A crescente repressão do presidente russo Vladimir Putin contra dissidentes reflete a tensão na política do país, disseram especialistas à Radio Free Europe. O ano promete percalços para o líder do Kremlin, que prepara sua base para as eleições do Parlamento em setembro.
O pleito deve ser o principal marco político nacional até o final de seu mandato, em 2024. “Uma guerra está acontecendo”, disse Andrei Kolesnikov, analista do think tank Carnegie Moscow Center. “É um momento perigoso”.
Kolesnikov se refere à série de medidas de repressão aprovadas por Putin e implementadas no apagar das luzes de 2020. Primeiro, o Comitê Investigativo anunciou um novo processo criminal contra o líder da oposição Alexei Navalny.
Vítima de uma tentativa de envenenamento em agosto, o político é acusado de “fraude em grande escala”. Ao anunciar seu retorno à Rússia nesta quinta (14), a Justiça emitiu um mandato para sua captura assim que pisar em território russo.
Além de Navalny, o Judiciário já acrescentou outros cinco indivíduos à lista de “meios de comunicação com funções de agente estrangeiro“. A controversa legislação pode aplicar sanções a qualquer cidadão no país.
O cerco a dissidentes também inclui novas restrições impostas a qualquer manifestação pública. O governo criminalizou o bloqueio de ruas e a “difamação online“. Condenados poderão receber como pena até dois anos de prisão.
“Esses acontecimentos formam um contexto geral de intensificação da pressão das autoridades sobre a parte ativa da sociedade”, analisou Denis Volkov, diretor do instituto de pesquisas independente Levada Center.
Maioria pró-Putin em queda
A pandemia e a baixa nos preços do petróleo acelerou a maior queda na popularidade de Putin e de seu partido, o Rússia Unida, dos últimos três anos. Com a pobreza em alta, estima-se que um em cada sete russos seja pobre.
O percentual equivale a quase 21 milhões de habitantes abaixo da linha da pobreza, um aumento de 15% desde 2014. Meio milhão entraram nas estatísticas entre agosto de 2019 e agosto de 2020.
Em consequência, os índices de desaprovação de Putin são semelhantes aos período entre 2011 e 2012, quando o atual presidente voltou ao Kremlin depois de um mandato de Dmitri Medvedev e com o autocrata na função de primeiro-ministro.
“Antes podíamos falar com segurança sobre a existência de uma maioria pró-Putin”, disse Kolesnikov. “Agora é muito difícil dizer se existe, se pode ser mobilizado durante as eleições. Esses grupos podem não ter uma mentalidade democrática, mas estão insatisfeitos com a situação atual”.
“Navalny é o líder da rua”, prevê Mikhail Kasyanov, ex-primeiro-ministro durante o primeiro mandato de Putin, de 2000 a 2004, e hoje na oposição. Para o político, o endurecimento das leis contra protestos é sinal de receio da perda do poder.
“As autoridades estão tentando remover o líder de quaisquer possíveis protestos de massa no futuro”, apontou.
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