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segunda-feira, 8 de maio de 2023

Explosão atinge comboio da ONU e deixa sete soldados de paz feridos no Mali

A explosão de uma bomba em uma estrada na região central do Mali, no sábado (6), feriu sete soldados de Paz da Minusma, a missão da ONU (Organização das Nações Unidas) no país africano. A ocorrência foi confirmada pela entidade através do Twitter.

“Centro do Mali. Hoje, 6 de maio, uma explosão de #IED (dispositivo explosivo improvisado, da sigla em inglês) em um comboio da Força Minusma, a 34 km ao norte da cidade de Douentza, feriu sete soldados de paz. Atualmente, eles estão recebendo cuidados médicos adequados. Seis ocorrências de IED registradas na região Centro até o momento em 2023”, diz o comunicado.

Com 12 mil homens, a Minusma é a missão de paz da ONU mais atingida pela violência entre todas que estão ativas no mundo atualmente. Desde sua criação, em 2013, 185 soldados de paz foram mortos no Mali, país que nos últimos anos tem visto crescer a ameaça de grupos extremistas islâmicos em meio à instabilidade política no país.

Em fevereiro deste ano, três soldados de paz senegaleses servindo no Mali foram mortos, e outros cinco ficaram gravemente feridos, quando o veículo em que viajavam atingiu um IED. Em outubro, em episódio semelhante, a Minusma havia anunciado a morte de outros dois “capacetes azuis”, como são conhecidos seus membros.

Comboio da Minusma, missão da ONU no Mali, em data incerta (Foto: twitter.com/UN_MINUSMA)
Por que isso importa?

O Mali vive um período de instabilidade que começou com o golpe de Estado em 2012, quando grupos rebeldes e insurgentes islâmicos tomaram o poder no norte do país. De quebra, a nação, independente desde 1960, viveu em maio de 2021 o terceiro golpe de Estado em um intervalo de apenas dez anos, seguindo o que já havia ocorrido em 2012 e também em 2020.

A mais recente turbulência política começou semanas antes do golpe, com a demissão do primeiro-ministro Moctar Ouane pelo presidente Bah Ndaw. Reconduzido ao cargo pouco depois, Ouane não conseguiu formar um novo governo, e a tensão aumentou com a falta de pagamento dos ingressos dos professores. O maior sindicato da categoria, então, começou a se preparar para uma greve.

Veio a noite do dia 24 de maio, quando o coronel Assimi Goita, vice-presidente do país, destituiu Ndaw e Ouane de seus cargos e ordenou a prisão de ambos na capital Bamako. Segundo ele, os dois líderes civis violaram a carta de transição ao não consultarem os militares na formação do novo governo.

Ao contrário do que ocorreu em golpes anteriores, que contaram com apoio popular, desta vez a maior parte da população rejeitou a tomada de poder por Goita, que derrubou o governo de transição recém-instituído e assumiu o comando do país. A população civil não foi às ruas protestar contra o militar, mas usou as redes sociais para mostrar sua insatisfação.

Em meio à instabilidade política, cresceu no país a presença de grupos jihadistas ligados à Al-Qaeda e principalmente ao EI, o que levou a uma explosão de violência nos confrontos entre extremistas e militares, com milhares de civis entre as vítimas.

Os conflitos, antes concentrados no norte do Mali, se expandiram inclusive para os vizinhos Burkina Faso e Níger. Assim, a região central maliana se tornou um dos pontos mais violentos de todo o Sahel africano, com frequentes assassinatos étnicos e ataques extremistas contra as forças do governo.

A situação tornou-se ainda mais delicada devido à retirada das tropas da França, que até agosto de 2022 colaboravam com o governo nacional nas operações de contraterrorismo. A decisão de Paris de evacuar seus militares gerou dúvidas quanto à capacidade de o país africano sustentar os avanços obtidos na luta contra os insurgentes.

Quem assumiu o espaço deixado pelos franceses foi o Wagner Group, um grupo russo de mercenários que firmou acordo de cooperação com Goita. Fontes sustentam que o pagamento pelos serviços da organização russa seria de US$ 10,8 milhões por mês, dinheiro que viria da extração de minerais.

Segundo o general francês Laurent Michon, comandante da Operação Bakhane das forças armadas da França, a retirada de suas tropas não tem nenhuma relação com a chegada dos mercenários, como se especulava. Ele diz que o governo militar maliano sempre deixou claro seu desejo de “nos ver partir sem demora”.

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