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domingo, 6 de março de 2022

Para driblar sanções ocidentais, empresas russas correm para abrir contas em bancos chineses

Em meio às poderosas sanções econômicas impostas à Rússia por EUA e União Europeia (UE), como represália pela invasão da Ucrânia, a filial de Moscou de um banco estatal chinês tem registrado aumento nas consultas de empresas russas interessadas em abrir novas contas. As informações são da agência Reuters.

De acordo com a fonte ouvida pela reportagem, uma pessoa familiarizada com o assunto que falou sob condição de anonimato, a medida é uma alternativa das corporações russas na luta contra as penalidades internacionais aplicadas em consequência do conflito iniciado há oito dias.

“Nos últimos dias, entre 200 e 300 empresas nos abordaram querendo abrir novas contas”, relatou a pessoa, uma funcionária da filial moscovita de um banco estatal chinês e que tem vasto conhecimento de suas operações. A instituição bancária teve o nome preservado.

Sede europeia do China Construction Bank, em Luxemburgo (Foto: Wikimedia Commons)

Diversos bancos estatais chineses operam em Moscou, entre eles o Industrial & Commercial Bank of China, o Agricultural Bank of China, o Bank of China e o China Construction Bank.

A fonte não deu números exatos sobre a demanda russa, mas revelou que uma quantidade expressiva dos novos clientes mantêm negócios com a China. E há expectativa de que as transações em yuan dessas firmam cresçam.

A atmosfera não é nada boa para essas empresas. Em escalada, países ocidentais têm desconectado a Rússia do sistema financeiro global, à medida que governos pressionam multinacionais para que cancelem vendas, cortem laços e abram mão de investimentos na casa de dezenas de bilhões de dólares.

Um empresário chinês com relação de longa data com a Rússia, que também pediu para ter a identidade preservada, relatou que várias empresas russas com as quais trabalha planejam abrir contas em yuans.

“É uma lógica bem simples. Se você não pode usar dólares americanos ou euros, e os EUA e a Europa param de vender muitos produtos, você não tem outra opção a não ser recorrer à China. A tendência é inevitável”, disse a fonte à Reuters.

Se por um lado há um aumento vertiginoso de empresas ocidentais abandonando a Rússia, de outro, há gigantes de mercados emergentes, a exemplo da China, dispostos a manter relações comerciais com Moscou. E tal tendência pode ameaçar o protagonismo do dólar americano no comércio global.

“É natural que as empresas russas estejam dispostas a aceitar o yuan”, observou Shen Muhui, chefe de um órgão comercial que promove as ligações entre a Rússia e a China.

A moeda russa teve uma queda recorde na quarta-feira (2), perdendo quase 40% de seu valor em relação ao yuan. “Os pequenos exportadores chineses estão sofrendo com a queda do rublo e muitos estão suspendendo as entregas para evitar possíveis perdas”, acrescentou Shen.

No entanto, ele aposta que a demanda russa por produtos chineses tem tendência de crescimento a longo prazo. “A chave é resolver questões de acordos comerciais diante das sanções”, previu.

Alheia ao conflito

China já deixou claro que pretende se manter alheia à guerra. Porém, é uma moeda de dois lados: em um, Beijing condena as sanções financeiras impostas pelos governos ocidentais a Moscou, as quais classifica como “ineficazes”; do outro, promete manter relações comerciais normais com Kiev. 

Guo Shuqing, que preside a Comissão Reguladora de Bancos e Seguros da China, disse na última quarta-feira (2) que as relações entre a China e os dois países envolvidos no conflito não mudarão. O discurso repete o que havia dito no dia anterior Wang Wentao, ministro do Comércio chinês, segundo quem Beijing espera “promover nosso comércio normal” com ambas as nações.

Por que isso importa?

A escalada de tensão entre Rússia e Ucrânia, que culminou com a efetiva invasão russa ao país vizinho no dia 24 de fevereiro, remete à anexação da Crimeia pelos russos, em 2014, e à guerra em Donbass, que começou naquele mesmo ano e se estende até hoje.

O conflito armado no leste da Ucrânia opõe o governo central às forças separatistas das autodeclaradas Repúblicas Populares de Donetsk e Lugansk, que formam a região de Donbass e foram oficialmente reconhecidas como territórios independentes por Moscou. Foi o suporte aos separatistas que Putin usou como argumento para justificar a invasão, classificada por ele como uma “operação militar especial”.

“Tomei a decisão de uma operação militar especial”, disse Putin pouco depois das 6h de Moscou (0h de Brasília) de 24 de fevereiro, de acordo com o site independente The Moscow Times. Cerca de 30 minutos depois, as primeira explosões foram ouvidas em Kiev, capital ucraniana, e logo em seguida em Mariupol, no leste do país, segundo a agência AFP.

Desde o início da ofensiva, as forças da Rússia caminham para tentar dominar Kiev, que tem sido alvo de constantes bombardeios. O governo da Ucrânia e as nações ocidentais acusam Moscou de atacar inclusive alvos civis, como hospitais e escolas, o que pode ser caracterizado como crime de guerra ou contra a humanidade.

Fora do campo de batalha, o cenário é desfavorável à Rússia, que tem sido alvo de todo tipo de sanções. Além das esperadas punições financeiras impostas pelas principais potencias globais, que já começaram a sufocar a economia russa, o país tem se tornado um pária global. Representantes russos têm sido proibidos de participar de grandes eventos em setores como esporte, cinema e música.

De acordo com o presidente dos EUA, Joe Biden, as punições tendem a aumentar o isolamento da Rússia no mundo. “Ele não tem ideia do que está por vir”, disse o líder norte-americano, referindo-se ao presidente russo Vladimir Putin. “Putin está agora mais isolado do mundo do que jamais esteve”.

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