Indonésia e Singapura, que são membros da Asean (Associação das Nações do Sudeste Asiático), condenaram publicamente a violência por parte do regime militar em Mianmar após um comboio humanitário do bloco econômico ter sido pego no fogo cruzado durante um confronto entre militares e rebeldes. As informações são da rede Radio Free Asia (RFA).
O episódio, registrado no domingo (7), gerou troca de acusações, com os militares atribuindo os disparos aos rebeldes que tentam derrubar o governo. Os oposicionistas, por sua vez, negam envolvimento com o ocorrido. Os relatos iniciais indicam que não houve feridos.
Representes das forças armadas e de um grupo rebelde do Estado de Shan, onde ocorreu o tiroteio, dizem inclusive que tinham representantes no comboio. E usaram essa alegação para dizer que não tinham motivos para disparara contra o comboio.
Quem também acusa o exército é Naing Htoo Aung, secretário do Ministério da Defesa do autodenominado Governo de Unidade Nacional (NUG, na sigla em inglês), que estabeleceu um regime paralelo para enfrentar os militares no poder desde o golpe.
Joko “Jokowi” Widodo, presidente da Indonésia e atual líder da Asean, preferiu focar suas críticas na violência por parte da junta militar birmanesa, que assumiu o poder em Mianmar após um golpe de Estado destituir, em fevereiro de 2021, o governo eleito democraticamente.
“Isso não diminuirá a determinação da Asean e da Indonésia de pedir o fim do uso da força e da violência”, disse Jokowi. “Parem a violência, porque os civis se tornaram vítimas. Vamos sentar juntos e iniciar um diálogo”.
De acordo com o presidente indonésio, os disparos atingiram um comboio do Centro de Coordenação da Asean para Assistência Humanitária, que entregava ajuda a cidadãos de Mianmar afetados pelo conflito no país. Além de funcionários do órgão, também estavam nos veículos dois funcionários da embaixada da Indonésia em Mianmar.
De acordo com o governo de Sinpaura, dois funcionários de sua embaixada igualmente estavam no comboio e escaparam ilesos. “Singapura condena este ataque. É fundamental salvaguardar a segurança do pessoal humanitário e diplomático, para garantir que eles possam continuar suas operações e fornecer a ajuda necessária aos necessitados ”, disse um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores do país.
Mianmar será um dos principais tópicos debatidos na cúpula da Asean que acontece nesta semana. O general Min Aung Hlaing, que lidera a junta militar no país, não foi convidado para o evento. Ele segue impedido de participar dos encontros do bloco econômico, que em 2021 teve um plano formal de paz ignorado pela junta militar.
Por que isso importa?
Mianmar enfrenta “uma campanha de terror com força brutal”, segundo palavras da ONU (Organização das Nações Unidas). A repressão imposta pelo governo militar foi uma reação às eleições presidenciais de novembro de 2020.
Na ocasião, o partido NLD (Liga Nacional pela Democracia, da sigla em inglês) venceu as eleições com 82% dos votos, ainda mais do que havia obtido no pleito de 2015. Em fevereiro de 2021, então, a junta militar, que já havia impedido a sigla de assumir o poder antes, prendeu a líder democrática Aung San Suu Kyi, dando início a protestos respondidos com violência pelas forças de segurança nacionais.
As ações abusivas da junta levaram ao isolamento global de Mianmar, e em dezembro de 2022 o Conselho de Segurança da ONU aprovou uma resolução histórica que insta os militares a libertar Suu Kyi. A Resolução 2669 ainda exige “o fim imediato de todas as formas de violência” e pede que “todas as partes respeitem os direitos humanos, as liberdades fundamentais e o Estado de Direito”.
A proposta, feita pelo Reino Unido, foi aprovada no dia 21 de dezembro de 2022 com 12 votos a favor. Os membros permanentes China e Rússia se abstiveram, optando por não exercer vetos. A Índia também se absteve.
Beijing e Moscou, por sinal, estão entre os poucos governos do mundo que mantêm relações formais com Mianmar. Inicialmente, o golpe foi recebido com reprovação pela China, que vinha dialogando para firmar acordos comerciais com o governo eleito e perdeu bastante com a derrubada. Mas o cenário mudou desde então.
O governo chinês frequentemente se coloca ao lado da junta ao vetar resoluções que condenam a brutalidade dos atos contra opositores e a população civil em geral. A posição ficou evidente mais uma vez em dezembro de 2022, embora a China tenha optado por não vetar a resolução.
A China é um também dos principais fornecedores de armas para a juntar militar, desrespeitando um pedido de embargo global feito pela ONU para enfraquecer o regime birmanês. Entretanto, há indícios de que as forças locais seguem se equipando com novos armamentos chineses, tendo ainda como fornecedores complementares a Rússia e o Paquistão.
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