Um grupo de mulheres afegãs atletas de taekwondo tem treinado na clandestinidade desde que o Taleban assumiu o poder no país, em agosto de 2021. A medida é uma forma de tentar driblar a repressão de gênero imposta pelos radicais, que proíbem a prática esportiva feminina. As informações são do site La Prensa Latina.
O Afeganistão tem apenas duas medalhas olímpicas em sua história. São dois bronzes conquistados por Rohullah Nikpai no taekwondo, em Beijing 2008 e Londres 2012. As conquistas de Nikpai popularizaram o esporte, inclusive entre as mulheres, mas a tomada de poder pelo Taleban interrompeu o sonho de quem treinava para defender a bandeira afegã em torneios internacionais e até em Jogos Olímpicos.
“Eu sonhava ser campeã, não apenas em competições internacionais, mas também nos Jogos Olímpicos. Mas agora fico em casa e não posso nem ir ao clube”, disse Farzana Frotan, que defendeu o Afeganistão no Campeonato Mundial de Taekwondo de 2015 e foi medalha de ouro no torneio internacional WTF de 2016, no Tadjiquistão. Apesar do currículo vitorioso, ela não obteve isenção por parte dos radicais.
Frotan diz que treina clandestinamente, uma ou duas vezes por semana, com um grupo de atletas. Elas escolhem um lugar diferente a cada treino, a fim de reduzir as chances de serem descobertas, presas, torturadas e talvez mortas pelos talibãs.
Nematullah Habibi, técnico da equipe nacional, conta que membros do Taleban certa vez chegaram a um local de treinos pouco depois do encerramento, quando as atletas já haviam saído. Em retaliação, eles “torturaram a família por facilitar a sessão de treinos”.
O próprio Habibi diz ter sido agredido quando teve o celular vistoriado por talibãs e um posto de segurança, pois o aparelho continha imagens de treinos. “Eles me bateram, apesar de eu dizer a eles que esses vídeos eram antigos”.
Segundo Frotan, os talibãs não são o único problema. Ela conta que a própria família teve dificuldade para aceitá-la como atleta. “Eu estava apaixonada pelo taekwondo, mas meus pais não concordaram e me disseram que o esporte não era adequado para meninas”, conta ela, que só conseguiu convencer o pai e a mãe após dizer que a luta a ajudaria a evitar abusos por parte dos homens.
É justamente esse o argumento de Husnia Sadat para manter-se ativa no taekwondo com o Taleban no poder. “O esporte me deu confiança e não me sinto tão vulnerável quanto outras mulheres no Afeganistão”, diz ela. “O esporte, especialmente para as mulheres no Afeganistão, é a chave para uma vida feliz e saudável”.
Por que isso importa?
Entre as imposições dos talibãs às mulheres que voltaram a vigorar no Afeganistão estão a proibição de saírem de casa desacompanhadas, o veto à educação em escolas, a proibição de mulheres nas novelas e a proibição imposta ao trabalho feminino. Além de inúmeros casos de mulheres solteiras ou viúvas forçadas a se casar com combatentes.
Quem não cumpre as regras sofre com as consequências. As punições incluem espancamentos públicos, um antigo meio de repressão dos fundamentalistas.
Para lembrar as afegãs de suas obrigações, os militantes ergueram cartazes em algumas áreas para informar os moradores sobre as regras. Em certas regiões, as lojas estão proibidas de vender mercadorias a mulheres desacompanhadas.
A repressão se estende à educação. O Taleban não só proibiu as mulheres de estudarem como fechou escolas no país. Em certas áreas dominadas pelos extremistas, a educação foi permitida para meninas somente até a quarta série.
Numa decisão que atinge também os homens, o Taleban determinou que apresentações de música ao vivo estão proibidas no país.
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