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quarta-feira, 12 de abril de 2023

Entenda o caso do vazamento de documentos do Pentágono que virou um problema para os EUA

Diversos documentos do governo norte-americano, supostamente contendo informações confidenciais do Pentágono, a sede do Departamento de Defesa dos EUA, vazaram nas últimas semanas. Eles contêm dados sigilosos sobre a guerra na Ucrânia e sobre governos aliados. O embaraçoso episódio, que tornou-se um problema para Washington, está longe de ser esclarecido. A Referência reúne aqui algumas das informações mais relevantes para tentar entender o vazamento.

Pentágono, em Washington D.C, sede do Departamento de Defesa (Foto: Pixabay/12091)
Qual a origem dos documentos e do vazamento?

Essa é a pergunta que ninguém sabe responder e que mais gera especulações. O secretário de Defesa Lloyd Austin afirmou que os documentos “estavam em algum lugar na web”. Mas admitiu não saber exatamente onde ou quem tinha acesso. “Nós simplesmente não sabemos”, disse ele na terça-feira (11). “Continuaremos a investigar e revirar todas as rochas até encontrarmos a origem e a extensão disso”, acrescentou, segundo a agência Associated Press (AP).

As primeiras fotos do material parecem ter surgido no início de março na rede social Discord, usada sobretudo por jogadores de videogame. No entanto, o site investigativo Bellingcat destaca a possibilidade, baseada em indícios observados nas imagens, de que outros documentos tenham sido publicados anteriormente, embora não se tenha certeza sobre isso.

As suspeitas de vazamento inicialmente recaem sobre russos e ucranianos, embora ambos tenham questionado a veracidade do material. Mykhailo Podolyak, conselheiro do presidente da Ucrânia Volodymyr Zelensky, usou o aplicativo de mensagens Telegram para culpar Moscou pelo episódio e questionou a autenticidade dos documentos, que contém muitas informações de interesse da Rússia na guerra. Ele disse que os dados “não têm nada a ver com os planos reais da Ucrânia”.

Do lado russo, o porta-voz presidencial Dmitry Peskov disse à rede CNN que o material evidencia o envolvimento profundo dos EUA e da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) no conflito, ao lado da Ucrânia. “Esse nível de envolvimento está aumentando, está aumentando gradualmente”, disse ele. “Estamos de olho nesse processo”.

Porém, um canal pró-Kremlin no Telegram agiu como Kiev e igualmente contestou a veracidade dos papeis, dizendo que o suposto vazamento seria parte da estratégia de desinformação ocidental. O canal alega que os aliados ucranianos querem “enganar nosso comando para identificar a estratégia do inimigo na próxima contraofensiva” das forças ucranianas.

Qual o conteúdo dos documentos?

De acordo com o jornal The New York Times, que revelou o caso em primeira mão, os documentos vazados parecem ser provenientes de fontes diversas. Alguns são classificados como ultrassecretos, e a maioria está relacionada à guerra na Ucrânia. Nesse caso, eles abordam as campanhas de Moscou e Kiev na guerra, descrevem as capacidades dos dois exércitos e fazem projeções para o conflito.

Uma das análises, que não chega a ser novidade, é a de que russos e ucranianos não farão grandes avanços neste ano na região de Donbass. O material contém ainda informações que poderiam ajudar Moscou, como mapas da defesa área ucraniana e detalhes da infiltração de agentes norte-americanos nos serviços de inteligência militar russos.

O que mais incomoda o governo Biden, porém, são as revelações atreladas a aliados de Washington. Por exemplo, o fato de que o Mossad, a inteligência de Israel, teria incentivado seus funcionários e civis israelenses a participarem dos recentes protestos contra o governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu. Revela ainda que a Coreia do Sul, ao contrário do que diz publicamente, planejava enviar munição a Kiev.

O material é autêntico?

A agência Al Jazzera destaca algumas declarações recentes sugerindo que, ao menos em parte, o material vazado realmente pertence ao governo dos EUA. Chris Meagher, porta-voz do Pentágono, declarou no domingo (9) que as fotos “parecem mostrar documentos semelhantes em formato” aos papeis que são habitualmente entregues a autoridades militares norte-americanas.

Segundo o Departamento de Defesa, os documentos “parecem conter material sensível e altamente classificado”, mas a autenticidade ainda está sendo analisada. E acrescenta que o governo já está agindo para evitar que o caso se repita, tendo adotado “medidas para examinar mais de perto como esse tipo de informação é distribuída e para quem”.

Porém, os EUA alegam que ao menos parte do material sofreu adulterações. Não está claro quais dados foram modificados, mas as suspeitas recaem sobre a estimativa do número de baixas na guerra da Ucrânia.

As fotos divulgadas exibem um número de baixas entre as tropas russas menor que os dados divulgados oficialmente pelo governo norte-americano. No caso das forças armadas ucranianas ocorre o contrário: os números exibidos nas imagens são maiores que os anunciados publicamente. Tais circunstâncias são compatíveis com a retórica russa de que o prejuízo militar para o país não é relevante.

Quais países são citados?

Além de Ucrânia, Rússia, Israel e Coreia do Sul, países já citados acima, outras nações aliadas aos Estados Unidos aparecem nos papeis. Os Emirados Árabes Unidos surgem em um caso ligado a Moscou, segundo o qual agentes russos teriam se gabado de convencer a nação petrolífera a trabalhar “contra as agências de inteligência dos EUA e do Reino Unido”.

O Egito surge no vazamento como uma possível fonte de foguetes e munição para a Ucrânia na guerra contra a Russia, mesma situação relacionada à Coreia do Sul. É o caso também da Sérvia, uma das poucas nações que não concordaram em sancionar Moscou, mas que, segundo a agência Reuters, teria aceitado enviar munição para equipar as forças ucranianas.

No caso de Moscou, uma importante revelação, segundo a Al Jazeera, é a de que a inteligência dos EUA está presente com muito mais força do que se imaginava nas forças armadas russas e no Wagner Group, organização paramilitar aliada ao Kremlin. No que tange a Kiev, a revelação mais impactante é a de que Washington vinha monitorando as ligações telefônicas entre Zelenskyy e autoridades militares.

Quais as consequências do vazamento?

Em um primeiro momento, os efeitos imediatos tendem a ser direcionados a Rússia e Ucrânia, que poderiam mudar suas estratégias militares devido aos segredos supostamente revelados pelos documentos do Pentágono. Já os EUA modificariam as operações de inteligência expostas pelo vazamento, segundo o New York Times.

Porém, o jornal destaca que casos anteriores de documentos expostos tiveram efeitos bem menos severos que os imaginados inicialmente. Como o WikiLeaks, pelo qual foram revelados documentos diplomáticos que, no final das contas, pouco impactaram na relação entre Washington e outras nações. Situação semelhante ocorreu com as revelações feitas por Edward Snowden em 2013, que igualmente tiveram pouco impacto sobre as operações norte-americanas de inteligência.

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