O Wagner Group, organização paramilitar russa privada que já foi vinculada a diversas operações militares não-oficiais em várias partes do mundo, incluindo a Síria, Ucrânia, Líbia e República Centro-Africana, teria também laços comerciais e militares com outro país turbulento.
De acordo com reportagem da rede BBC, os mercenários russos têm sido relatados como fornecendo segurança e treinamento militar para as forças de segurança do Sudão, incluindo o exército e a polícia, além de estarem envolvidos na exploração de recursos naturais no país. Não há evidências, no entanto, de que estejam lá atualmente.
Desde 2017, fontes russas e internacionais publicaram imagens que parecem localizar mercenários russos dentro do Sudão. Lá, o Wagner Group estaria ajudando o governo sudanês a reprimir a dissidência política e os movimentos separatistas em diferentes partes do país.
Em relação aos vínculos comerciais e militares entre o grupo chefiado por Yevgeny Prigozhin e Cartum, há relatos de que o governo do país africano teria contratado a empresa militar privada para fornecer serviços de segurança e proteção para instalações de mineração de ouro no país, que é o terceiro maior produtor do metal nobre na África.
O aliado de longa data do presidente Vladimir Putin nega. Segundo ele, “nem um único combatente Wagner PMC [companhia militar privada] esteve presente no Sudão” por mais de dois anos.
A empresa russa M Invest, que é controlada por Prigozhin, também tem sido mencionada como tendo participado de negociações com o governo sudanês para a exploração de recursos naturais no país.
Omar al-Bashir, ex-presidente do Sudão que foi deposto em 2019, foi acusado de ter feito vários acordos de mineração de ouro com o governo russo. Em 2017, o governo sudanês anunciou um acordo com a Rússia para estabelecer uma “zona econômica especial” na região de Darfur, no oeste do Sudão, para explorar a mineração de ouro.
Um dos tratados incluíam Moscou estabelecer uma base naval em Port Sudan, no Mar Vermelho, bem como “acordos de concessão de mineração de ouro entre a empresa russa M Invest e o Ministério Sudanês de Minerais”.
O Tesouro dos Estados Unidos alega que a M Invest e um grupo subsidiário, Meroe Gold, são fachadas para as atividades do Wagner Group no Sudão.
“Yevgeniy Prigozhin e sua rede estão explorando os recursos naturais do Sudão para ganho pessoal e espalhando influência maligna em todo o mundo”, disse em 2020 o então secretário do Tesouro norte-americano Steven Mnuchin.
A M Invest foi sancionada por Washington em 2018 por supostamente ter apoiado o governo sírio e por ter tentado interferir nas eleições presidenciais dos EUA em 2016.
As sanções incluíram o congelamento de ativos e a proibição de cidadãos e empresas norte-americanas de fazerem negócios com a M Invest. Além disso, vários indivíduos e empresas ligados à empresa, incluindo o próprio Prigozhin, também foram sancionados pelos EUA na mesma época.
Ouro transportado
De acordo com uma investigação feita pela rede CNN, o ouro foi transportado por via terrestre para a República Centro-Africana (RCA), onde Wagner é conhecido por operar exportações não registradas nos dados comerciais oficiais sudaneses.
Quantidades significativas de ouro também foram contrabandeadas através de uma rede de aeroportos militares, segundo apontou uma reportagem publicada ano passado pelo Daily Telegraph.
Evidências
Em 2020, a agência de notícias Reuters divulgou uma reportagem detalhando a presença do Wagner Group no Sudão e suas atividades no país. A matéria citou fontes locais e imagens de satélite que mostravam a presença de mercenários em instalações militares e de segurança no Sudão, incluindo a base naval de Port Sudan. Também mencionou um navio mercante que transportava combatentes que foi detido pelas autoridades sudanesas na mesma base.
Além disso, canais no Telegram ligados ao Wagner Group compartilharam imagens e vídeos que parecem mostrar mercenários do grupo em operações no Sudão. No entanto, a autenticidade dessas imagens não pode ser verificada independentemente.
Em julho de 2022, um desses canais divulgou um vídeo que mostrava um grupo de homens em trajes de paraquedismo saltando de um avião em direção a uma área de pouso no Sudão. A legenda do vídeo dizia que se tratava de um exercício de pouso de paraquedas conduzido pelos mercenários do Wagner Group para as forças sudanesas.
Tentáculos pelo continente africano
A misteriosa organização paramilitar tem presença em conflitos em diversos países da África. Para isso, conta com o suporte da propaganda do Kremlin, que há anos realiza uma campanha de influência no continente, sobretudo focada em nações politicamente instáveis. O governo russo faz uso das redes sociais para difundir uma imagem favorável junto à população local e atua até mesmo para influenciar os protestos de rua.
Líbia: mercenários do grupo foram relatados lutando em nome do marechal de campo Khalifa Haftar em sua tentativa de tomar o controle do país em 2019. A execução de prisioneiros por combatentes no país consta entre os possíveis crimes de guerra cometidos pelas várias partes envolvidas na luta armada que assola o país, disseram especialistas em direitos humanos da ONU
República Centro-Africana: mercenários do grupo foram relatados ajudando o governo local a combater grupos rebeldes.
Madagascar: em 2021, o governo de Madagascar aprovou um acordo com o Wagner Group para fornecer serviços de segurança no país. Poucos detalhes foram divulgados sobre o acordo, mas a decisão foi criticada por alguns países ocidentais.
Moçambique: combatentes foram relatados lutando contra insurgentes islâmicos na região de Cabo Delgado.
Sudão do Sul: mercenários russos foram relatados fornecendo segurança para instalações de petróleo e gás no país.
Burkina Faso: o governo de Burkina Faso cedeu uma mina ao Wagner Group como pagamento pelos serviços prestados pelo grupo paramilitar russo no combate aos extremistas no país africano.
Mali: os mercenários foram associados a massacres que resultaram na morte de centenas de civis no Mali. O Wagner Group teria supostamente participado em março de 2022 de um massacre em Moura, uma vila controlada por extremistas islâmicos. Na ocasião, entre 350 e 380 pessoas foram mortas durante quatro dias de intervenção. A junta militar do Mali, que tomou o poder após um golpe em maio do ano passado, alega que os russos no país são instrutores e “não estão em funções de combate”.
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