A ONG norte-americana Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ) saiu em defesa de jornalistas e veículos de mídia russos em meio à perseguição empreendida por Moscou. Nesta terça-feira (3), a entidade instou a Rússia a colocar fim ao que classificou como “assédio”, após o site investigativo “The Insider” ser incluído na lista de “agentes estrangeiros”.
A nota de repúdio da CPJ se apega principalmente ao episódio vivido pelo jornalista Roman Dobrokhotov, editor-chefe do site investigativo The Insider, que chegou a ser detido após a polícia realizar uma ação de busca no apartamento em que ele mora em Moscou.
A ação confiscou celulares, laptop, tablets e o passaporte de Dobrokhotov, o que o impediu de viajar ao exterior no dia da ocorrência, disse ele ao CPJ. Os itens não foram devolvidos.
“As autoridades russas demonstraram mais uma vez como a injusta lei de agentes estrangeiros do país é usada para reprimir as reportagens de teor crítico”, disse o diretor do programa do CPJ, Carlos Martínez de la Serna, em Nova York, acrescentando que as autoridades russas devem “abster-se de assediar representantes da mídia e suas famílias”.
Embora o governo russo não tenha feito declaração oficial sobre as batidas, Dobrokhotov confirmou que as ações policiais foram conduzidas como parte de uma investigação criminal por difamação decorrente de um tweet de novembro de 2020. O post em questão se referia a uma investigação do The Insider sobre o holandês Max van der Werff, que teria recebido dinheiro da inteligência militar russa para espalhar desinformação e, assim, desmentir o papel da Rússia na queda do vôo 17 da Malaysian Airlines em 2014.
Dobrokhotov disse ao CPJ que acredita que o caso foi apenas um pretexto para que as autoridades revistassem sua casa e confiscassem seus dispositivos, de modo a encontrar material para outras medidas restritivas contra a The Insider e obter acesso às suas fontes.
“Agente estrangeiro”
Na dia 23 de julho, após a publicação de reportagens desfavoráveis ao presidente Vladimir Putin, a Rússia declarou o site investigativo The Insider e cinco jornalistas do veículo como “agentes estrangeiros”. A medida seria um ato de vingança contra a mídia independente por ajudar a revelar o papel do Kremlin nos envenenamentos de Salisbury e em outras tentativas de assassinato da FSB (Agência de Segurança Federal, da sigla em inglês).
A designação de “agente estrangeiro” carrega conotações negativas da era soviética e serve para rotular o que seriam organizações envolvidas em atividades políticas financiadas pelo exterior. A classificação acaba por afastar potenciais parceiros e anunciantes.
Os veículos taxados por tal regulamentação também ficam obrigados a fornecer ao governo relatórios detalhados sobre suas finanças e atividades.
Jornalistas independentes ou representantes de veículos de mídia que tenham se esquivado das exigências três vezes após ter o nome incluído na lista podem pegar pena de até dois anos de prisão, de acordo com o código penal russo.
Repressão
A repressão do governo Vladimir Putin a veículos de imprensa tem aumentado. Sites noticiosos, como Meduza e VTimes, também foram declarados “agentes estrangeiros”.
Em julho, a Justiça da Rússia também tornou a atuação do Proekt (Projeto, em tradução literal), em represália contra uma série de reportagens sobre erros ou ações questionáveis do presidente Vladimir Putin e de alguns de seus aliados.
Muitos jornalistas ligados ao oposicionista Alexei Navalny, atualmente preso em Moscou, tiveram suas casas invadidas pela polícia sob ordens de busca e apreensão. A RFE recebeu multas milionárias.
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