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sexta-feira, 21 de abril de 2023

Vacinação tem queda global, com Brasil e Angola entre os destaques negativos

Um novo relatório do Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) traz um alerta sobre a vacinação das crianças no mundo. Dos 55 países analisados, 52 tiveram queda na cobertura vacinal. Como consequência, 67 milhões de crianças deixaram de ser imunizadas integral ou parcialmente nos últimos três anos. 

No Brasil, quase 26% da população infantil não recebeu nenhuma dose de vacina em 2021. Em Angola, o número chega a 43%. O país africano lidera em disparidade da vacinação entre menores que vivem na cidade e os que moram no campo. No meio rural, 50% das crianças nunca foram imunizadas.

O especialista de pesquisa e análise política do relatório “Situação Mundial da Infância 2023: Vacinação Para Cada Criança”, Juliano Diniz, analisou os dados e ressalta a perda de confiança na vacinação como um dos principais fatores por trás da queda de cobertura. O estudo indica que, no Brasil, a confiança da população na importância das vacinas está em 89%.

“É importante destacar que houve uma queda de dez pontos percentuais. O Brasil estava beirando quase 100% nesse de número de pessoas que acreditam que a vacina é importante para a criança. Então, houve uma redução e é importante que a gente se mantenha em alerta”, disse ele.

O levantamento aponta que fatores como polarização política e aumento da desinformação estão impulsionando a hesitação vacinal. Diniz acredita que o fluxo acentuado de notícias falsas sobre as vacinas, inclusive nas redes sociais, pode ter uma influência nos dados do Brasil.

Profissionais vacinam população contra a Covid-19 na capital do estado brasileiro do Amazonas, Manaus, em fevereiro de 2021 (Foto: FMI/Raphael Alves)
Defasagem na população rural em Angola

O especialista explica que boa parte das crianças que nuca foram vacinadas estão em zonas rurais, em áreas urbanas de maior pobreza e em áreas de conflito ou crise humanitária. Sobre o contexto angolano, Diniz destaca a importância de estratégias focadas nas crianças que vivem fora das cidades.

“O caso da Angola merece destaque porque o número é bastante alarmante, com 50% dessas crianças que não recebem nenhuma dose de vacina no meio rural. O que nos indica que estratégias precisam ser desenhadas para que a gente possa atingir essas crianças. Se você comparar por exemplo com Moçambique, apenas 11% dessas crianças está no meio rural”, analisou.   

O especialista do Unicef afirma que nos últimos dez anos houve uma estagnação na imunização. No caso da América Latina, foi identificada uma queda de cobertura vacinal básica desde 2017, intensificada com a crise da Covid-19.   

Ele afirma que não basta recuperar as crianças que deixaram de ser vacinadas devido aos impactos da pandemia nos sistemas de saúde. É necessário também trabalhar pela ampliação da demanda. Essa frente envolve conscientização e combate à desinformação por meio de engajamento com as comunidades.

Riscos sociais amplos

Segundo o relatório, a falta da vacinação não representa um risco apenas para a saúde e para a vida das crianças. Os impactos sociais são muito mais amplos, afetando a capacidade de aprendizado e a renda das famílias.  

A diretora-executiva do Unicef, Catherine Russell, disse que doenças preveníveis como sarampo e difteria podem voltar a causar um número elevado de mortes, caso a confiança na vacinação de rotina siga caindo.

Russell lembrou que, durante a crise de Covid-19, as vacinas foram desenvolvidas rapidamente e salvaram muitas vidas. No entanto, ela ressalta que o medo e a desinformação sobre todos os tipos de imunização estão “circulando tão amplamente quanto o próprio vírus”.

Das 67 milhões de crianças que perderam a vacinação de rotina entre 2019 e 2021, 48 milhões não receberam uma única dose de imunização.

Conteúdo adaptado do material publicado originalmente pela ONU News

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