Já se passaram mais de cinco meses desde que o Taleban tomou o poder no Afeganistão, no dia 15 de agosto, com a queda de Cabul. De lá para cá, a repressão aumentou consideravelmente no país do Oriente Médio, sobretudo contra as mulheres. Os servidores do antigo governo passaram a ser perseguidos dentro do país, com denúncias de agressões e execuções extrajudiciais. Internacionalmente, porém, há um setor que se mantém fiel ao governo anterior e rejeita os talibãs como governantes: o diplomático. As informações são da rede Gandhara.
Muitas missões se recusam a ceder os postos diplomáticos aos talibãs e seguem fieis ao governo deposto, que contava com o apoio do Ocidente. A falta de fundos é um problema, mas a bandeira afegã em preto, vermelho e verde segue hasteada, e os serviços consulares, na medida do possível, ainda são prestados aos cidadãos afegãos que vivem no exterior.
“Não podemos simplesmente abandonar nossas embaixadas”, disse um diplomata exilado que falou sob condição de anonimato, por medo do que poderia ocorrer com os familiares que ainda vivem no Afeganistão. Ele conta que reduziu a equipe e mudou a sede da embaixada para uma casa alugada, deixando de lado a antiga e opulenta sede. “Estamos fazendo o nosso melhor para transformar nossas missões diplomáticas em missões autossustentáveis”.
Depois que assumiu o poder, o grupo radical enviou cartas e mensagens de texto aos embaixadores afegãos, com apresentações e pedidos de compartilhamento de informações pessoais e planos de trabalho. Muitos dos postos, sendo 45 embaixadas e 20 consulados, rejeitaram as nomeações feitas pelo Taleban e fizeram campanha contra os militantes, sendo que algumas tornaram-se centros de oposição aos radicais
Porém, em busca de reconhecimento internacional como governo afegão de direito, o Taleban intensificou os esforços para assumir os 65 postos diplomáticos no exterior. No Paquistão, onde muitos combatentes talibãs residiam antes de tomada de Cabul, o grupo tomou o controle da missão diplomática. Na China, país de fortes relações comerciais com o Afeganistão e que tem se aproximado dos talibãs, o antigo embaixador, Javid Ahmad Qaem, entregou o cargo.
Uma situação peculiar ocorreu em Roma no início de janeiro. Um ex-diplomata afegão entrou na sede da embaixada e agrediu o embaixador, obrigando o departamento a chamar a polícia italiana. O invasor, identificado como Mohammad Fahim Kashaf, alegou ter sido nomeado para o cargo por militantes do Taleban, que negou a informação, mas também disse que o indivíduo não havia sido demitido.
“Eles tentaram impor seu controle. Mas nosso país anfitrião reconhece um Estado, não um governo em particular. Eles entenderam nossas circunstâncias”, disse outro diplomata que atua na Europa e prefere não se identificar, admitindo que a resistência pode não durar muito. “Nosso principal problema é financeiro. Há quatro meses não recebemos dinheiro para pagar salários e há sete meses para pagar despesas. Vai ser difícil operar as embaixadas no longo prazo”.
Por que isso importa?
A economia do Afeganistão está em queda livre, com 23 milhões de pessoas passando fome no país, de acordo com dados divulgados pela ONU (Organização das Nações Unidas) em dezembro de 2021. As crianças são as maiores vítimas e lotam os centros de saúde, afetadas sobretudo por problemas decorrentes da má alimentação.
A crise ocorre em meio à desvalorização acentuada do afegane, a moeda do país, e à falta de confiança do setor financeiro, que destrói o comércio e bloqueia empréstimos e investimentos estrangeiros. A fim de se integrar à comunidade internacional e assim tentar amenizar o problema, o Taleban, que assumiu o poder no dia 15 de agosto, busca reconhecimento internacional como governo de direito do que chama de “Emirado Islâmico“.
Mais do que legitimar os talibãs internacionalmente, o reconhecimento é crucial para fortalecer financeiramente um país pobre e sem perspectivas imediatas de gerar riqueza. O grupo chegou a se reunir com autoridades internacionais a fim de garantir que a assistência humanitária seja mantida no país, mas ficou nisso.
Em dezembro de 2021, uma Assembleia Geral da ONU adiou indeterminadamente o processo de oficialização do governo talibã. O anúncio da resolução significa que a organização islâmica não será autorizada a entrar no organismo intergovernamental.
As acusações de abusos dos direitos humanos e de repressão, sobretudo contra as mulheres, afastam cada vez mais o governo talibã da comunidade internacional. Tanto que, até agora, nenhuma nação reconheceu formalmente o Taleban como poder legítimo no país, apesar da aproximação com países como China e Paquistão.
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