Após meses de confronto com as forças de segurança nacionais, o Estado Islâmico no Grande Saara (EIGS) conseguiu assumir o controle da cidade de Tidermene, no norte do Mali, e assim isolar totalmente a capital regional Menaka. As informações são do site The Defense Post.
Um funcionário público local, que fugiu de Tidermene rumo a Menaka, confirmou que a pequena cidade agora é controlada pelo EI. Segundo ele, os extremistas distribuíram cópias do Alcorão, o livro sagrado do Islamismo, à população e agora circulam pelas ruas com armas em punho.
Com a conquista obtida pela facção do Estado Islâmico (EI), a região de Menaka agora está quase que totalmente sob o controle dos insurgentes, que dominam a maioria das subdivisões regionais.
Assim como Menaka, a região de Gao, mais a leste, também vê violentos combates entre insurgentes e forças do governo que já duram meses. Os extremistas conseguiram importantes avanços na área aproveitando o vácuo deixado pelas tropas francesas, que se retiraram do país no ano passado.
Além do EIGS, quem também marca forte presença na área é o Grupo de Apoio ao Islã e aos Muçulmanos (GSIM), na sigla em francês), também conhecido pelo nome em árabe Jamaat Nasr al-Islam wal Muslimin (JNIM) e ligado à Al-Qaeda.
De acordo com a ONU (Organização das Nações Unidas), desde janeiro também vem sendo observada uma retomada dos combates entre as duas facções, com EIGS e GSIM competindo para ampliar suas esferas de influência e controlar as linhas de abastecimento.
Devido à violência, mais de 30 mil deslocados se reuniram em Menaka, e cerca de 2,4 mil se abrigaram perto de um acampamento da Minusma, a missão de paz das Nações Unidas no Mali.
“O fluxo de deslocados internos aumentou a pressão sobre a resposta humanitária, com as populações precisando urgentemente de água potável, comida, remédios e abrigo”, disse El-Ghassim Wane, representante especial do secretário-geral e chefe da Minusma. “Ouvir essas pessoas deslocadas que nos imploram, literalmente, por água potável é uma experiência chocante”.
Por que isso importa?
O Mali vive um período de instabilidade que começou com o golpe de Estado em 2012, quando grupos rebeldes e insurgentes islâmicos tomaram o poder no norte do país. De quebra, a nação, independente desde 1960, viveu em maio de 2021 o terceiro golpe de Estado em um intervalo de apenas dez anos, seguindo o que já havia ocorrido em 2012 e também em 2020.
A mais recente turbulência política começou semanas antes do golpe, com a demissão do primeiro-ministro Moctar Ouane pelo presidente Bah Ndaw. Reconduzido ao cargo pouco depois, Ouane não conseguiu formar um novo governo, e a tensão aumentou com a falta de pagamento dos ingressos dos professores. O maior sindicato da categoria, então, começou a se preparar para uma greve.
Veio a noite do dia 24 de maio, quando o coronel Assimi Goita, vice-presidente do país, destituiu Ndaw e Ouane de seus cargos e ordenou a prisão de ambos na capital Bamako. Segundo ele, os dois líderes civis violaram a carta de transição ao não consultarem os militares na formação do novo governo.
Ao contrário do que ocorreu em golpes anteriores, que contaram com apoio popular, desta vez a maior parte da população rejeitou a tomada de poder por Goita, que derrubou o governo de transição recém-instituído e assumiu o comando do país. A população civil não foi às ruas protestar contra o militar, mas usou as redes sociais para mostrar sua insatisfação.
Em meio à instabilidade política, cresceu no país a presença de grupos jihadistas ligados à Al-Qaeda e principalmente ao EI, o que levou a uma explosão de violência nos confrontos entre extremistas e militares, com milhares de civis entre as vítimas.
Os conflitos, antes concentrados no norte do Mali, se expandiram inclusive para os vizinhos Burkina Faso e Níger. Assim, a região central maliana se tornou um dos pontos mais violentos de todo o Sahel africano, com frequentes assassinatos étnicos e ataques extremistas contra as forças do governo.
A situação tornou-se ainda mais delicada devido à retirada das tropas da França, que até agosto de 2022 colaboravam com o governo nacional nas operações de contraterrorismo. A decisão de Paris de evacuar seus militares gerou dúvidas quanto à capacidade de o país africano sustentar os avanços obtidos na luta contra os insurgentes.
Quem assumiu o espaço deixado pelos franceses foi o Wagner Group, um grupo russo de mercenários que firmou acordo de cooperação com Goita. Fontes sustentam que o pagamento pelos serviços da organização russa seria de US$ 10,8 milhões por mês, dinheiro que viria da extração de minerais.
Segundo o general francês Laurent Michon, comandante da Operação Bakhane das forças armadas da França, a retirada de suas tropas não tem nenhuma relação com a chegada dos mercenários, como se especulava. Ele diz que o governo militar maliano sempre deixou claro seu desejo de “nos ver partir sem demora”.
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