A expectativa dos ambientalistas para a 28ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática (COP28) deste ano, que já não era das melhores, ficou ainda pior nesta semana. O sultão Al Jaber, cuja escolha para presidir o evento é criticada desde o início, exaltou o papel dos combustíveis para o futuro da humanidade, contrariando o argumento de que o planeta precisa urgentemente investir na transição para fontes de energia limpa. As informações são da rede CNN.
“Sabemos que os combustíveis fósseis continuarão a desempenhar um papel no futuro previsível para ajudar a atender aos requisitos globais de energia”, disse Al Jaber em Berlim, durante uma conferência com a participação de representantes de cerca de 40 países que serviu para ajudar a definir a agenda da COP28.
Quando o sultão foi escolhido, em janeiro de 2023, para presidir o evento, que ocorrerá em novembro em Dubai, ele foi parabenizado por líderes globais, entre eles o enviado climático dos Estados Unidos, John Kerry, o presidente da COP26, Alok Sharma, e o ex-primeiro-ministro do Reino Unido Tony Blair.
Entre os ambientalistas, entretanto, sobraram críticas, vez que o eleito chefia a Companhia Nacional de Petróleo de Abu Dhabi (ADNOC, da sigla em inglês) e é também ministro da Indústria e Tecnologia dos Emirados Árabes Unidos.
“Al Jaber não pode presidir um processo encarregado de enfrentar a crise climática com tal conflito de interesses, liderando uma indústria que é responsável pela própria crise”, disse em comunicado Tasneem Essop, diretora executiva da Climate Action Network International (CAN), rede global de organizações não-governamentais comprometidas com o combate às causas e efeitos das mudanças climáticas.
Na ocasião, o sultão tentou conter as críticas a partir de um discurso apaziguador. “Os Emirados Árabes Unidos estão abordando a COP28 com um forte senso de responsabilidade e o mais alto nível de ambição possível”, disse ele em comunicado divulgado em janeiro.
Nesta semana, porém, voltou a assustar os críticos ao dizer que é necessário “aceitar algumas realidades” e investir em uma transição energética que inclua “todas as fontes de energia”. Falou ainda em “garantir a eliminação gradual das emissões de todos os setores”, proposta mais conservadora que a necessária.
Segundo ele, a melhor alternativa é investir em tecnologias como a de captura de carbono, mantendo assim os combustíveis fósseis como uma fonte de energia viável. Essop, então, voltou a se manifestar e contestou a sugestão, tida como muito cara e de difícil implantação.
“Não podemos fingir que as soluções para a crise climática estão em soluções tecnológicas não confiáveis e não testadas que trarão novos riscos e ameaças”, disse ela, classificando as falas de Al Jaber como “preocupantes”.
Essop enfatizou que não se pode considerar um futuro que inclua os combustíveis fósseis. E sentenciou: a “eliminação gradual das emissões” não basta para que seja cumprido o Acordo de Paris, que prevê a limitação do aquecimento global a 1,5º C acima dos níveis pré-industriais.
Nils Bartsch, chefe de pesquisa de petróleo e gás da ONG alemã Urgewald, seguiu pelo mesmo caminho e disse que reduzir a intensidade das emissões não solucionaria o problema, apenas o adiaria um pouco.
A ministra das Relações Exteriores da Alemanha, Annalena Baerbock, acompanhou os ambientalistas ao dizer que é necessário “abandonar os combustíveis fósseis” e “reduzir drasticamente as emissões”. E acrescentou: “Não se trata mais de visões. Trata-se, finalmente, de cumprir as promessas que fizemos”.
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