Um ataque jihadista contra um posto policial na cidade de Inata em Burkina Faso no domingo (14) deixou pelo menos 19 oficiais mortos, além de um civil, relatou o Ministério de Segurança do país. As informações são do jornal indiano The Hindu.
“Foi um ataque covarde e bárbaro, o qual nossas forças, com muita dignidade e devoção, mantiveram sua posição durante os combates”, declarou à televisão estatal o ministro da Segurança, Maxime Kone. A ofensiva ocorreu na província de Soum, região com forte presença de insurgentes ligados a dois grandes grupos terroristas, a Al-Qaeda e o Estado Islâmico (EI).
A autoridade contou à agência Associated Press (AP) que a contagem de vítimas é provisória e deverá aumentar. Um soldado ouvido pela reportagem sob condição de anonimato revelou ter visto muitos corpos ao sobrevoar a área em um helicóptero das forças locais.
Após meses de trégua e relativa calmaria por conta de negociações entre o governo e algumas organizações extremistas em torno da eleição presidencial do ano passado, a província de Soum, um dos epicentros da violência, registrou aumento nos conflitos nas últimas semanas.
Desde o mês passado tem havido um ressurgimento de postos de controle comandados por rebeldes, que forçam as pessoas a mostrarem identificação e, às vezes, as sequestram, conforme relatou um funcionário do governo local que pediu para não ter sua identidade revelada.
O ataque de domingo (14) foi um golpe significativo, já que o destacamento em Inata foi o único que se manteve de pé ao longo dos dois últimos anos, enquanto tropas nas bases vizinhas recuaram quando a violência aumentou, disse Heni Nsaibia, pesquisador ligado ao Projeto de Dados de Localização e Eventos de Conflitos Armados.
“Infelizmente esta posição de dois anos pode ter chegado ao fim, a menos que medidas sejam tomadas. Acho que esses ataques regulares em grande escala, que ocorrem semanalmente, são um indicativo da árdua batalha que o país está enfrentando para recuperar terreno e estabilizar uma situação de segurança muito frágil”, disse ele.
No começo de novembro, um ataque realizado por homens fortemente armados terminou com a morte de cinco oficiais de polícia no norte do país. Nenhum grupo assumiu a autoria do ataque.
Soldados passam fome
Um relatório militar divulgado na sexta-feira (12) detalhou que o destacamento em Inata ficou sem suprimentos por duas semanas e o contingente quase morreu de fome, tendo que matar animais nos arredores da base para sobreviver.
O enfrentamento à violência cometidas por grupos islâmicos em Burkina Faso é feito por forças de segurança mal equipadas e mal treinadas. Na semana passada, na província de Seno, no Sahel, o campo de refugiados de Goudoubou, que abrigava cerca de 13 mil malianos, foi forçado a fechar após uma série de violações de segurança, segundo a ONU (Organização das Nações Unidas).
Por que isso importa?
Burkina Faso convive desde 2015 com a violência de grupos ligados à Al-Qaeda e ao EI, insurgência que levou a um conflito com as forças de segurança e desencadeou uma crise humanitária. Grupos armados lançam ataques ao exército e a civis, desafiando também a presença de milhares de tropas francesas e de forças internacionais.
Os ataques costumavam se concentrar no norte e no leste do país, mas agora estão se alastrando por todo o país. Pelo menos três ataques com explosivos ocorreram no oeste e no sudoeste de Burkina Faso no final de agosto, incluindo o primeiro com uma vítima fatal na região de Cascades.
O pior ataque jihadista já registrado em Burkina Faso ocorreu em 5 de junho, quando insurgentes incendiaram casas e atiraram em civis ao invadirem a vila de Solhan, no norte. Na ocasião, 160 pessoas morreram.
Desde que o conflito teve início, os ataques de ambas organizações extremistas já forçaram mais de 1,4 milhão de pessoas a fugirem de suas casas. Estima-se que 4,8 milhões de pessoas sofram de insegurança alimentar, com 2,9 milhões em situação de insegurança alimentar aguda.
Os grupos humanitários no país calculam que US$ 607 milhões seriam necessários para controlar a situação até o final de 2021. Apenas 24% desse valor já foi arrecadado, de acordo com a ONU (Organização das Nações Unidas).
No Brasil
Casos mostram que o Brasil é um “porto seguro” para extremistas. Em dezembro de 2013, um levantamento do site The Brazil Business indicava a presença de ao menos sete organizações terroristas no Brasil: Al Qaeda, Jihad Media Battalion, Hezbollah, Hamas, Jihad Islâmica, Al-Gama’a Al-Islamiyya e Grupo Combatente Islâmico Marroquino.
Em 2001, uma investigação da revista VEJA mostrou que 20 membros terroristas de Al-Qaeda, Hamas e Hezbollah viviam no país, disseminando propaganda terrorista, coletando dinheiro, recrutando novos membros e planejando atos violentos.
Em 2016, duas semanas antes do início dos Jogos Olímpicos no Rio, a PF prendeu um grupo jihadista islâmico que planejava atentados semelhantes aos dos Jogos de Munique em 1972. Dez suspeitos de serem aliados ao Estado Islâmico foram presos e dois fugiram. Saiba mais.
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