A prisão do ativista taiwanês Yang Chih-yuan por Beijing, sob a acusação de “separatismo”, levou o governo de Taiwan a aconselhar seus cidadãos a evitarem ao máximo viajar para a China, sob risco de sofrerem destino semelhante. As informações são da rede Radio Free Asia.
A advertência foi feita pelo Conselho de Assuntos do Continente (MAC) de Taiwan, que gerencia os laços com a China. “Os cidadãos de Taiwan devem ter cautela ao viajar para a China, devido a potenciais riscos à liberdade e à segurança pessoais”, disse o órgão, segundo a Agência Central de Notícias (CNA, na sigla em inglês).
A CNA também afirmou que a detenção de Yang, vice-presidente do Partido Nacional de Taiwan, é vista pelo governo taiwanês como uma represália chinesa à visita da parlamentar norte-americana Nancy Pelosi à ilha, que aconteceu entre terça (2) e quarta-feira (3). Yang foi preso na cidade chinesa de Wenzhou, província de Zhejiang, quando visitava a China.
Guo Baosheng, dissidente exilado que conhece Yang, elaborou uma teoria para explicar a surpreendente ida do amigo ao país. “Ele odiava o PCC (Partido Comunista Chinês) e jurou que nunca voltaria à China, a menos que fosse a China livre”, afirmou. “Ele provavelmente pensou que não havia risco e foi para lá. Além disso, acho que alguns agentes espiões o enganaram fingindo ser [ativistas] perseguidos”.
A detenção levou a uma nota de repúdio do Partido Democrático Progressista (DPP), atualmente no poder em Taiwan. “A China, que afirma ser uma grande potência, abusou repetidamente de seu sistema judicial para deter taiwaneses por motivos de segurança nacional”, disse a sigla em comunicado.
Ao menos dois cidadãos de Taiwan estão detidos atualmente na China em circunstâncias semelhantes. Um deles é o acadêmico aposentado da Universidade Normal de Taiwan Shih Cheng-ping. O outro, o acadêmico independente Cheng Yu-chin. Ambos são acusados de espionagem e de ameaçar a segurança nacional.
No comunicado, o DPP disse ainda que Beijing adotou “uma série de ações irracionais” para pressionar Taiwan recentemente, um “comportamento malicioso de bullying” a fim de “semear medo entre o povo taiwanês e forçar Taiwan a se submeter”.
“Hoje eles se rebaixaram a usar a liberdade pessoal de um cidadão taiwanês para chantagem política”, afirmou o DPP. “Significa que o povo taiwanês na China pode ser preso a qualquer momento como parte desta campanha de terror vermelho”.
Por que isso importa?
Taiwan é uma questão territorial sensível para os chineses. Nações estrangeiras que tratem a ilha como nação autônoma estão, no entendimento de Beijing, em desacordo com o princípio “Uma Só China“, que também encara Hong Kong como parte do território chinês.
Embora não tenha relações diplomáticas formais com Taiwan, assim como a maioria dos demais países, os EUA são o mais importante financiador internacional e principal fornecedor de armas do território. Tais circunstâncias levaram as relações entre Beijing e Washington a seu pior momento desde 1979, quando os dois países reataram os laços diplomáticos.
A China, em resposta, endureceu a retórica e tem adotado uma postura belicista na tentativa de controlar a situação. Jatos militares chineses passaram a realizar exercícios militares nas regiões limítrofes com Taiwan e habitualmente invadem o espaço aéreo taiwanês, deixando claro que Beijing não aceitará a independência formal do território “sem uma guerra“.
A crise ganhou contornos ainda mais dramáticos após a visita de Pelosi, primeiro membro da Câmara a viajar para Taiwan em 25 anos, uma atitude que mexeu com os brio de Beijing. Em resposta, o exército da China realizou um de seus maiores exercícios militares no entorno da ilha, com tiros reais e testes de mísseis em seis áreas diferentes.
O treinamento serve como um bloqueio eficaz, impedindo tanto o transporte marítimo quanto a aviação no entorno da ilha. Assim, voos comerciais tiveram que ser cancelados, e embarcações foram impedidas de navegar por conta da presença militar chinesa.
Beijing, que falou em impor “sérias consequências” como retaliação à visita, também sancionou Taiwan com a proibição das exportações de areia, material usado na indústria de semicondutores e crucial na fabricação de chips, e a importação de alimentos, entre eles peixes e frutas. Quatro empresas taiwanesas rotuladas por Beijing como “obstinadas pró-independência” também foram sancionadas.
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