Moscou culpou seus próprios soldados pelo ataque ucraniano que matou ao menos 89 combatentes russos em uma instalação militar atingida nos primeiros minutos de 2023. Segundo as forças armadas da Rússia, o uso de aparelhos celulares de maneira indevida permitiu a Kiev identificar o local e assim realizar o bombardeio.
O ataque realizado pela Ucrânia ocorreu na cidade de Makiivka, na região de Donetsk, ocupada pela Rússia desde 2014, e foi um dos mais mortíferos contra as forças do Kremlin desde o início da guerra. Inicialmente, a Rússia falou em 63 mortos, mas depois atualizou para 89. Já Kiev, afirma que a quantidade de baixas é bem maior, perto de 400, embora ambas as alegações careçam de verificação independente.
Na terça-feira (3), o tenente-general Sergei Sevryukov afirmou que o sinal dos celulares permitiu que as forças de Kiev “determinassem as coordenadas de localização” e assim realizassem o ataque. Ele ainda disse, segundo a agência Associated Press (AP), que as forças armadas estão trabalhando para “evitar incidentes trágicos semelhantes no futuro” e prometeu punição aos oficiais responsáveis.
Cúpula militar russa sob ataque
O local atingido não abrigava soldados profissionais, e sim recrutas recentemente adicionados às fileiras no programa de mobilização estabelecido pelo presidente Vladimir Putin. A instalação também servia como um depósito de munição e armas, o que aumentou a intensidade da explosão.
Considerando os 89 mortos, a ação é a mais mortífera admitida por Moscou até agora na guerra. Embora Putin continue sendo poupado, o episódio gerou críticas de parentes de militares à cúpula do setor de Defesa da Rússia, com alegações de que os comandantes têm sido incompetentes na gestão da guerra.
Importantes figuras pró-Kremlin reforçam esse coro. Pavel Gubarev, ex-alto funcionário nomeado pelo governo russo para a região de Donetsk, destacou a “negligência criminosa” de colocar soldados perto de um depósito lotado de munição e armas. “Se ninguém for punido por isso, só vai piorar”, disse ele, de acordo com a rede BBC.
Andrei Medvedev, um parlamentar de Moscou, disse que era possível prever que as forças armadas de alguma forma culpariam os soldados, não os comandantes. “A história certamente preservará os nomes daqueles que tentaram manter o silêncio sobre o problema e daqueles que tentaram culpar o soldado morto por tudo”, escreveu ele no aplicativo de mensagens Telegram.
Já Semyon Pegov, correspondente de guerra condecorado por Putin, disse no mesmo Telegram que a explicação do uso de celulares pelos recrutas “parece uma tentativa direta de dispersar a culpa” e que a Ucrânia poderia ter localizado a base de outras maneiras diferentes.
Também de acordo com Pegov, é possível que o número de mortos aumente com o tempo, devido à presença das munições e armas no local atingido. “Os dados anunciados são mais prováveis para aqueles que foram imediatamente identificados. A lista de desaparecidos, infelizmente, é visivelmente mais longa”, disse ele, segundo a agência Reuters
Mobilização militar mais ampla
Embora não tenha se pronunciado especificamente sobre o ataque, Putin assinou na terça-feira (3) um decreto segundo o qual as famílias dos soldados da Guarda Nacional mortos em serviço receberão 5 milhões de rublos (R$ 373 mil).
Já o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky afirmou que o Kremlin agora considera retomar o recrutamento de cidadãos, que oficialmente já foi encerrado. Kiev diz que o governo russo ampliará a mobilização e fechará as fronteiras para evitar que os cidadãos fujam do país, como aconteceu no ano passado.
“Não temos dúvidas de que os atuais senhores da Rússia jogarão tudo o que têm e todos que puderem reunir para tentar virar a maré da guerra e pelo menos atrasar sua derrota”, disse Zelensky em seu vídeo noturno na terça-feira (3). “Temos que interromper esse cenário russo. Estamos nos preparando para isso. Os terroristas devem perder. Qualquer tentativa de sua nova ofensiva deve falhar”.
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