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sexta-feira, 5 de maio de 2023

Em Mianmar, quase 700 mil pessoas fugiram de suas casas de janeiro a abril

Os violentos combates entre a Junta Militar e movimentos de resistência fizeram com que o número de deslocados internos em Mianmar aumentasse em mais de 680 mil entre janeiro e 20 de abril, disse o Instituto de Estratégia e Política de Mianmar (ISP-Myanmar). A estimativa representa mais de um quarto do número total de birmaneses que tiveram que deixar seus lares após o golpe de Estado há dois anos, detalhou o grupo de pesquisa independente. As informações são da rede Radio Free Asia.

De fevereiro de 2021 até o final do mês passado, a luta que coloca as forças armadas de um lado e organizações étnicas armadas e a Força de Defesa do Povo (PDF, na sigla em inglês) do outro já fez mais de 2,6 milhões fugirem de suas casas, disse o relatório divulgado no último dia 27.

Isso se soma a uma onda de violência iniciada em 2017 que forçou mais de um milhão da minoria muçulmana rohingya a deixarem suas moradias em Mianmar para trás e procurar abrigo em Bangladesh, o país vizinho que hoje abriga o maior assentamento de refugiados do mundo em Cox’s Bazar. Outros destinos são Índia e Tailândia.

Deslocados internos recebem assistência no campo de Myaing Gyi Ngu, no estado de Kayin, em Mianmar (Foto: Sa Nyein Chan/ACNUR)

O Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (Unocha, da sigla em inglês) declarou que planeja fornecer assistência humanitária a 4,5 milhões de pessoas em Mianmar em 2023, incluindo 1,6 milhão de birmaneses que tiveram que abandonar os lares.

Não há para onde voltar

A região de Sagaing é uma das mais atingidas, segundo o Instituto, onde os deslocados internos precisam urgentemente de abrigo, comida e remédios. Um morador do vilarejo de Inn Pat contou que boa parte do local foi destruído pela junta.

“Há mais de 600 ou 700 casas em nossa aldeia. A junta a incendiou quatro vezes”, disse o morador. “Cerca de 200 casas foram queimadas e os moradores cujas casas foram danificadas pelo fogo não podem mais viver em suas próprias casas. Os lugares onde suas casas costumavam ficar são terrenos limpos sem nada”, acrescentou.

No município de Khin-U, a junta incendiou quase 5 mil casas de civis em 70 aldeias desde o golpe, e os refugiados estão tendo problemas com a escassez de água potável.

No estado de Kayah, onde cerca de dois terços da população total fugiu de suas casas, os moradores disseram que as tropas da junta militar estão conduzindo operações e restringindo o transporte de alimentos e remédios.

“Há escassez de vacinação para recém-nascidos também. Esta é uma ameaça direta à sobrevivência das crianças”, disse Ko Banyar, diretor da Organização Karenni de Direitos Humanos, que critica a junta por criar deliberadamente dificuldades para refugiados e residentes locais.

Por que isso importa?

Mianmar enfrenta “uma campanha de terror com força brutal”, segundo palavras da ONU (Organização das Nações Unidas). A repressão imposta pelo governo militar foi uma reação às eleições presidenciais de novembro de 2020.

Na ocasião, o partido NLD (Liga Nacional pela Democracia, da sigla em inglês) venceu as eleições com 82% dos votos, ainda mais do que havia obtido no pleito de 2015. Em fevereiro de 2021, então, a junta militar, que já havia impedido a sigla de assumir o poder antes, prendeu a líder democrática Aung San Suu Kyi, dando início a protestos respondidos com violência pelas forças de segurança nacionais.

As ações abusivas da junta levaram ao isolamento global de Mianmar, e em dezembro de 2022 o Conselho de Segurança da ONU aprovou uma resolução histórica que insta os militares a libertar Suu Kyi. A Resolução 2669 ainda exige “o fim imediato de todas as formas de violência” e pede que “todas as partes respeitem os direitos humanos, as liberdades fundamentais e o Estado de Direito”.

A proposta, feita pelo Reino Unido, foi aprovada no dia 21 de dezembro de 2022 com 12 votos a favor. Os membros permanentes China e Rússia se abstiveram, optando por não exercer vetos. A Índia também se absteve.

Beijing e Moscou, por sinal, estão entre os poucos governos do mundo que mantêm relações formais com Mianmar. Inicialmente, o golpe foi recebido com reprovação pela China, que vinha dialogando para firmar acordos comerciais com o governo eleito e perdeu bastante com a derrubada. Mas o cenário mudou desde então.

O governo chinês frequentemente se coloca ao lado da junta ao vetar resoluções que condenam a brutalidade dos atos contra opositores e a população civil em geral. A posição ficou evidente mais uma vez em dezembro de 2022, embora a China tenha optado por não vetar a resolução.

A China é um também dos principais fornecedores de armas para a juntar militar, desrespeitando um pedido de embargo global feito pela ONU para enfraquecer o regime birmanês. Entretanto, há indícios de que as forças locais seguem se equipando com novos armamentos chineses, tendo ainda como fornecedores complementares a Rússia e o Paquistão.

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