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segunda-feira, 3 de janeiro de 2022

Lojistas do Afeganistão são obrigados a remover cabeças de manequins nas vitrines

Comerciantes da província de Herat, no oeste do Afeganistão, começaram a remover as cabeças dos manequins que são exibidos nas vitrines de suas lojas. A ordem partiu do Taleban, que baseia a proibição no argumento de que a Sharia, a lei islâmica, proíbe a adoração de ídolos. E os talibãs tratam os manequins da mesma maneira que tratariam ídolos religiosos, como imagens de santos católicos, por exemplo. As informações são da rede Voice of America (VOA).

A ordem para remover as cabeças foi dada expressamente pelo Ministério Para a Promoção da Virtude e Prevenção do Vício, sob o argumento de que os manequins são ofensivos ao Islã. Há a promessa de punir os lojistas que não obedecerem à determinação. Inicialmente, os proprietários de shopping centers contestaram a ordem, argumentando que outros países muçulmanos permitem os manequins. Mais tarde, resolveram acatara a ordem.

O porta-voz do Taleban, Zabihullah Mujahid, em entrevista à televisão estatal afegã, defendeu recentemente as medidas tomadas pelo Ministério. Segundo ele, as proibições não deveriam ser motivo de preocupação para ninguém porque “o Afeganistão é uma nação muçulmana e ninguém se opõe às leis islâmicas no país”. Porém, ele diz que a instrução do governo aos talibãs é para que “não maltratem as pessoas e sejam educados com elas”.

As proibições se acumulam no Afeganistão desde que o Taleban assumiu o poder, em 15 de agosto de 2021. No final de dezembro, foi anunciado que as mulheres que quiserem viajar longas distâncias devem fazê-lo acompanhadas por um homem da família. Nas ruas do Afeganistão, já existe um monitoramento de taxis para verificar se a determinação está sendo cumprida. Os taxistas também foram obrigados a deixar a barba crescer e precisam interromper o serviço nos horários de oração.

Vitrine de loja em Cabul, no Afeganistão (Foto: reprodução/Tripadvisor)

Por que isso importa?

Desde que assumiu o poder, no dia 15 de agosto, o Taleban busca reconhecimento internacional como governo de fato do que chama de “Emirado Islâmico“. O grupo chegou a se reunir com autoridades da ONU (Organização das Nações Unidas) a fim de garantir que a assistência humanitária seja mantida no país.

O problema é que as acusações de abusos dos direitos humanos e de repressão, sobretudo contra mulheres, afastam cada vez mais o governo talibã da comunidade internacional. Tanto que, até agora, nenhuma nação reconheceu formalmente o Taleban como poder legítimo no país, apesar da aproximação com países como China e Paquistão.

Mais do que legitimar os talibãs internacionalmente, o reconhecimento é crucial para fortalecer financeiramente um país pobre e sem perspectivas imediatas de gerar riqueza. Inclusive, os Estados Unidos, o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional (FMI) cortaram o acesso de Cabul a mais de US$ 9,5 bilhões em empréstimos, fundos e ativos, sem qualquer previsão de retirada das sanções que bloquearam o dinheiro fundamental para reerguer o país.

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