Os militares que tomaram o poder em Mianmar há um mês reagiram com ironia às ameaças de sanção da ONU (Organização das Nações Unidas). À enviada Christine Schraner Burgener, o vice-chefe do Exército, general Soe Win, afirmou que o governo não teme retaliações pelo golpe.
“Avisei-o que provavelmente enfrentariam fortes medidas não apenas da ONU, mas de vários países”, relatou Burgener à Reuters. “A resposta foi ‘estamos acostumados a sanções e sobreviveremos'”.
Quando alertado sobre a possibilidade de isolamento, Soe afirmou que “é necessário aprender a andar com alguns poucos amigos”. A enviada deve informar a posição dos militares birmaneses ao Conselho de Segurança da ONU nesta sexta (5).
Os militares de Mianmar deram um golpe de Estado no dia 1º de fevereiro após alegar fraude nas eleições de novembro, vencidas pela oposição. Políticos oposicionistas foram presos, como a Nobel da Paz de 1991, Aung San Suu Kyi.
Desde então, a violência cresceu no país asiático, de 53,7 milhões de habitantes. Ao menos 38 pessoas morreram nos protestos realizados nesta quarta-feira – o maior número já registrado desde que os militares tomaram o poder à força.
Países como EUA, Reino Unido e Canadá, além da UE (União Europeia), já implementaram ou consideram impor sanções para pressionar os militares e seus aliados comerciais. A maior aproximação de Mianmar da China, porém, diminui a chance de impacto real sobre a economia birmanesa.
O comércio dos EUA com Mianmar alcançou US$ 1,4 bilhão em 2019, apenas um décimo das trocas com a China – de cerca de US$ 17 bilhões no mesmo período, apontou a revista norte-americana “Foreign Policy”.
Foram os chineses que, com a Rússia, barraram a condenação ao golpe militar no Conselho de Segurança da ONU. Como carece de unanimidade em todas suas decisões, o órgão apenas expressou “preocupação” sobre a situação de Mianmar.
Tensão entre embaixadores
Apesar de Mianmar já ter um embaixador na ONU, o novo Ministério das Relações Exteriores do país apoia a posse de um “embaixador-adjunto” para assumir a representação.
Na segunda (1), o diplomata Kyaw Moe Tun confirmou o golpe no país em uma carta às Nações Unidas. O apelo para que os membros da ONU “usassem de todos os meios necessários” para restaurar a liderança civil do país descontentou os militares, que pediram pela remoção do diplomata.
“É uma situação única que não víamos há muito tempo”, disse o porta-voz das Nações Unidas Stephane Dujarric à CNN. A solução para o imbróglio sobre a cadeira de Mianmar na Assembleia-Geral será discutida nesta sexta-feira.
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