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sexta-feira, 14 de janeiro de 2022

Vencedor do Nobel da Paz, premiê etíope é criticado pelo comitê gestor do prêmio

O Comitê Nobel Norueguês, órgão responsável pelo Prêmio Nobel, fez uma rara manifestação de reprovação à postura do primeiro-ministro Abiy Ahmed no conflito que ocorre atualmente no norte da Etiópia. O líder etíope ganhou o Nobel da Paz em 2019. As informações são da agência Associated Press (AP).

“Como primeiro-ministro e vencedor do Prêmio Nobel da Paz, Abiy Ahmed tem uma responsabilidade especial de acabar com o conflito e contribuir para a paz”, disse o órgão sediado em Oslo, que situou historicamente sua decisão. “O prêmio de Abiy Ahmed foi concedido com base em seus esforços e nas expectativas justificáveis que existiam em 2019. O pano de fundo histórico incluía um sistema de governo autoritário e conflitos étnicos generalizados”.

A escolha do líder etíope para receber o prêmio tem relação direta com o fim do conflito entre a Etiópia e a Eritreia, um dos mais antigos da África. Posteriormente, Ahmed recorreu justamente ao vizinho, com quem firmou uma aliança militar para combater os rebeldes separatistas da região de Tigré, no norte da Etiópia. Eclodiu, então, um conflito nacional que já matou milhares de pessoas.

Abiy Ahmed, primeiro-ministro da Etiópia (Foto: Divulgação/Twitter)

“Em nenhum lugar do mundo estamos testemunhando um inferno como em Tigré”, disse o diretor-geral da OMS (organização Mundial de Saúde) Tedros Ghebreyesus, ex-funcionário do governo tigré, que chegou a negociar com o governo etíope para tentar ampliar a entrega de ajuda humanitária no norte do país.

“A situação é muito séria. É inaceitável que a ajuda humanitária não surja em grau suficiente”, disse o Comitê, sem se estender demais na questão. “Não é nosso papel fornecer comentários contínuos sobre os desenvolvimentos etíopes ou avaliar a posição de um laureado com o Prêmio da Paz após o recebimento do prêmio”.

Por que isso importa?

A região de Tigré, no extremo norte da Etiópia, está imersa em conflitos desde novembro de 2020, quando disputas eleitorais levaram Addis Abeba a determinar a tomada das instituições locais. A disputa opõe a TPLF às forças de segurança nacionais da Etiópia.

Os militares chegaram a reconquistar Tigré, mas os rebeldes viraram o jogo e começaram a ganhar território. No final de junho de 2021, eles anunciaram um processo de “limpeza” para retomar integralmente o controle da região e assumiram o comando de Mekelle, a capital regional.

Pouco após a derrota do exército, o governo da Etiópia decretou um cessar-fogo e deixou Tigré. Os soldados do exército aliada Eritreia também deixaram de ser vistos por lá. Posteriormente, com o avanço dos rebeldes e a conquista das regiões vizinhas de Afar e Amhara, o exército foi enviado novamente para apoiar as tropas locais.

Durante o conflito, a TPLF se aliou ao OLA (Exército de Libertação Oromo, da sigla em inglês), que se desvinculou do partido político homônimo e passou a defender de maneira independente a etnia Oromo, a maior da Etiópia.

A coalizão passou superar o exército nos confrontos armados, rumando para a capital. Em dezembro de 2021, porém, após seguidas vitórias das tropas do governo, os rebeldes anunciaram a decisão de recuar de volta a Tigré, dando um passo importante rumo a um cessar-fogo que pode encerrar o violento conflito.

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