Sob a justificativa de fraude no sistema de votação online, candidatos derrotados nas eleições parlamentares na Rússia anunciaram nesta quinta-feira (23) que tentarão reverter judicialmente os resultados, além de promover pressão pública. Eles pedem que os eleitores se reúnam em Moscou neste sábado (25) para engrossar o coro pela suspeição da apuração na capital. As informações são da agência Reuters.
A coalizão formada é de maioria é do Partido Comunista, única sigla a representar alguma ameaça contra o governista Rússia Unida – que ganhou maioria parlamentar no pleito –, atingindo cerca de 19% dos votos.
Os comunistas reclamam que vários de seus candidatos lideravam as disputas e pareciam estar a um passo da vitória quando, de repente, perderam posições para a sigla governista Rússia Unida à medida que os resultados do sistema online começaram a ser divulgados.
Em uma declaração postada no Facebook na quinta, a coalizão reivindica que as autoridades anulem os votos computados pela votação eletrônica na capital, e pede que o sistema seja eliminado de futuras eleições.
“Entre 17 e 19 de setembro, milhões de cidadãos do nosso país tiveram seus votos roubados. Portanto, nós, candidatos de várias forças políticas, formamos um comitê para anular os resultados do voto eletrônico”, disse o comunicado.
Na segunda-feira (20), o secretário do Comitê Central do Partido Comunista russo, Sergei Obukhovov, declarou que “haverá pelo menos sete impostores de Moscou na Duma Estatal”.
As autoridades de Moscou recusaram os pedidos do partido para realizar protestos neste fim de semana, alegando restrições sanitárias em decorrência da pandemia de Covid-19. Ao mesmo tempo, a comissão eleitoral central afirma que a votação foi “excepcionalmente limpa e transparente”, e que irá aprovar formalmente os resultados nesta sexta-feira (24). Já o Ministério do Interior da Rússia declarou à imprensa que não registrou nenhuma “violação significativa”.
Além de candidatos do Partido Comunista, a declaração foi assinada por postulantes aos cargos públicos do partido liberal Yabloko, entre outros. Pelo menos dois deles disseram que a polícia bateu em suas casas para avisá-los sobre possíveis consequências de perturbar a ordem pública.
Fortes indícios de fraudes
Novidade no país, o método de votação online foi promovido na Rússia como um “
um sistema transparente baseado em cadeias de bloqueio”, e funcionários eleitorais rejeitam qualquer possibilidade de fraude. No entanto, críticos afirmam que, pelo menos em Moscou, o pleito eletrônico acabou sendo uma “caixa preta” com acesso limitado aos dados, mesmo para os servidores que atuaram na comissão eleitoral.Três membros de uma comissão eleitoral criada registrar os votos da capital disseram à reportagem da Reuters que os laptops destinados ao monitoramento do processo de votação foram desligados do sistema quando deveria iniciar a contagem dos votos.
Um site criado para o monitoramento público da votação online também parou de atualizar os dados dos votos emitidos durante a noite após a eleição.
O pleito também registrou denúncias de ataques cibernéticos de países estrangeiros contra o sistema online de votação.
Por que isso importa?
Durante a corrida eleitoral, o Kremlin impôs uma forte repressão contra figuras políticas da oposição e a mídia independente, em meio a um processo de perda de popularidade do Rússia Unida e de Putin.
O governo chegou a obrigar Apple e Google a retirarem de suas lojas virtuais um aplicativo criado por aliados do opositor Alexei Navalny, sob risco de aplicação de uma multa às duas big techs. O opositor defendia uma estratégia de “votação inteligente”, que consistia em incentivar seus seguidores a apoiarem o candidato com melhor chance de derrotar o Rússia Unida em suas regiões.
Navalny é o principal crítico do governo Putin e está preso desde janeiro, quando retornou da Alemanha após cinco meses de recuperação médica. Ele foi envenenado por novichok, um agente químico que afeta o sistema nervoso e foi desenvolvido pela ex-União Soviética nos tempos da Guerra Fria. O oposicionista acusa Moscou de tentar matá-lo.
Em fevereiro, um tribunal condenou Navalny a dois anos e meio de prisão por violar uma sentença suspensa de 2014, quando foi acusado de fraude. Promotores alegaram que ele não se apresentou regularmente à polícia em 2020, justamente no período em que estava em coma pela dose tóxica.
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