O TikTok, uma das plataformas de vídeos mais populares do mundo, também está difundindo conteúdo sobre imigração ilegal. Prova disso é que um número crescente de vídeos postados na rede social tem servido como tutorial para cidadãos chineses que fugiram da terra natal para se arriscar por caminhos perigosos na fronteira do México com os EUA em busca de uma nova vida. As informações são da agência Reuters.
A dificuldade de obter visto para entrar nos Estados Unidos e as consequências econômicas trazidas pela rígida política sanitária da Covid Zero têm levado inúmeros chineses a tentar cruzar o rio Rio Grande do México rumo ao território norte-americano, muitos deles carregando bebês e crianças pequenas. E é pelo TikTok que eles estão obtendo informações que os encorajam.
“Andar na linha”, “caminhar na floresta tropical”, “imigração ilegal” e “imigração dos EUA” são algumas das hashtags inseridas no vídeos, que detalham a arriscada travessia da fronteira – feita por rotas de contrabando – e procedimentos a serem seguidos após a chegada em solo americano.
Conteúdo associado à hashtag “caminhar na floresta tropical” mostra grupos de pessoas de diferentes idades sendo conduzidos por trilhas com cordas, atravessando rios extensos e com grande volume de águas, escalando margens lamacentas, carregando nas costas equipamentos de acampamento.
Usuários também conseguem tirar dúvidas sobre como é a vida após a travessia com êxito. Entre as questões levantadas, se “é possível obter um green card após cruzar a fronteira ilegalmente?”. A resposta é “sim”. E de forma detalhada, como constatou a reportagem.
“Se um tribunal de imigração aceitar seu pedido 589 [uma referência ao formulário de imigração I-589, Pedido de Asilo], isso resultará em um dos dois resultados”, responde o usuário, acrescentando que os cidadãos chineses têm “58% de chance de obter asilo político” e que os candidatos bem-sucedidos se qualificam para residência permanente após apenas um ano, uma reivindicação apoiada por um recente folheto online dos Serviços de Cidadania e Imigração dos EUA.
Outros tópicos abordam a logística para chegar até a fronteira, alertas sobre golpes e formas de abrir conta bancárias nos EUA. Em entrevista ao jornal Texas Standard, o repórter da Reuters, Echo Wangs, explicou qual a rota da China até a América do Norte.
“Elas voam primeiro para Hong Kong. E então de Hong Kong eles voam para a Turquia, em Istambul. De lá pegam um voo para a capital do Equador, porque o Equador é o único país da América do Sul isento de visto para visitantes chineses”, detalhou Wang, acrescentando que de lá se movem até a fronteira EUA-México, em viagens que podem durar até um mês.
O perfil do cidadão chinês que busca o “sonho americano” é variado. Metade dos entrevistados disse que conduzia pequenos negócios na China, geralmente administrando lojas online. Eles vendiam de maquiagem a roupas, sapatos e material de construção, e muitos de seus negócios foram impactados pelos bloqueios impostos pelas políticas contra a Covid-19.
Outros alegam ter deixado para trás negócios como uma produtora de filmes ou uma fazenda de ovelhas. E há aqueles religiosos fervorosos com cruzes e Bíblias em chinês que alegam ter ido embora do país natal em busca de liberdade para praticar a fé – a repressão religiosa se intensificou no governo Xi Jinping, com censores fortalecendo a proibição de pregação na internet.
Número recorde
As apreensões de cidadãos chineses na fronteira EUA-México atingiram mais de 6.500 desde outubro de 2022, o maior número já registrado e um aumento de mais de 15 vezes em relação ao mesmo período do ano anterior, apontou o Serviço de Alfândegas e Proteção das Fronteiras dos Estados Unidos (CBP, da sigla em inglês).
De acordo com dados da agência, das centenas de milhares de migrantes que chegam à fronteira sudoeste, os chineses foram o grupo demográfico que mais cresceu nesses seis meses.
Em comunicado, o CBP disse que tem somado esforços com outras agências governamentais para rastrear o aumento da migração, visando “organizações criminosas transnacionais que estão contrabandeando migrantes chineses, especificamente”.
O Departamento de Segurança Interna dos EUA (DHS, da sigla em inglês), órgão que supervisiona o CBP, disse que “as mídias sociais e outras plataformas online aumentaram o acesso dos contrabandistas a potenciais migrantes, criando um ambiente propício à manipulação, que a agência tentou combater com campanhas nas redes sociais”.
À Reuters, a Embaixada da China em Washington disse que seu governo se opõe à migração ilegal, chamando-a de “uma questão internacional que requer cooperação entre os países”.
A ByteDance (empresa dona da rede social) não se manifestou sobre o caso.
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