Em 2017, o exército anunciou ter derrotado o Estado Islâmico (EI) no Iraque, com a retomada de todos os territórios dominados pela milícia desde 2014. O grupo, que já chegou a controlar um terço do território iraquiano, hoje mantém apenas células adormecidas que lançam ataques esporádicos. Derrotados, os extremistas deixaram de herança uma droga que tem como principal ponto de trânsito a província de Al-Anbar, sobretudo a cidade de Ramadi, na região central do país. E que virou um enorme problema para as autoridades, segundo a rede espanhola Atalayar.
O captagon, tecnicamente conhecido como cloridrato de fenetilina, ganhou a pecha de “anfetamina que alimenta a guerra da Síria”, além do apelido “droga dos jihadistas”. O estimulante, de uso comercial proibido, é usado pelo EI sobretudo no Iraque e na Síria e por militantes de outras organizações terroristas. A droga reduz a sensação de medo, ajuda a manter os combatentes acordados por longos períodos e, assim, melhora o desempenho em conflitos.
O estimulante é produzido principalmente na Síria e entra no Iraque pela longa e pouco policiada fronteira. Said, que é capitão de polícia em Ramadi, diz que, na última apreensão, recolheu centenas de comprimidos escondidos nos pneus de um caminhão e dentro de um barril de gasolina. Seriam vendidos a usuários locais.
“Começamos nossa jornada aqui porque capturamos dois ‘camelos’ (transportadores da droga). Além disso, damos às pessoas nosso contato e pedimos que nos liguem se tiverem alguma informação ou se perceberem algo suspeito”, disse ele, que realiza uma campanha para informar especialmente os mecânicos da área, devido ao habitual uso de veículos para esconder a droga.
O captagon tornou-se um enorme problema na cidade, que ainda sofre com as heranças da guerra, como desemprego crescente e falta de serviços básicos. Para muitos, a droga é uma forma de fugir dos problemas, ou mesmo de suportar a dura rotina. Para outros, a venda da droga é a única forma de sustento familiar.
“Tá tudo errado aqui. Condições de vida, trabalho, segurança… A gente não se sente seguro”, diz um jovem que se identifica apenas como Ahmed, de 23 anos. “E, se você encontrar trabalho, vai trabalhar muitas horas sem receber bem”.
Combate às drogas
Conforme relatório deste ano do UNODC (Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime), em 2019 a Arábia Saudita apreendeu 146 milhões de pílulas de anfetaminas, além de 23 milhões apreendidas pela Jordânia. A maior parte da produção provém da Síria e da própria Jordânia, dois países fronteiriços com o Iraque. Em solo iraquiano foram apreendidos 600 mil comprimidos.
Para Nuriddin al-Hamdani, ativista da ONG Paz Para Ramadi, um dos problemas do Iraque ao lidar com o tráfico é o mesmo de muitas nações ocidentais. “Qualquer pessoa que possua drogas aqui é considerada criminosa”, diz ele. “O que queremos alcançar com a nossa campanha é que os consumidores não sejam tratados como criminosos. Em vez disso, que tenham acesso a um tratamento médico que os ajude a se desintoxicar”.
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