O Irã condenou dois homens à morte por enforcamento nesta segunda-feira (8) por insultar o Islã, disse a agência de notícias do Judiciário local, a Mizan Online. Sadrollah Fazeli Zarei e Youssef Mehrdad foram acusados de blasfêmia por terem “insultado o profeta Maomé ” e “queimado o Alcorão“. As informações são da rede ABC News.
Os dois homens executados, presos em maio de 2020, morreram na prisão de Arak, no centro do Irã. Um dos acusados teria confessado ter publicado um conteúdo em uma rede social em que admitia ter proferido os insultos – grupos de direitos humanos no país não acreditam nas confissões dos prisioneiros, descritas como “forçadas”. Ambos enfrentaram meses de solitária e não puderam contatar suas famílias.
Segundo a ONG Iran Human Rights (IHR), o país do Oriente Médio é um dos lugares do mundo que mais utiliza a pena de morte. Desde o início do ano, 203 pessoas foram condenadas à pena capital, cenário agravado pelos protestos iniciados em setembro após a morte de Mahsa Amini, jovem que morreu após violenta abordagem policial por ter usado de forma incorreto o hijab, o véu muçulmano. Mesmo assim, execuções por blasfêmia são raras, já que em casos anteriores as autoridades reduziram suas sentenças.
“É uma preocupação extrema para nós. Não acredito que seja apenas um evento único”, disse à agência Associated Press (AP) o rabino Sharon Kleinbaum, membro da Comissão de Liberdade Religiosa Internacional dos Estados Unidos.
Segundo ele, há uma sensação de que o Irã está cada vez mais desesperado. “E quando sabemos que as teocracias autoritárias estão desesperadas, elas frequentemente se voltam para atos muito, muito extremos”, acrescentou.
Segundo o Mizan, além de insultar o profeta islâmico, Zarei e Mehrdad promoveram o ateísmo. O site também detalhou que eles foram acusados de queimar um Alcorão, o livro sagrado do Islã, embora não esteja claro se os homens supostamente fizeram isso ou se essas imagens foram compartilhadas no canal do Telegram.
Para Mahmood Amiry-Moghaddam, um ativista de direitos humanos iraniano, “a contagem regressiva para o regime começou no dia em que Masha Amini morreu”. Ele retrata a atmosfera como a “natureza medieval” da teocracia do Irã, e acredita que “o poder hoje em Teerã não tem futuro”. Também observa que as autoridades do regime “também estão cientes disso” e “o resto do mundo também”.
“A comunidade internacional deve mostrar com sua reação que as execuções por expressar uma opinião são intoleráveis”, disse ele em um comunicado. “A recusa da comunidade internacional em reagir de forma decisiva é uma luz verde para o governo iraniano e todas as pessoas com ideias semelhantes em todo o mundo”.
Por que isso importa?
Nos últimos meses, protestos populares tomaram as ruas do Irã após a morte de Mahsa Amini, uma jovem de 22 anos que visitava Teerã, capital do país, quando foi abordada pela “polícia da moralidade” por não usar “corretamente” o hijab, o véu obrigatório para as mulheres. Sob custódia, ela desmaiou, entrou em coma e morreu três dias depois.
Os protestos começaram no Curdistão, província onde vivia Mahsa, e depois se espalharam por todo o país, com gritos de “morte ao ditador” e pedidos pelo fim da república islâmica. As forças de segurança iranianas passaram a reprimir as manifestações de forma violenta, com relatos de dezenas de mortes.
No início de outubro, a ONG Human Rights Watch (HRW) publicou um relatório que classifica o regime iraniano como “corrupto e autocrático”, denunciando uma série de abusos cometidos pelas forças de segurança na repressão aos protestos populares.
Além dos mortos e feridos, a HRW cita os casos de “centenas de ativistas, jornalistas e defensores de direitos humanos” que, mesmo de fora dos protestos, acabaram presos pelas autoridades. Condena ainda o corte dos serviços de internet, com plataformas de mídia social bloqueadas em todo o país desde o dia 21 de setembro, por ordem do Conselho de Segurança Nacional do Irã.
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