A China anunciou nesta segunda-feira (10) que completou “com sucesso” os objetivos dos três dias de exercícios militares em torno de Taiwan. Ao fim dos treinamentos, que envolveu um porta-aviões e ataques simulados de caças carregando munição real sob “condições reais de combate”, Beijing mandou um alerta: a paz e a estabilidade no Estreito e a independência da ilha são “mutuamente exclusivas”. As informações são da agência Al Jazeera.
“Se quisermos proteger a paz e a estabilidade no Estreito de Taiwan, devemos nos opor firmemente a qualquer forma de separatismo pela independência de Taiwan”, disse o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Wang Wenbin, em entrevista coletiva.
Os exercícios começaram logo após o encontro histórico da presidente taiwanesa Tsai Ing-wen com o presidente da Câmara dos Estados Unidos, Kevin McCarthy, na Califórnia. O encontro foi definido pela China como “um sério alerta contra o conluio e provocação das forças separatistas de Taiwan com forças externas”, uma referência velada a Washington.
Produzido na China, o bombardeiro H-6K possui capacidade de ataque nuclear (Foto: WikiCommons)
No último dia da exibição de poderio militar, bombardeiros chineses H-6K com capacidade nuclear e equipados “com munição real”, com o apoio de caças e aeronaves, realizaram “ataques simulados em alvos importantes em Taiwan”, detalhou a mídia estatal chinesa.
O Ministério da Defesa de Taiwan disse ter detectado 91 caças, bombardeiros pesados, aviões de reconhecimento e outras aeronaves ao redor da ilha a partir das 18h (horário local) desta segunda, com 54 deles cruzando a “linha mediana” não oficial do Estreito de Taiwan, uma divisão projetada para manter as aeronaves militares de ambos os lados a uma distância segura.
Os exercícios, batizados de “Espada Conjunta”, tiveram início no sábado (8). O objetivo era ensaiar um cerco e bloqueio de Taiwan, território semiautônomo tido por um Beijing como uma província rebelde.
Os treinamentos do fim de semana marcaram a primeira vez que a China falou publicamente sobre ataques simulados contra alvos em Taiwan. Como os militares dos EUA enviam regularmente aviões e navios de espionagem para a área perto da ilha, e os ataques simulados nas águas próximas sugerem um aviso para Washington.
O governo de Taiwan condenou os exercícios, enquanto os EUA aconselharam a China a agir com moderação. Em um comunicado na segunda-feira, o principal porta-voz do governo japonês disse que o país acompanha os exercícios com “grande interesse”, conforme noticiou o jornal Japan Times.
“A paz e a estabilidade no Estreito de Taiwan são importantes não apenas para a segurança do Japão, mas também para a estabilidade da comunidade internacional como um todo”, disse o secretário-chefe do gabinete, Hirokazu Matsuno, em entrevista coletiva.
Enquanto isso, um aliado incondicional de Beijing se colocou ao lado. A Rússia apoiou na segunda-feira os exercícios militares, dizendo que a China tem o “direito soberano” de responder ao que o Kremlin chama de “atos provocativos”, inclusive “com manobras militares, em estrita conformidade com o direito internacional”, declarou o o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov.
Por que isso importa?
Taiwan é uma questão territorial sensível para a China, e a queda de braço entre Beijing e o Ocidente por conta da pretensa autonomia da ilha gera um ambiente tenso, com a ameaça crescente de uma invasão pelas forças armadas chinesas a fim de anexar formalmente o território taiwanês.
Nações estrangeiras que tratem a ilha como nação autônoma estão, no entendimento de Beijing, em desacordo com o princípio “Uma Só China“, que também vê Hong Kong como parte da nação chinesa.
Embora não tenha relações diplomáticas formais com Taiwan, assim como a maioria dos demais países, os EUA são o mais importante financiador internacional e principal parceiro militar de Taipé. Tais circunstâncias levaram as relações entre Beijing e Washington a seu pior momento desde 1979, quando os dois países reataram os laços diplomáticos.
A China, em resposta à aproximação entre o rival e a ilha, endureceu a retórica e tem adotado uma postura belicista na tentativa de controlar a situação. Jatos militares chineses passaram a realizar exercícios militares nas regiões limítrofes com Taiwan e habitualmente invadem o espaço aéreo taiwanês, deixando claro que Beijing não aceitará a independência formal do território “sem uma guerra“.
A crise ganhou contornos mais dramáticos após a visita da presidente da Câmara dos Representantes dos EUA, Nancy Pelosi, em agosto. Foi a primeira pessoa ocupante do cargo a viajar para Taiwan em 25 anos, atitude que mexeu com os brio de Beijing. Em resposta, o exército da China realizou um de seus maiores exercícios militares no entorno da ilha, com tiros reais e testes de mísseis em seis áreas diferentes.
O treinamento serviu como um bloqueio eficaz, impedindo tanto o transporte marítimo quanto a aviação no entorno da ilha. Assim, voos comerciais tiveram que ser cancelados, e embarcações foram impedidas de navegar por conta da presença militar chinesa.
Desde então, aumentou consideravelmente a expectativa global por uma invasão chinesa. Para alguns especialistas, caso do secretário de Defesa dos EUA Lloyd Austin, o ataque “não é iminente“. Entretanto, o secretário de Estado Antony Blinken afirmou em outubro “que Beijing está determinada a buscar a reunificação em um cronograma muito mais rápido”.
As declarações do chefe da diplomacia norte-americana vão ao encontro do que disse o presidente chinês Xi Jinping no recente 20º Congresso do Partido Comunista Chinês (PCC). “Continuaremos a lutar pela reunificação pacífica”, disse ele ao assegurar seu terceiro mandato à frente do país. “Mas nunca prometeremos renunciar ao uso da força. E nos reservamos a opção de tomar todas as medidas necessárias”.
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