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sexta-feira, 12 de março de 2021

Acusação de limpeza étnica acelera pressão sobre Ahmed na Etiópia

A acusação de “limpeza étnica” na Etiópia, por parte do secretário de Estado dos EUA, Anthony Blinken, na quarta-feira (10), aumentou a pressão sobre o primeiro-ministro etíope, Abiy Ahmed.

O político, que chegou a receber um Nobel da Paz em 2019 por encerrar o conflito de duas décadas com a Eritreia, agora é questionado pela onda de violência na região de Tigré, ao norte do país.

“Precisamos de forças que não colaborem para a limpeza étnica“, disse Blinken ao condenar a violência das forças da Eritreia na região, em pronunciamento ao Congresso norte-americano, em registro da CNN.

“Pedimos acesso humanitário irrestrito e uma investigação independente sobre os abusos relatados”. As denúncias envolvem assassinatos, agressão sexual, saques e deslocamento forçado de refugiados da Eritreia.

'Limpeza étnica' e saída de diplomata aceleram pressão sobre Ahmed na Etiópia
O primeiro-ministro da Etiópia, Abiy Ahmed, em reunião com líderes da Rússia, Moscou, outubro de 2019 (Foto: Divulgação/Kremlin)

Horas antes do pronunciamento de Blinken, o vice-chefe da embaixada da Etiópia nos EUA, Berhane Kidanemariam, deixou o cargo.

O diplomata alegou que Ahmed leva a Etiópia “por um caminho de destruição”. “Minha saída é um protesto à guerra genocida de Tigré”, registrou o portal africano Nation.

Kidanemariam ainda acusou o primeiro-ministro de “deturpar as condições locais” e “não esclarecer a presença de potências estrangeiras”. A Etiópia nega a presença de soldados da vizinha Eritreia na região, apesar das evidências de permanência das tropas.

Questionado, o secretário dos EUA afirmou que a saída das tropas eritreias é uma condição para uma pacificação com auxílio norte-americano. “É preciso haver um processo de reconciliação para que a Etiópia possa avançar politicamente”, disse.

Pressão política

Blinken e Ahmed já discutiram a crise em diversas reuniões por telefone desde que o novo governo dos EUA pediu um cessar-fogo pela primeira vez, em 28 de janeiro.

Apesar de ver o premiê africano como um aliado desde então, o tom mudou na quarta-feira. “Abiy foi um líder inspirador, mas agora precisa garantir que seu próprio povo em Tigré receba a proteção que precisa e merece”, disse Blinken.

“Entendo a preocupação sobre a TPLF [Frente de Libertação do Povo Tigré], mas a situação está inaceitável e deve mudar”. Inimiga da Eritreia, a TPLF discorda do acordo de paz forjado em 2019 pelo atual premiê etíope – e que lhe rendeu o Nobel em 2019 – após uma guerra na fronteira norte do país, onde fica Tigré.

Meses de tensão culminaram no início da disputa, quando o governo etíope determinou o uso da força em Tigré, em 11 de novembro, após lideranças regionais ignorarem a ordem federal de suspender eleições locais.

Em quatro meses, os confrontos já se espalham a outras regiões da Etiópia, há mais de 1,2 milhão de deslocados e quatro milhões passam fome.

O governo etíope rejeitou a alegação de Blinken sobre atos de limpeza étnica em Tigré. “É mera propaganda”, disse o porta-voz de Adis Abeba, Gizachew Muluneh, à AFP.

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