O TikTok foi o aplicativo mais baixado em todo o mundo em 2022, segundo levantamento publicado em janeiro deste ano pela revista Forbes. Foram 672 milhões de downloads da rede social originária da China, contra 648 milhões do Instagram, o segundo colocado. A popularidade, porém, não tem livrado a popular plataforma de vídeos, de propriedade da chinesa ByteDance, de um escrutínio de segurança que levou a proibições tanto nos EUA quanto na União Europeia (UE).
Nos últimos anos, o TikTok tornou-se suspeito de coleta excessiva de dados de usuários e entrou na mira de governos ocidentais. O desconfiança em torno do aplicativo está ligada à Lei de Inteligência Nacional da China, de 2017, segundo a qual empresas locais devem “apoiar, cooperar e colaborar com o trabalho de inteligência nacional”, o que teoricamente as obriga a atender a eventuais demandas do governo por informações cadastrais.
A suspeita foi ratificada no passado por um estudo divulgado pela Internet 2.0, uma empresa australiana especializada em cibersegurança. Segundo a análise, a plataforma chinesa é “excessivamente intrusiva” e realmente realiza a coleta “excessiva” de dados dos usuários, que são direcionados sem que o dono do celular perceba.
A localização física do usuário, por exemplo, não é fornecida à plataforma sem que ele a autorize. Porém, diferente da maioria dos aplicativos, o TikTok não aceita o não como resposta e insiste na consulta até que o aval seja dado pelo dono do equipamento.
A Internet 2.0 alega, ainda, que os servidores do aplicativo estão conectados a uma das gigantes chinesas nos serviços de nuvem e segurança cibernética, o que aproxima ainda mais a plataforma de vídeos dos tentáculos do Partido Comunista Chinês (PCC).
Conhecido como Douyin na China, o TikTok é capaz de verificar tanto o ID do dispositivo em que está hospedado quanto o disco rígido. Assim, de acordo com os especialistas australianos, ele é capaz de monitorar todos os outros aplicativos instalados no aparelho.
Diante desse cenário, o governo norte-americano emitiu uma ordem na última segunda-feira (27) para que a plataforma chinesa seja excluída, em até 30 dias, de todos os dispositivos e sistemas digitais de órgãos federais. O Canadá agiu da mesma forma, enquanto a Comissão Europeia, o Conselho Europeu e o Parlamento Europeu proibiram que seus funcionários o utilizem em aparelhos corporativos e pessoais.
“Suspeito que, à medida que o governo toma a medida significativa de dizer a todos os funcionários federais que eles não podem mais usar o TikTok em seus telefones de trabalho, muitos canadenses, de empresas a particulares, refletirão sobre a segurança de seus próprios dados e talvez façam escolhas”, disse o primeiro-ministro canadense Justin Trudeau, segundo o jornal Guardian.
Por motivos diversos, mais nações também baniram o uso da rede social. A Índia proibiu o TikTok em 2020, bem como outros aplicativos chineses, alegando questões de segurança, mesma razão alegada por Taiwan para vetar a plataforma de vídeos. No Afeganistão e no Paquistão, dois países muçulmanos, a proibição tem cunho religioso.
Nos EUA, a proibição havia sido votada pelo Congresso em dezembro e agora foi colocada em prática. Chris DeRusha, diretor federal de segurança da informação, afirmou que “essa orientação faz parte do compromisso contínuo do governo em proteger nossa infraestrutura digital e proteger a segurança e a privacidade do povo americano”, segundo a agência Reuters.
Beijing contestou o veto, criticando Washington por “ampliar demais o conceito de segurança nacional e abusar do poder do Estado para reprimir empresas de outros países”, segundo declarou Mao Ning, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores.
Um posicionamento carregado de incoerência, considerando que o governo chinês age de forma ainda mais dura ao censurar redes sociais ocidentais, como YouTube, Instagram, Facebook e Twitter. Em vez de fornecer à população local acesso a tais plataformas, a China optou por criar suas próprias versões, como Weibo, Youku e Baidu.
O ex-presidente Donald Trump tentou uma abordagem ainda mais radical quando estava no poder, ao tentar excluir o TikTok de toda as lojas de aplicativos do país. Impedido pelos tribunais norte-americanos, o republicano viu sua ordem rescindida pelo sucessor Joe Biden, que, no entanto, encomendou estudos mais aprofundados sobre a questão, de acordo com a agência Associated Press (AP).
A parlamentar conservadora britânica Alicia Kearns, em entrevista à rede Sky News no início de fevereiro, levou a denúncia a um novo patamar ao dizer que “funcionários da ByteDance usaram dados do TikTok em uma tentativa de rastrear vários jornalistas ocidentais e descobrir suas fontes”.
Um momento importante do debate que se instalou em torno do TikTok ocorrerá ainda neste mês, quando o CEO Shou Zi Chew é esperado para depor no Congresso dos EUA. Em sua defesa, a empresa chinesa alega que o PCC “não tem controle direto nem indireto da ByteDance ou do TikTok” e promete usar a presença executivo no Congresso para “abordar as preocupações sobre a segurança nacional”.
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