Segundo uma investigação publicada pela agência Reuters nesta quarta-feira (24), hackers chineses realizaram ataques cibernéticos em ministérios do Quênia e outras instituições estatais, incluindo presidência. O objetivo era obter informações confidenciais sobre a crescente dívida do país com a China adquirida por meio da Iniciativa Nova Rota da Seda.
De acordo com a investigação jornalística, feita a partir de relatórios de pesquisa de cibersegurança, os ataques tiveram início há quatro anos, quando Beijing começou a restringir o crédito fornecido a Nairóbi, resultando em tensões relacionadas ao débito.
De acordo com três especialistas em segurança cibernética familiarizados com os ataques, citados pela Reuters, a violação de segurança teve início em 2019 por meio de um ataque de spearphishing – tipo de ciberataque que usa mensagens personalizadas para enganar alvos específicos e obter informações confidenciais. Um funcionário do Estado, sem saber, baixou um documento infectado, o que deu início ao incidente. A violação de segurança persistiu até o ano passado.
A natureza da dívida do Quênia com a China abrange diversos setores, incluindo infraestrutura, energia, transporte e projetos de desenvolvimento. Muitas dos encargos de Nairóbi com o governo chinês, que ultrapassam US$ 9 bilhões, estão relacionados a empréstimos para financiar grandes projetos de infraestrutura, como construção de estradas, ferrovias, portos e usinas de energia. Essas dívidas são frequentemente garantidas por ativos ou receitas específicas dos projetos financiados.
Com o aumento dos custos do serviço da dívida externa, a situação financeira do Quênia tornou-se tensa. Os hackers chineses aproveitaram essa vulnerabilidade e lançaram uma campanha de hacking sofisticada, direcionando oito ministérios e departamentos governamentais que desempenharam um papel crucial na implementação da Iniciativa Nova Rota da Seda, incluindo o gabinete presidencial.
Os hackers buscaram infiltrar-se em redes governamentais confidenciais para obter informações sobre as estratégias de pagamento da dívida do Quênia, além de proteger os investimentos significativos da China na região. A violação do servidor de e-mail do Serviço Nacional de Inteligência do Quênia também levantou preocupações sobre a possível divulgação de informações confidenciais relacionadas à segurança nacional.
Quem orquestrou o ataque foi o grupo chinês “BackdoorDiplomacy” (“diplomacia de retaguarda”), conhecido por promover os objetivos diplomáticos da China por meio de ataques cibernéticos, segundo identificou a empresa de segurança cibernética Palo Alto Networks. Suas técnicas e ferramentas sofisticadas indicam o envolvimento estatal e revelam o papel ativo da China na espionagem cibernética em escala global.
O Quênia reconhece as tentativas frequentes de infiltração de hackers chineses, americanos e europeus, afirmando que nenhuma delas teve sucesso. No entanto, destaca-se a preocupação mais ampla das ameaças à segurança cibernética enfrentadas pelos países em desenvolvimento com altos níveis de dívida. O relatório ressalta a necessidade urgente de fortalecer a infraestrutura de segurança cibernética, melhorar as defesas e promover a cooperação internacional para mitigar os riscos representados pelos ataques cibernéticos patrocinados pelo Estado.
Cautela
Beijing tem adotado uma abordagem cautelosa em relação aos empréstimos ao Quênia e à África na era pós-Covid-19, devido aos alertas de que as principais economias do continente estão enfrentando dificuldades financeiras e podem entrar em inadimplência.
Essa cautela resultou em uma desaceleração dos investimentos em projetos de infraestrutura no continente, devido aos desafios enfrentados por países como Angola e Etiópia para cumprir suas obrigações, bem como o default – termo usado quando uma entidade não cumpre seus compromissos de pagamento nos termos acordados – da Zâmbia.
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