Veículos de comunicação em língua chinesa na Austrália têm publicado notícias que passam por censura prévia de tradutores da China, de modo a evitar repercussões negativas em Beijing. A constatação surge em um relatório do think tank australiano Lowy Institute.
Segundo o documento, uma equipe na China pratica autocensura ao traduzir para o mandarim notícias tiradas da imprensa australiana e posteriormente publicadas na internet e em jornais comunitários. A prática ocorre para evitar eventuais retaliações de autoridades chinesas quanto a conteúdos que possam soar desfavoráveis ao governo local.
“Os meios de comunicação em língua chinesa na Austrália são mais propensos a apoiar a política do governo australiano do que a política do governo chinês ao informar sobre as tensões na relação Austrália-China, mas editam para amenizar ou remover as críticas à China e ao governo chinês”, diz o relatório.
Os editores também estão sujeitos a sofrer um prejuízo financeiro caso o conteúdo acabe bloqueado nas plataformas de mídia social chinesas, aponta o relatório financiado pelo governo australiano. A distribuição para a China continental ocorre principalmente via redes sociais chinesas, como o WeChat, aplicativos de notícias e sites.
A autora do relatório, a acadêmica Fan Yang, explicou que a mídia chinesa na Austrália tem sido observada por supostas ligações com o Partido Comunista Chinês (PCC). Os australianos estão atentos à influência do governo chinês no país, acrescentou ela.
Autocensura previne punições
O estudo analisou 500 notícias e realizou entrevistas com profissionais de mídia em língua chinesa, e revelou que a autocensura dos veículos não significa que eles estejam politicamente alinhados com a China, mas sim, temerosos com possíveis punições.
“Os profissionais da mídia chinesa estão preocupados com as possíveis penalidades que Beijing pode impor a seus funcionários, suas famílias e à receita de sua empresa de mídia”, disse o relatório.
A população de australianos com ancestralidade chinesa é de 1,2 milhão. O Lowy Institute, em outro levantamento realizado, apontou que três quartos dos imigrantes têm o hábito de ler notícias na internet em chinês, enquanto 600 mil se informa por jornais em língua nativa.
De acordo com o think tank australiano, o objetivo principal da tradução de conteúdo de veículos australianos é ajudar os imigrantes chineses a se integrarem à sociedade australiana.
Boa parte dos profissionais de mídia ouvidos para a elaboração do relatório afirmaram que os tradutores na China “decidem o que é interessante para o público migrante chinês”. O estudo examinou três veículos de comunicação, incluindo dois jornais diários com circulação de cerca de 20 mil e um portal de notícias que usa as plataformas de mídia social chinesa Weibo e WeChat para atingir um público de 600 mil.
As traduções de matérias publicadas pelos principais meios de comunicação australianos representaram 97,8% do conteúdo, que aborda principalmente os pontos de vista da política australiana, com críticas ao governo chinês devidamente removidas.
Entre as conclusões do relatório, devido às barreiras do idioma, a mídia em chinês não está sujeita ao mesmo nível de monitoramento e regulamentação que a mídia em inglês na Austrália. “Como resultado, as plataformas de mídia em língua chinesa são capazes de produzir e redirecionar uma quantidade substancial de conteúdo fora do alcance dos reguladores da mídia australiana, políticos, órgãos governamentais e meios de comunicação convencionais, bem como a comunidade australiana mais ampla, que não pode ler”, descreve o Lowy Institute.
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