Quase 20 milhões de pessoas no Afeganistão não sabem se terão comida no prato no dia seguinte, enquanto pelo menos 700 mil perderam seus empregos no país desde a tomada do poder pelo Taleban em agosto de 2021, com agricultura, serviço público e setores de construção os mais afetados. A crise alimentar, portanto, ocorre em meio à deterioração da situação econômica.
Em meio a esse cenário catastrófico, a agência de alimentos da ONU (Organização das Nações Unidas) disse no começo desta semana que o país, que corre o maior risco de fome dos últimos 50 anos, necessita urgentemente de US$ 800 milhões para os próximos seis meses, mostrou reportagem da agência Associated Press.
A distribuição de alimentos por meio de ajuda humanitária tem enfrentado imensa dificuldade desde que um decreto do Taleban em dezembro passado proibiu o trabalho de mulheres afegãs em ONGs, levando muitas agências a suspender as atividades por falta de mão de obra.
Cena de um campo de deslocados em Kandahar, no Afeganistão (Foto: Unicef)
As agências da ONU, que levam assistência para cerca de 23 milhões de pessoas, não estavam inseridas nessa proibição, porém, na semana passada, a organização jihadista que controla o país impediu as mulheres afegãs de trabalhar em suas agências no país. As autoridades talibãs, que alegam que respeita os direitos das mulheres de acordo com a ‘Sharia’, uma abordagem radical da lei islâmica, ainda não comentaram a restrição.
O Programa Mundial de Alimentos (PMA) disse que as trabalhadoras humanitárias desempenham um papel vital na entrega da assistência alimentar e nutricional da agência e que fará “todos os esforços possíveis” para manter isso, ao mesmo tempo em que tenta garantir o envolvimento ativo das funcionárias.
“O PMA precisa urgentemente de US$ 800 milhões nos próximos seis meses para continuar prestando assistência às pessoas necessitadas em todo o Afeganistão”, disse a organização. “A fome catastrófica bate às portas do Afeganistão e, a menos que o apoio humanitário seja sustentado, centenas de milhares de afegãos precisarão de ajuda para sobreviver”.
Para agravar a situação, o país do Oriente Médio enfrenta o terceiro ano consecutivo de condições semelhantes à seca e um segundo ano de declínio econômico incapacitante. Além disso, encarou outras intempéries climáticas severas, como inverno intenso e nevascas.
“O total de necessidades de financiamento ‘imediatas’ para lidar com lacunas críticas para os próximos três meses é de US$ 717,4 milhões”, de acordo com um comunicado do escritório de assuntos humanitários da agência. “Tudo isso faz parte de uma lacuna de financiamento geral de US$ 4,38 bilhões em toda a resposta humanitária para 2023”.
O vice-porta-voz do Ministério das Relações Exteriores talibã, Hafiz Zia Ahmad, Muttaqi disse na segunda-feira que os escritórios da ONU e outras instituições internacionais estão abertos em Cabul.
“Eles são ativos aqui, então nosso relacionamento é bom até agora”, disse Muttaqi. “Estamos tentando representar o Afeganistão nas Nações Unidas, é um direito dos afegãos. Mas agora (a cadeira do Afeganistão) está nas mãos de alguém que não representa o Afeganistão, não representa o povo e não há outro grupo que os represente”.
Muttaqi não abordou diretamente a proibição de funcionárias afegãs da ONU.
Desde a tomada de poder pelo movimento fundamentalista há quase dois anos, o povo afegão foi jogado à pobreza e hoje enfrenta uma batalha contra a insegurança alimentar. Com as sanções aplicada pelo Ocidente aos governantes, houve suspensão de transferências bancárias, e bilhões de dólares foram congelados.
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