Dez anos depois, ainda não há sinal de solução para o conflito da Síria, iniciado em março de 2011. No aniversário de uma década dos confrontos, que já deixaram mais de 590 mil mortos, países aliados reafirmam seu apoio a um cessar-fogo duradouro no país.
Em uma declaração conjunta lançada nesta segunda (15), EUA, Reino Unido, França, Alemanha e Itália se comprometeram novamente em buscar uma solução pacífica para o país. “O presidente Bashar Al-Assad e seus apoiadores são responsáveis pelos anos de guerra e sofrimento que se seguiram. Não abandonaremos o povo sírio”, disseram.
A guerra civil que varreu a nação de 17 milhões de habitantes começou depois dos protestos que irromperam nas ruas de Deraa, Damasco e Aleppo, em 15 de março de 2011. A multidão exigia reformas democráticas e a libertação de presos políticos após a notícia da tortura de um grupo de adolescentes em Deraa, dias antes.
A polícia não poupou sua força aos meninos acusados de pichar muros com denúncias contra Al-Assad, que herdou o poder de seu pai Hafez em 2000. A repressão violenta instaurada pelo governo descontentou uma parcela dos militares, que deram início ao FSA (Exército Livre da Síria), em julho de 2011.
Com o objetivo de derrubar o governo, o grupo rebelde foi o ingrediente que faltava para transformar a revolta na guerra civil que persiste até hoje. A ONU (Organização das Nações Unidas) estimou mais de 400 mil mortos até 2016. Em dezembro de 2020, o número subiu para 593 mil, de acordo com o Observatório de Direitos Humanos da Síria.
Violência atrai violência
A onda de agressões fomentou a criação de outros grupos rebeldes e atraiu extremistas do Estado Islâmico ao norte e leste da Síria, após a invasão de territórios do Iraque. Enquanto isso, o FSA somou forças com a Turquia e vários países do Golfo. O grupo domina áreas de Idlib, no noroeste sírio, desde 2016.
Outros grupos armados, como o HTS (Hay’et Tahrir al-Sham), filiado à Al-Qaeda, e o Hezbollah libanês também operam no país. O HTS, apesar de entrar na Síria como oposição a Assad, já se diz “independente” no conflito. Já o xiita Hezbollah, apoiado pelo Irã, apoiava o presidente, mas já não controla nenhum território sírio.
Em 2015 surge um novo grupo: as SDF (Forças Democráticas da Síria). A aliança de milícias curdas envolve desertores de grupos armados árabes, turcomenos e armênios e domina as cidades de Raqqa, antigo epicentro do “emirado” do EI (Estado Islâmico), Qamishli e Hasakah.
Esses grupos lutam contra a Turquia, que os considera uma vertente do grupo separatista PKK (Partido dos Trabalhadores Curdos) – considerado terrorista pelo governo de Ancara.
Rastros de destruição
Além dos mortos, os conflitos armados também destruíram a economia e infraestrutura da Síria. Até 2011, o país mantinha centros industriais e econômicos, como Aleppo, em pleno funcionamento. Com a guerra, a cidade se dividiu entre os militares de Assad e o controle rebelde.
Outra cidade em ruínas é Ghouta Oriental, a dez quilômetros da capital Damasco. Já Raqqa, centro político e econômico próximo ao rio Eufrates, está 80% devastada. A cidade foi a primeira tomada pela oposição, em 2011.
Em 2014, militantes do Estado Islâmico a declararam sua capital. Ataques aéreos da coalizão liderada pelos EUA na operação anti-EI, entre 2016 e 2017, consumiram o que restava da estrutura local.
A cidade histórica de Palmyra também figura entre os grandes prejuízos da guerra da Síria. Capturada duas vezes pelo EI, teve estruturas antigas como os templos de Bel e de Baal Shamin, além de seu Arco do Triunfo, destruídos. A cidade está sob o domínio do governo Assad, apoiado pela Rússia, desde 2017.
As sanções dos EUA e a onda de infecções por Covid-19, no ano passado, aprofundaram os danos causados ao país. Cerca de 13 milhões de sírios dependem de assistência humanitária – dentro ou fora do país. A população síria já é um terço de todos os refugiados do mundo. Entre eles, 80% vive abaixo da linha da pobreza.
Uma reunião do Conselho de Segurança da ONU discutiu o conflito da Síria nesta segunda (15). Novamente, os membros reivindicaram um acordo de paz urgente, disse a ONU News. Sem abrigo, combustível escasso e preços de alimentos disparados, a emergência é catastrófica no país com o maior desastre já causado pelo homem desde a Segunda Guerra Mundial.
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