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sexta-feira, 24 de setembro de 2021

Taleban anuncia que o Afeganistão retomará lei de execuções e amputações

O Taleban anunciou que irá trazer de volta sua mais cruel interpretação da lei baseada no Alcorão, em um regime que se desenha como um revival da antiga versão da justiça islâmica. O veterano líder fundamentalista afegão, Nooruddin Turabi, disse em entrevista à agência Associated Press que o grupo irá retomar a prática de execuções e amputações de mãos como castigo a delinquentes. A diferença é que dessa vez não será em público, como em um passado nem tão distante.

No primeiro governo fundamentalista no Afeganistão, no período de 1996 a 2001, Turabi era conhecido pela postura linha-dura, sendo o principal executor da lei islâmica em sua mais violenta versão. Agora, sob o novo comando, ele é o responsável pelas prisões. O mulá figura entre outros vários líderes do Taleban em uma lista de sanções da ONU (Organização das Nações Unidas).

“Ninguém vai nos dizer quais devem ser nossas leis. Seguiremos o Islã e faremos nossas leis sobre o Alcorão”, disse, referindo-se ao livro sagrado do islamismo.

Um jovem testemunha durante um julgamento criminal público em um tribunal em Asadabad, Afeganistão (Foto: S.K. Vemmer/Wikimedia Commons)

A medida escancara a inabalável faceta conservadora dos talibãs, e parece enterrar de vez a prometida liberdade de expressão anunciada pelo grupo islâmico ao tomar o poder central do país há pouco mais de um mês. Mesmo que em 2021 eles sejam vistos de um jeito mais “moderno”, fazendo uso de tecnologia, como vídeo e telefones celulares.

Sobre essa versão mais conectada ao mundo atual,

Turabi sugeriu que o Taleban tem na mídia uma forma de divulgar sua mensagem. “Agora sabemos que, em vez de chegar a apenas centenas, podemos chegar a milhões”, disse ele, acrescentando que, se as punições forem tornadas públicas, as pessoas poderão ter permissão para gravar vídeos ou tirar fotos.

As punições

No currículo de Turabi enquanto proeminente talibã, constam cargos de ministro da Justiça e chefe do chamado Ministério de Propagação da Virtude e Prevenção do Vício – que cumpria uma função de “polícia religiosa” – durante o regime vigente entre meados dos anos de 1990 e começo dos 2000. À época, as punições ocorriam no estádio esportivo de Cabul ou no terreno da mesquita Eid Gah, frequentada por centenas de fiéis.

O destino de assassinos condenados geralmente era morrer com um tiro na cabeça, disparado pela família da vítima. Havia a opção de aceitar “dinheiro de sangue” para salvar o sentenciado da morte. As amputações de mão recaíam sobre ladrões. Já aqueles que cometiam assaltos em estradas tinham uma mão e um pé amputados.

A mudança significativa, segundo Turabi, será a presença de mulheres entre os juízes que julgarão os casos, porém, a base das leis do Afeganistão será o Alcorão. “Cortar as mãos é necessário para a segurança”, disse ele.

“Somos mudados em relação ao passado”, disse ele.

Mesmo enquanto os residentes de Cabul expressam medo sobre seus novos governantes do Taleban, alguns reconhecem com relutância que a capital já se tornou mais segura apenas no mês passado. Antes da tomada do Taleban, bandos de ladrões vagavam pelas ruas e o crime implacável expulsou a maioria das pessoas das ruas depois de escurecer.

“Não é bom ver essas pessoas sendo envergonhadas em público, mas impede os criminosos porque, quando as pessoas veem, pensam: ‘Não quero que seja eu’”, disse Amaan, um lojista no centro de Cabul. Ele pediu para ser identificado por apenas um nome.

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