A morte de Ayman al-Zawahiri, sucessor de Osama Bin Laden no comando da organização terrorista Al-Qaeda, exigiu uma minuciosa operação do governo dos EUA, envolvendo as forças armadas e as agências de inteligência do país. Ele foi morto no sábado passado (30), na varanda da casa em que se escondia em Cabul, no Afeganistão, às 6h18 no horário local, de acordo com a rede CNN.
A informação sobre a localização precisa do líder terrorista surgiu pela primeira vez em abril. Até ali, não se sabia ao certo onde estava escondido, sendo as possibilidades mais fortes o Afeganistão e o Paquistão. Então, a inteligência norte-americana descobriu que uma rede de apoio permitiu a ele se instalar em uma casa de Cabul com a mulher, a filha, netos e netas.
Informado sobre o paradeiro do terrorista, o presidente Joe Biden determinou como prioridade um ataque sem vítimas civis, algo que não foi respeitado em uma ação de drone há cerca de 11 meses também em Cabul, em meio ao caótico processo de evacuação das tropas dos EUA do Afeganistão.
O pleno sucesso da operação contra al-Zawahiri seria determinante para fortalecer o governo de Biden, enfraquecido desde justamente a retirada dos militares de Cabul em 2021. Assim, a questão foi tratada sob sigilo absoluto, sendo de conhecimento de apenas um seleto grupo de autoridades do governo e de agências federais.
Conhecida a localização do terrorista, a inteligência norte-americana passou a coletar informações a fim de estabelecer a rotina no esconderijo. Os demais moradores do local foram identificados, registrando-se ainda o hábito do líder da Al-Qaeda de sair na varanda onde viria a ser morto.
No período em que se escondeu no local, al-Zawahiri jamais foi à rua, o que aumentava o desafio da operação, vez que o ataque exigia absoluta precisão.
O primeiro esboço da operação foi entregue a Biden no dia 1º de julho, numa reunião que contou ainda com o diretor da CIA Bill Burns, a diretora de inteligência nacional Avril Haines, o conselheiro de segurança nacional Jake Sullivan, o vice dele, Jon Finer, e a conselheira de segurança interna Liz Sherwood Randall.
Nessa reunião, foi apresentada uma maquete da residência onde o terrorista se escondia, e o presidente fez algumas perguntas a fim de analisar a viabilidade da ação. Perguntou sobre os materiais usados na construção, a temperatura na região onde o imóvel se localizava, a posição do sol e como o ataque aéreo afetaria a estrutura da construção. Tudo de forma a minimizar os riscos de baixas civis.
Um segundo encontro entre Biden e o seleto grupo aconteceu no dia 25 de julho, quando novos questionamentos surgiram. Satisfeito, o presidente aprovou um “ataque aéreo de precisão sob medida”. Cinco dias depois, dois mísseis Hellfire atingiram a varanda da casa no momento em que al-Zawahiri ali estava, sozinho. Os demais ocupantes do imóvel, segundo a Casa Branca, não se feriram.
Biden, então isolado por ter contraído Covid-19, foi informado do sucesso da operação. E se manifestou posteriormente. “As pessoas ao redor do mundo não precisam mais temer o assassino cruel e determinado. Os Estados Unidos continuam a demonstrar nossa determinação e nossa capacidade de defender o povo americano contra aqueles que procuram nos prejudicar”, disse o presidente.
Quem era Ayman al-Zawahiri?
Nascido em uma proeminente família egípcia, Ayman al-Zawahiri criou a Jihad Islâmica Egípcia nos anos 1970 e mais tarde a fundiu com a Al-Qaeda. Médico pessoal de Osama bin Laden e conselheiro do famoso terrorista até 2011, viva cercado de mistério.
Tendo os EUA como seu inimigo central, pregava que destruí-los era essencial para posteriormente derrubar os governos árabes pró-Ocidente com vistas ao objetivo maior, que seria unir todos os muçulmanos em um califado global, segundo o jornal The Washington Post.
“Matar americanos e seus aliados, civis e militares, é um dever individual de cada muçulmano que pode fazê-lo em todos os países em que é possível fazê-lo”, escreveu o terrorista em um manifesto de 1998, três anos antes dos ataques de 11 de setembro que ele teria ajudado a coordenar.
Embora a morte de al-Zawahiri seja um duro golpe, o enfraquecimento da organização extremista é anterior a ela. “Ele não é a figura carismática de que a Al-Qaeda precisa”, disse em setembro passado Bruce Riedel, ex-especialista em contraterrorismo da CIA e conselheiro de quatro presidentes dos EUA. “E não vejo mais ninguém no horizonte que seria”.
As muitas mortes de al-Zawahiri
Com sérios problemas de saúde, o terrorista foi alvo de diversas especulações quanto a estar vivo ou morto nos últimos anos. Em 2020, boatos sobre a morte dele circularam na internet, mas a informação não foi confirmada pela Al-Qaeda. Em 2021, diversos indícios apontaram no sentido oposto, dando a entender que o extremista ainda estivesse vivo, embora não fosse possível afirmar isso categoricamente.
Em novembro do ano passado, um vídeo publicado pelo canal de mídia oficial da Al-Qaeda reforçou os indícios de que o principal líder da organização não morreu. Na gravação, al-Zawahiri criticava a ONU (Organização das Nações Unidas) pelo tratamento dispensado aos muçulmanos e às nações islâmicas.
Um relatório do Conselho de Segurança da ONU publicado em fevereiro de 2022 atestou que ele estava vivo ao menos até em janeiro de 2021. Mas fez um adendo: “Os Estados-Membros continuam a acreditar que está com problemas de saúde”.
Pouco depois, imagens do terrorista comentando um episódio ocorrido na Índia no início deste ano descartaram definitivamente a hipótese de que tenha morrido antes disso. A mais recente informação sobre al-Zawahiri consta de um relatório da ONU publicado em julho deste ano, afirmando que na época ele estava “vivo e se comunica livremente”.
O mesmo relatório destaca a proximidade entre a Al-Qaeda e o Taleban, o que tornou o Afeganistão um porto seguro para terroristas do grupo, entre eles o próprio al-Zawahiri. Curiosamente, essa relação cordial reduzia a ameaça global terrorista representada pela organização jihadista.
“A Al-Qaeda não é vista como uma ameaça internacional imediata a partir de seu porto seguro no Afeganistão porque carece de capacidade operacional externa e atualmente não deseja causar dificuldade ou constrangimento internacional ao Taleban”, diz o documento da ONU.
O Departamento de Estado dos EUA oferecia uma recompensa de US$ 25 milhões por informações sobre al-Zawahiri, acusado de planejar o atentado contra o contratorpedeiro USS Cole, da marinha dos EUA, no Iêmen, que matou 17 marinheiros em outubro de 2000. Foi acusado também de coordenar os atentados a bomba nas embaixadas dos EUA no Quênia e na Tanzânia, que mataram 224 pessoas em 1998, além do papel nos ataques de 11 de setembro.
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