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domingo, 2 de abril de 2023

Rússia pode ganhar nova empresa militar privada nos moldes do Wagner Group

A Rossotrudnichestvo (Agência Federal para Assuntos da CEI, Compatriotas que Vivem no Exterior e Cooperação Humanitária Internacional) anunciou no sábado (1°) que Moscou tem planos de estabelecer uma empresa militar privada (PMC, da sigla em inglês), espelhada no Wagner Group. As informações são da agência estatal turca Anadolu.

Pelo Telegram, Evgeny Primakov, chefe da órgão do Kremlin voltado ao desenvolvimento de laços com países estrangeiros, justificou que a agência necessita ter sua própria força militar, de modo a proteger suas filiais em países “hostis”. No caso, nações que criticam a invasão das tropas de Vladimir Putin ao território ucraniano.

“A Rossotrudnichestvo é forçada a reagir à deterioração da situação com o funcionamento de nossos escritórios em países hostis, percebendo que as acusações histéricas contra nós continuarão”, escreveu Primakov.

Combatentes do Wagner Group: presença cada vez maior no continente africano (Foto: VK/reprodução)

Ele acrescentou que a nova organização paramilitar servirá para proteger os russos.

“Nós, de fato, não temos nada a perder, então, percebendo que precisamos de alguma forma garantir a segurança dos lares russos e os direitos de nossos compatriotas, não tendo outras ferramentas, decidimos registrar em uma das jurisdições estrangeiras nosso próprio PMC”, disse ele.

Primakov sustenta que as PMCs “provaram” sua eficiência e que o “aparecimento de pessoas bem armadas, robustas e motivadas” nos escritórios da Rossotrudnichestvo tornará o trabalho nas trilhas culturais e humanitárias “mais visível”.

Ele também disse esperar que as pessoas que reclamaram da “incapacidade da Rússia em fornecer defesa a seus compatriotas” se sintam “satisfeitas” com tal decisão.

Primakov disse que os documentos sobre o estabelecimento da PMC seriam apresentados até o final do sábado, sem especificar para quais países ela serviria. Caso seja registrada, será a segunda organização a terceirizar serviço militar no país depois do Wagner, que ficou conhecido por suas operações brutais na África e na Ucrânia.

Wagner Group, que há até pouco tempo era uma organização envolta em mistério, resolveu definitivamente tornar sua existência pública. Tanto que o grupo inaugurou em São Petesburgo, a segunda maior cidade da Rússia, sua base central de operações, que servirá também como centro para desenvolvimento de novas tecnologias militares a serviço do país. 

Em fevereiro, a inteligência do Ministério da Defesa da Ucrânia disse que a estatal de energia Gazprom, controlada pelo governo da Rússia, estaria criando sua própria empresa militar privada. A partir dela, as forças russas ampliariam seu expressivo contingente de mercenários no front.

A inteligência ucraniana também detalhou que a criação da nova PMC seria legitimada a partir de uma lei russa relativa à “segurança de objetos do complexo de combustível e energia”. A legislação garante a entidades do setor “o direito de estabelecer uma organização de segurança privada”. A lei também estabelece que as entidades não podem ter menos de 50% de participação na empresa militar privada resultante.

Por que isso importa?

O nome do Wagner Group remete ao pseudônimo do fundador Dmitriy ‘Wagner’ Valeryevich Utkin, que por sua vez tomou como referência o compositor alemão favorito de Hitler e um dos símbolos da Alemanha nazista. Posteriormente, Prigozhin tornou-se responsável pelo financiamento da organização e passou a ser a cara mais conhecida à frente dela.

A atuação do Wagner sempre foi envolta em mistério, inclusive com alegações de que sequer existia. Porém, as inesperadas dificuldades enfrentadas por Moscou na guerra na Ucrânia levaram o Kremlin a buscar reforços, e os mercenários surgiram como alternativa. A ponto de o grupo ter o nome citado na TV estatal e de ter criado uma campanha para recrutar novos membros na Rússia.

Há indícios de que ao menos dez mil pessoas já serviram ao Wagner Group desde que ele deu as caras pela primeira vez. Foi em 2014, quando os mercenários foram destacados para dar suporte às forças separatistas pró-Rússia da região de Donbass e na Crimeia, na Ucrânia.

De lá para cá, há sinais de presença do grupo em conflitos em diversos partes do mundo, principalmente na África, onde está em pelo menos seis países africanos.

Para isso, conta com o suporte da propaganda do Kremlin, que há anos realiza uma campanha de influência no continente, sobretudo focada em nações politicamente instáveis. O governo russo faz uso das redes sociais para difundir uma imagem favorável junto à população local e atua até mesmo para influenciar os protestos de rua.

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