Ao menos quatro pessoas morreram em dois ataques a bomba na cidade de Quetta, capital da província do Baluchistão, no Paquistão, na segunda-feira (10). O governo local classificou as ações como terrorismo, e um grupo separatista local reivindicou a autoria. As informações são da agência Al Jazeera.
Foi o primeiro dos dois ataques que causou as mortes. “Um veículo da polícia foi alvo na área de Qandhari Bazar da cidade. Entre os mortos, dois são policiais, enquanto uma menina e outro civil morreram”, disse Waseem Baig, porta-voz do hospital local.
Além da quatro mortes, a primeira bomba feriu ao menos 15 pessoas. Um segunda explosão ocorreu horas depois e igualmente atingiu um carro da polícia, deixando quatro pessoas feridas. Não houve vítimas fatais nesse segundo episódio de violência.
O Exército de Libertação Balúchi (ELB), um grupo que luta pela independência da província paquistanesa e está listado como organização terrorista por Washington, reivindicou responsabilidade pelas explosões.
Os ataques podem ter relação com uma operação realizada pela inteligência paquistanesa na última sexta-feira (7), que levou à prisão de Gulzar Imam, popularmente conhecido como Shambay. Tido por Islamabad como um importante separatista, ele foi o fundador do extinto Exército Nacionalista Balúchi (ENB) e é acusado de ligação com inúmeros ataques no país.
A detenção dele parece ter dado início a uma onda de violência de grupos separatistas. No domingo (9), um dia antes das explosões, outros dois policiais haviam sido mortos quando homens armados atacaram um destacamento das forças de segurança em Quetta. Não há informações precisas sobre a autoria deste ataque.
De acordo com um comunicado divulgado pelo gabinete do primeiro-ministro, o Comitê de Segurança Nacional (NSC), um órgão federal que responde diretamente ao chefe de governo, lançou uma operação militar nacional para tentar solucionar os crescentes problemas de segurança no país.
Além dos separatistas balúchis, outro alvo do governo paquistanês é o Tehrik-e Taliban Pakistan (TTP), popularmente conhecido como Taleban do Paquistão, com quem o governou chegou a firmar dois acordos fracassados de cessar-fogo.
Por que isso importa?
O Baluchistão se estende por três países, Paquistão, Irã e Afeganistão. É uma região árida, montanhosa e rica em recursos minerais, cujo nome vem dos balúchis, um povo muçulmano essencialmente sunita que é originário do Irã e habita a área.
A porção paquistanesa é a mais extensa e tem sido palco de muita violência nos últimos anos. Grupos separatistas que atuam na região entraram em conflito com o governo do Paquistão, o que gerou milhares de mortes desde 2004. Organizações extremistas islâmicas ajudam a aumentar a tensão.
A luta dos separatistas é por maior autonomia política em relação a Islamabad e pelo direito de explorar os vastos recursos da região. Isso gerou desavenças particularmente com a China, sob a acusação de que o Corredor Econômico China-Paquistão (CPEC), anunciado em 2015, estaria sugando as riquezas da região sem melhorar as condições da população local.
Com um orçamento de US$ 60 bilhões, o CPEC projeta ligar a cidade portuária de Gwadar, no Baluchistão, a Xinjiang, no noroeste da China, por meio de obras de rodovias e ferrovias. O acordo ainda prevê projetos de energia para atender às necessidades de abastecimento do Paquistão.
Os balúchis argumentam que o projeto bilionário de infraestrutura não tem beneficiado a região, enquanto outras províncias paquistanesas colhem os frutos. O caso gera protestos generalizados, e os chineses são vistos como invasores dispostos a extrair as riquezas da região.
O principal grupo radical atuante no Baluchistão é o ELB, que em 2019 foi inserido pelos EUA na lista de grupos terroristas internacionais. A Frente de Libertação do Baluchistão (BLF) é outra organização de forte presença na região.
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