No dia 3 de janeiro deste ano, os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas) se reunirem para tratar, entre outras questões, da proliferação de armas nucleares. Um documento conjunto assinado por EUA, China, Rússia, França e Reino Unido atestou que “a disseminação dessas armas deve ser evitada”. O discurso, porém, não tem sido aplicado na prática, e a humanidade acompanha assustada uma corrida armamentista que voltou ter as ogivas nucleares como protagonistas.
Um dia após a publicação do documento, a China afirmou que pretende ampliar ainda mais seu arsenal nuclear nos próximos anos. Segundo Fu Cong, diretor geral do departamento de controle de armas do Ministério das Relações Exteriores de Beijing, cabe a Washington e Moscou darem o primeiro passo no sentido do desarmamento nuclear, vez que são as duas maiores potências nucleares do planeta.
“A China continuará a modernizar seu arsenal nuclear por questões de confiabilidade e segurança”, disse Cong, de acordo com o jornal South China Morning Post. Palavras que não se encaixam no discurso pacífico do dia anterior, assinado inclusive pela China, segundo o qual “uma guerra nuclear não pode ser vencida e nunca deve ser travada”.
Em novembro do ano passado, um relatório do Pentágono afirmou que o arsenal nuclear chinês tem aumentado em um ritmo muito maior que o imaginado anteriormente, levando a nação asiática a reduzir a desvantagem em relação aos Estados Unidos nessa área.
O documento afirmava que as forças armadas chinesas podem atingir a marca de 700 ogivas nucleares ativas até 2027, tendo como meta chegar a mil até 2030. Para efeito de comparação, o relatório anterior do Pentágono falava em um arsenal de pouco mais de 200 dispositivos, com a possibilidade de dobrá-lo até o final da década.
Por ora, o poder de fogo da China não se compara ao dos Estados Unidos, que têm cerca de 3,8 mil ogivas nucleares e não planejam ampliá-lo. Na verdade, o arsenal norte-americano foi drasticamente reduzido nos últimos anos, considerando que em 2003 eram cerca de 10 mil dispositivos ativos. Porém, se mantiver o projeto de longo prazo, a China planeja igualar ou mesmo superar tais números até 2049.
Investimento militar russo
A Rússia, em crescente atrito com os Estados Unidos, também manifestou oposição à corrida nuclear na reunião do Conselho de Segurança. “Esperamos que, nas atuais difíceis condições de segurança internacional, a aprovação de tal declaração política ajude a reduzir o nível de tensões internacionais”, disse o Ministério das Relações Exteriores russo em comunicado, segundo o site The National Interest.
Igualmente, a declaração de Moscou vai de encontro aos fatos. Em novembro, os parlamentares russos começaram a debater o orçamento armamentista com a previsão de ampliar o arsenal nuclear pelos próximos três anos. Em 2022 e 2023, o gasto total com defesa nacional deve ser de aproximadamente 3,5 trilhões de rublos (US$ 46,6 bilhões) por ano, saltando para 3,8 trilhões (US$ 50,4 bilhões) de rublos em 2024.
Atualizar o arsenal nuclear do país continua sendo uma prioridade para o Kremlin. O chefe do Comitê de Defesa, Andrei Kartapolov, disse que 49 bilhões de rublos (US$ 650,5 milhões) serão alocados anualmente para o complexo armado nuclear. O número para 2024 será de cerca de 56 bilhões de rublos (US$ 743,4 milhões), de acordo com o site Defense News.
O presidente russo Vladimir Putin reforçou o plano de investimento em armamento nuclear, em seu discurso anual na Assembleia Federal, no final de dezembro. “A parcela de armas avançadas e hardware nas tropas [do exército russo] será de quase 76% até 2024”, disse ele. “É um número muito bom. Na tríade nuclear, vai ultrapassar 88% já neste ano”.
Por que isso importa?
O fortalecimento militar chinês gera preocupação entre os norte-americanos e é assunto de interesse global devido à questão de Taiwan. Em novembro de 2021, um oficial de defesa dos EUA que preferiu não se identificar afirmou que o crescimento do arsenal chinês pode forçar a ilha a abandonar suas aspirações de soberania e definitivamente se colocar sob o domínio do Partido Comunista Chinês (PCC). Como os EUA são o principal aliado militar de Taipé, uma ação de Beijing nesse sentido poderia desencadear um conflito entre as duas superpotências.
Em caso de guerra, a supremacia militar dos EUA não é uma garantia, considerando o alto investimento da China no setor. Analistas e líderes militares ouvidos pela rede norte-americana Voice of America (VOA) afirmam inclusive que Beijing pode superar os Estados Unidos como mais poderosa força aérea do mundo na próxima década.
Em setembro do ano passado, durante uma conferência militar, o general Charles Brown Jr., chefe do Estado-Maior da força aérea norte-americana, qualificou o exército chinês como detentor das “maiores forças de aviação do Pacífico”. E disse que o posto foi alcançado “debaixo de nosso nariz”, sem uma resposta à altura. Mais: ele projetou que a China pode assumir a supremacia aérea militar global em 2035.
No mesmo evento, o tenente-general S. Clinton Hinote manifestou opinião semelhante e advertiu que os EUA não acompanham os avanços da China. “Em algumas áreas importantes, estamos atrasados. E falo ‘nesta noite’. Esse não é um problema de amanhã. É de hoje”. Posteriormente, em conversa privada com jornalistas, reforçou a opinião de que os chineses já igualaram os avanços tecnológicos norte-americanos no setor.
O arsenal nuclear da China também tem aumentado num ritmo muito maior que o imaginado anteriormente, levando a nação asiática a reduzir a desvantagem em relação aos Estados Unidos nessa área. Relatório de 2021 do Pentágono sugere que Beijing pode atingir a marca de 700 ogivas nucleares ativas até 2027, tendo a meta de mil ogivas até 2030.
Por ora, o poder de fogo nuclear da China não se compara ao dos Estados Unidos, que têm cerca de 3,8 mil ogivas e não planejam ampliá-lo. Na verdade, o arsenal norte-americano foi drasticamente reduzido nos últimos anos, considerando que em 2003 eram cerca de 10 mil dispositivos ativos. Porém, se mantiver o projeto de longo prazo, a China planeja igualar ou mesmo superar tais números até 2049.
O post Superpotências clamam por desarmamento nuclear, mas na prática fazem o oposto apareceu primeiro em A Referência.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Deixe aqui seu comentário, evite comentários depreciativos e ofensivos