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sexta-feira, 2 de julho de 2021

Hip-hop deixa a contestação de lado para homenagear o Partido Comunista Chinês

O centenário do Parido Comunista Chinês (PCC), celebrado na quinta-feira (1), ganhou uma homenagem peculiar. Cem rappers chineses se reuniram para gravar um rap com mais de 15 minutos que exalta a sigla e o país, num movimento que vai na contramão da ação contestatória da cena hip hop no resto do mundo.

“Da extrema pobreza ao radiante, não tenho arrependimento de ter nascido na China. Novos trens de alta velocidade, novos portos, novos looks e uma nova história. Vai, China! Vamos rejuvenescer a grande nação”, diz uma parte da música intitulada “100%”, de acordo com o site Quartz.

“Os rappers entenderam que têm de elogiar o partido de vez em quando se quiserem continuar atingindo o grande público”, disse Nathanel Amar, diretor do Centro Francês de Pesquisa sobre a China Contemporânea em Taipei e estudioso da música popular chinesa.

O rap já foi uma música de protesto na China, como no resto do planeta. Era um gênero limitado ao submundo, com letras que contestavam o funcionalismo público, a pobreza extrema e outras mazelas chinesas. A mão de ferro de Xi Jinping, porém, silenciou os artistas. Chen Haoran e mais quatro de seus parceiros na banda In3 chegaram a ser detidos pelo governo e passaram cinco dias encarcerados em 2015.

Grupo de hip-hop CD Rev marcou presença na música em homenagem ao centenário do Partido Comunista Chinês (Foto: Divulgação)

De lá para cá, o rap entrou no radar do PCC e passou a ser vigiado de perto. O protesto contra os problemas sociais chineses sumiu das letras, e composições antigas entraram na lista negra dos vetos culturais. A repressão e a consequente mudança de foco das letras, porém, não reduziram a popularidade dos rappers, cujos vídeos geram bilhões de visualizações sobretudo na rede social chinesa Weibo.

“Em vez de banir completamente o gênero, eles [as autoridades chinesas] tentaram cooptar os rappers para disseminar uma ‘energia positiva‘”, afirmou Amar, citando uma expressão usada pelo governo Xi Jinping para se referir a tudo que é positivo à imagem do país e do partido.

Críticas

A homenagem ao partido em ritmo de rap, porém, não agradou a todos. Críticas surgiram nas redes sociais, taxando os rappers de hipócritas. “A música é uma manifestação confusa da comunidade hip-hop”, diz um usuário do Weibo. Outro crítico usou a expressão “100 escravos” para se referir à submissão forçada dos rappers ao PCC.

O produtor musical Li Haiqin, fundador da empresa de entretenimento Hip Hop Fusion, que lançou a música, saiu em defesa dos artistas. “Desde quando os rappers que amam seu país se tornam uma coisa vergonhosa?”, disse ele no WeChat.

Li explicou que a música seria lançada em 2019, para o 70º aniversário da fundação da República Popular da China. O projeto original envolvia 70 rappers, mas não foi concluído a tempo. Ele decidiu então retomar a produção da música para as comemorações do centenário do partido, com mais 30 artistas convidados.

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