A velocidade de transmissão da Covid-19 na Índia deve fazer com que o país alcance um milhão de mortes até agosto, previu a revista médica “The Lancet”, em um editorial lançado no último sábado (8).
A publicação ainda atribui a responsabilidade das mortes ao primeiro-ministro Narendra Modi e seus erros na gestão da emergência sanitária, o que classifica como uma “catástrofe autoinflingida”.
“Seu governo parecia mais decidido a remover as críticas do Twitter que tentar controlar a pandemia”, diz o artigo, ao culpar Nova Délhi por não prestar atenção ou tentar impedir o aumento sem precedentes de Covid-19 em todo o país.
De acordo com o editorial, as autoridades da Índia erraram ao permitir que festivais religiosos prosseguissem, apesar das advertências. Modi autorizou a realização do Kumbh Mela, festival religioso hindu que reuniu milhões de pessoas em 13 de abril, segundo a BBC.
O governo também foi irresponsável ao afirmar que a Covid-19 havia “acabado” e por retardar o início da campanha de vacinação à população. Até agora, menos de 2% da população de 1,3 bilhão de habitantes foi vacinada – uma “verdadeira catástrofe”, classificou o artigo.
A situação deve afetar a entrega de vacinas em todo o mundo. Boa parte dos países recebe as doses do Instituto Serum, o maior fabricante das doses da AstraZeneca e vinculado à iniciativa de vacinas Covax, capitaneada pela OMS (Organização Mundial da Saúde).
Enquanto isso, o governo de Modi e o dono do Instituto Serum, Adar Poonawalla, embarcam em um embate público sobre a rapidez na produção de vacinas e a capacidade da Índia de produzir as doses que imunizarão boa parte dos países mais pobres ao redor do mundo, apontou o Quartz India.
Caminhos à frente
Para a revista médica, a Índia deve superar dois gargalos imediatamente. O primeiro é aumentar a oferta de vacinas e estabelecer uma campanha de imunização que não cubra apenas os cidadãos urbanos. A inoculação deve alcançar também as áreas rurais e mais pobres, onde está 65% da população – cerca de 800 milhões de pessoas.
A segunda medida é voltada para o governo. Especialistas concordam que Modi deve se concentrar em reduzir a transmissão do vírus através de bloqueios locais e mensagens “corretas”. “As ações de Modi na tentativa de abafar as críticas e abrir a discussão durante a crise são imperdoáveis”, diz o artigo.
Além disso, dados precisos são essenciais. Refém da subnotificação, o país asiático pode ter números até três vezes maiores que os relatados pelo governo indiano. Oficialmente, a Índia registrou 22,7 milhões de contágios e 247 mil mortes pelo vírus até esta segunda-feira (10).
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