Mais de 800 mil pessoas podem ser forçadas a deixar o Sudão devido ao conflito que ocorre atualmente no país africano entre duas facções militares rivais. O alerta foi feito na segunda-feira (1º) pela ONU (Organização das Nações Unidas), com informações reproduzidas pela agência Reuters.
Os confrontos, iniciados em 15 de abril, já mataram mais de 500 pessoas e forçaram por volta de 73 mil a fugir, com ao menos 20 mil sudaneses buscando abrigo no Chade e mais 40 mil no Egito, dois dos países vizinhos que recebem os refugiados. Também há relatos de pessoas em busca de abrigo na República Centro-Africana, na Etiópia, na Líbia e no Sudão do Sul, muitas vezes em comunidades já vulneráveis.
Devido aos combates, a ONU alega que foi obrigada a interromper praticamente todas as operações de ajuda humanitária no país, que tem quase 16 milhões de pessoas, o equivalente a cerca de um terço da população, passando necessidades desde antes do conflito.
No domingo (30), as duas facções rivais concordaram em ampliar um cessar-fogo inicialmente previsto para durar 72 horas, que tem o objetivo de permitir a evacuação de civis que estão nas áreas mais tensas do país e de cidadãos estrangeiros sobretudo de missões diplomáticas. A trégua, porém, não vem sendo respeitada amplamente, com relatos de combates travados dentro desse período.
De acordo com Raouf Mazou, funcionário das Nações Unidas, devido ao conflito, a entidade espera um êxodo de cerca de 815 mil pessoas, entre sudaneses e refugiados estrangeiros que haviam buscado abrigo no país. Atualmente, o Sudão tem aproximadamente 46 milhões de habitantes.
O Ministério da Saúde do Sudão registrava até segunda-feira 528 mortes devido aos combates, com 4.599 feridos. A ONU aponta números semelhantes, mas afirma que a realidade tende a ser bem pior. Devido à subnotificação, inclusive com relatos de corpos abandonados nas ruas e inacessíveis devido aos tiros e explosões, os números de mortos e feridos tendem a ser bem superiores aos dados oficiais.
Enquanto as duas facções seguem em combate, desrespeitando inclusive o cessar-fogo mediado por Washington, a Arábia Saudita espera receber delegações dos dois grupos para negociar uma nova trégua, ou mesmo a paz definitiva.
Paralelamente, diversos países do mundo ainda agem para tirar seus cidadãos do Sudão. Os EUA dizem ter evacuado mais de 700 pessoas por Porto Sudão, cidade às margens do Mar Vermelho que abriga o principal porto marítimo nacional. Já o governo do Reino Unido afirma que conseguiu tirar por volta de 2,2 mil pessoas do país.
Por que isso importa?
O Sudão vive um violento conflito armado que coloca frente a frente dois generais que comandam o país africano desde o golpe de Estado de 2021: Abdel Fattah al-Burhan, chefe das forças armadas, e Mohamed Hamdan Daglo, apelidado de “Hemedti”, à frente das Forças de Apoio Rápido (RSF, da sigla em inglês), corpo paramilitar da violenta milícia Janjawid, que combateu os rebeldes de Darfur.
As tensões decorrem de divergências sobre como cem mil soldados da milícia paramilitar devem ser integrados ao exército e quem deve supervisionar esse processo.
No dia 16 de abril, um domingo, explosões puderam ser ouvidas no centro da capital Cartum, mais precisamente no entorno do quartel-general militar do Sudão e do palácio presidencial, locais estratégicos reivindicados tanto por militares quanto pelas RSF.
O aeroporto internacional da capital, tomado pela milícia, foi bombardeado com civis dentro. Aeronaves foram destruídas, e caças da força aérea sudanesa e tanques foram usados contra os paramilitares.
Desde que o conflito se espalhou, primeiro pela capital, depois por outras regiões do país, as nações estrangeiras que tinham cidadãos e representantes diplomáticos no Sudão começaram um processo de evacuação, viabilizado por um frágil cessar-fogo que não foi totalmente respeitado pela partes.
Mais de 420 pessoas morreram somente nos primeiros dez dias de combates. Entre as vítimas estão ao menos quatro trabalhadores humanitários, de acordo com relatos da ONU (Organização das Nações Unidas), que levou o problema a seu Conselho de Segurança.
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