimos meses, como um ciberataque contra 38 parlamentares alemães em março. A invasão faria parte da campanha “Ghostwriter”, atribuída a hackers ligados ao GRU. O alvo eram políticos do SPD (Partido Social Democrata) e da CDU (União Democrática Cristã), esta segunda a sigla da chanceler Angela Merkel.
A relação diplomática entre os dois países é ruim em 2014, quando da anexação da região da Crimeia, na Ucrânia, pela Rússia. Desde então, a UE proibiu a venda para empresas russas de bens de dupla utilização, aqueles que poderiam também ter uso militar.
Em 2020, Berlim se envolveu em mais uma crise diplomática com Moscou após o o envenenamento do opositor ao Kremlin Alexei Navalny, em agosto, que que aliados da vítima atribuem a Vladimir Putin. Ele se recuperou em Berlim antes de retornar à Rússia, onde está preso desde fevereiro de 2021.
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