As restrições impostas pelo Taleban à educação feminina no Afeganistão, que têm sido alvo de críticas globais, geram descontentamento também entre estudiosos religiosos afegãos, que no sábado (8) se manifestaram contra as medidas. As informações são da agência Associated Press (AP).
A repressão de gênero não se limita à educação, mas é nesse setor que ela se tornou mais forte e chamou a atenção do mundo. A proibição às meninas no ensino médio, que foi imposta em março do ano passado no Afeganistão, não ocorre em nenhum outro país de maioria muçulmana.
O veto se estende ao ensino superior, no qual primeiro veio a segregação de gênero em universidades e faculdades privadas. O Ministério da Educação talibã emitiu decreto estabelecendo que as classes deveriam ser separadas por gênero, ou pelo menos divididas por uma cortina.
Entre as determinações, a de que as estudantes só poderiam ser ensinadas por outras mulheres. Um exceção foi aberta: “homens idosos” de bom caráter poderiam preencher os cargos na ausência de educadoras disponíveis.
Então, em outubro do ano passado, milhares de afegãs foram autorizadas a prestar vestibular, mas proibidas de se inscrever em diversas graduações, entre elas jornalismo, medicina, engenharia, economia e ciências sociais. O Taleban alegou que certas disciplinas não estavam de acordo com os valores afegãos e islâmicos. Mais tarde veio o golpe derradeiro, com a proibição absoluta de mulheres no ensino superior.
As críticas à medida partem inclusive de países com governos muçulmanos radicais, como Irã. E cada vez mais ganham coro dentro do Afeganistão, com dois conhecidos estudiosos religiosos locais contestando publicamente a proibição.
Um deles, Abdul Rahman Abid, disse que as turmas deveriam ser de fato separadas entre meninos e meninas e que somente mulheres deveriam ministrar aulas nas salas femininas. Mas o veto, segundo ele, é errado.
Abid usou inclusive um argumento religioso ao contestar a proibição, dizendo que no Islamismo o conhecimento é uma obrigação tanto para homens quanto para mulheres.
“Minha filha está faltando na escola e estou com vergonha, não tenho resposta para minha filha”, disse ele. “Minha filha pergunta por que as meninas não podem aprender no sistema islâmico. Não tenho resposta para ela”.
Já Toryali Himat, que igualmente se opõe à decisão, é membro do Taleban e disse que ainda é possível solucionar o problema. “O Islã permitiu que homens e mulheres aprendessem, mas o hijab e o currículo devem ser considerados”, disse ele, explicando que a ordem para que as meninas fossem excluídas das salas de aula partiu de Hibatullah Akhundzada, o líder supremo talibã.
“Críticas corretivas devem ser feitas, e o Emirado Islâmico (nome oficial do Afeganistão) deve pensar sobre isso. Onde não há crítica existe a possibilidade de corrupção”, afirmou o estudioso. “Minha opinião pessoal é a de que as meninas devem receber educação até o nível universitário”.
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