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sábado, 15 de abril de 2023

Chefe do Wagner Group desafia o poder de Putin e se prepara para entrar na política

Evgeny Prigozhin, chefe dos mercenários do Wagner Group e antigo aliado de Vladimir Putin, há tempos é visto também como um dos principais candidatos a destronar o presidente da Rússia. O distanciamento atual entre os dois é evidente, conforme o empresário amplia suas críticas e se isola cada vez mais do governo. Agora, reforçando a suspeita de que sonha comandar o Kremlin no futuro, ele tem trabalhado para ingressar na política.

Segundo relatório publicado nesta semana pelo think tank norte-americano Instituto para o Estudo da Guerra (ISW, da sigla em inglês), Prigozhin tem atuado para assumir o controle do partido Rússia Justa. Para isso, vem se aproximando cada vez mais do líder da sigla, Sergey Mironov, o que levou quatro importantes figuras a deixarem o partido para formarem um novo.

O presidente russo Vladimir Putin, de preto, e o empresário Evgeny Prigozhin (à dir.) (Foto: WikiCommons)

O documento diz que a proximidade entre os dois fica evidente pelo trabalho de Mironov para que o Wagner Group recebesse o devido reconhecimento na Rússia, gerando insatisfação no Kremlin. Isso porque a organização paramilitar vem tentando roubar do exército regular parte do reconhecimento pelo sucesso militar na guerra da Ucrânia.

Por exemplo, os mercenários reivindicaram os créditos pela tomada de Soledar, uma estratégica cidade ucraniana abundante em riquezas naturais na região de Donetsk, agora parcialmente ocupada por forças da Rússia. Putin entrou em cena e rejeitou as alegações de Prigozhin, afirmando que apenas as forças regulares atuaram na conquista.

De olho no trono

As especulações de que o empresário sonha inclusive com a presidência do país ganharam força nos últimos meses. Em fevereiro, o consultor político Jason Jay Smart, que viveu e trabalhou em diversas ex-repúblicas soviéticas, colocou Prigozhin como um dos candidatos ao trono caso Putin viesse a ser derrubado.

“Às vezes os líderes caem não porque fizeram algo errado aos olhos de seus cidadãos, mas simplesmente porque um jovem leão deseja usurpar o velho rei leão”, disse Smart se referindo ao empresário, em artigo publicado pelo jornal Kyiv Post.

No texto, o analista destaca a aliança entre o chefe do Wagner Group e o presidente, mas admite que ela parece cada vez mais fragilizada. “Prigozhin, um ex-criminoso de rua, deve sua fortuna a Putin, mas alguns especulam que ele pode reconhecer a mudança dos ventos na Rússia como sua própria janela de oportunidade para subir a escada até o primeiro lugar”.

Análise semelhante fez a jornalista Candace Rondeaux em artigo para a rede CNN publicado no início de março. Diz ela que Prigozhin “está sendo alternadamente falado como um rival em potencial do presidente da Rússia, Vladimir Putin, ou um alvo de assassinato”.

Agora, as ambições políticas dele deixam de ser mera análise e se aproximam cada vez mais do factual. Em seu relatório, o ISW afirma que Mironov “provavelmente está tentando reviver sua influência política e usar Prigozhin como patrono de suas ambições políticas”.

Entretanto, a caminhada dele tende a ser difícil. Na semana passada, o empresário voltou a criticar o governo, que pela primeira vez respondeu publicamente. Na ocasião, Prigozhin reclamou da atuação do Ministério das Relações Exteriores russo na África, continente onde a Rússia tem ampliado sua força com uma ajuda crucial do Wagner Group.

Segundo o empresário, a diplomacia russa não faz “absolutamente nada” no continente africano, por isso o Wagner Group enfrenta “enormes dificuldades” por lá. O Ministério respondeu de forma protocolar, dizendo-se pronto para cooperar com empresas e empresários russos para promover negócios nacionais no exterior.

Diante da crescente rivalidade entre Prigozhin e o governo, que incontestavelmente respinga em Putin, o relatório do think tank afirma que o Ministério das Relações Exteriores e “outras instituições do governo russo e afiliados ao Kremlin provavelmente procuram impedir qualquer tentativa de Prigozhin de obter apoio público ou político”.

Nesse cenário, quem projetou um desfecho foi a cientista política russa Tatiana Stanovaya, em artigo para o jornal The Moscow Times. Segundo ela, “Prigozhin não está preparado para desafiar Putin”. E, enquanto o presidente se mantiver “relativamente forte e capaz de manter o equilíbrio entre vários grupos de influência”, o empresário “não é perigoso”.

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