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quarta-feira, 26 de janeiro de 2022

Combatentes do EI usam crianças como escudo humano durante tomada de presídio na Síria

Combatentes do Estado Islâmico (EI) continuam dentro da prisão de Ghwayran, em al-Hasakah, na Síria, que foi invadida com o objetivo de libertar outros seguidores do grupo extremista que estavam detidos ali. Uma das preocupações das forças de segurança local é com a segurança de ao menos 700 meninos e adolescentes encarcerados, sendo que alguns deles chegaram a ser usados como escudos humanos pelos jihadistas. As informações são do jornal britânico The Guardian.

No intuito de evitar uma invasão por partes das Forças Democráticas Sírias (FDS), que ocupam o entorno da casa de detenção, os jihadistas se esconderam em um dormitório ocupados por jovens, alguns deles com apenas 12 anos de idade. Há relatos de mortes entre os menores durante a ação.

Entre os jovens presos ali, muitos são estrangeiros que foram à Síria durante o período em que o EI mantinha seu “califado”. Quando as FDS derrotaram o grupo extremista, em 2019, muitos menores foram presos. Desde então, a ONG Save The Children cobra a libertação e o retorno deles a seus países de origem. Muitas das nações, porém, simplesmente se recusam a recebê-los.

Forças Democráticas Sírias (SDF) predem 24 suspeitos do Estado Islâmico, maio 2021. (Foto: SDF)

“O que estamos ouvindo da prisão de Ghwayran é profundamente angustiante”, disse a diretora da Save the Children na Síria, Sonia Khush. “Os relatos de que crianças foram mortas ou feridas são trágicos e ultrajantes. A responsabilidade por qualquer coisa que aconteça com essas crianças também está com governos estrangeiros que pensaram que podem simplesmente abandonar seus filhos na Síria. O risco de morte ou lesão está diretamente ligado à recusa desses governos em levá-los para casa”.

As crianças-soldado do EI invariavelmente recebiam a missão de se infiltrar em áreas civis, tarefa facilitada pelo fato de serem crianças e passarem despercebidas. “Esses jovens foram treinados pelo EI para ataques suicidas e outras operações militares”, disse Farhad Shami, chefe da mídia das FDS. “Agora, o EI assumiu o controle dessa parte da prisão e não podemos lutar ou bombardeá-los”.

Por que isso importa?

Nos últimos anos, o EI se enfraqueceu financeira e militarmente. Em 2017, o exército iraquiano anunciou ter derrotado a organização no país, com a retomada de todos os territórios que ela dominava desde 2014. O grupo, que chegou a controlar um terço do Iraque, hoje mantém apenas células adormecidas que lançam ataques esporádicos, quase sempre focados em agentes do governo. Já as Forças Democráticas Sírias (FDS), apoiadas pelos EUA, anunciaram em 2019 o fim do “califado” criado pela organização extremista na Síria.

De acordo com um relatório do Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas), publicado em julho de 2021, a prioridade do EI atualmente é “o reagrupamento e a tentativa de ressurgir” em seus dois principais domínios, Iraque e Síria, onde ainda mantém cerca de 10 mil combatentes ativos. O documento sugere, ainda, que o grupo teve considerável perda financeira, devido a dois fatores: as operações antiterrorismo no mundo e a má gestão de fundos por parte de seus líderes.

Paralelamente à derrocada do EI, a pandemia de Covid-19 reduziu o número de ataques terroristas em regiões sem conflito, devido a fatores como a redução do número de pessoas em áreas públicas. Entretanto, grupos jihadistas têm se fortalecido em zonas de conflito, e isso pode causar um impacto na segurança global conforme as regras de restrição à circulação são afrouxadas.

Esse cenário permitiu ao EI, particularmente, ganhar uma sobrevida, fazendo uso sobretudo do poder da internet. À medida em que as restrições relacionadas à pandemia diminuem gradualmente, há uma elevada ameaça de curto prazo de ataques inspirados no grupo fora das zonas de conflito. São ações empreendidas por atores solitários ou pequenos grupos que foram radicalizados e incitados através da internet.

Atualmente, o principal reduto do EI é o continente africano, onde consegue se manter relevante graças ao recrutamento online e à ação de grupos afiliados regionais. A expansão do grupo em muitas regiões da África desde o início de 2021 é alarmante e pode marcar a retomada de força da organização.

No Brasil

Casos mostram que o Brasil é um porto seguro para extremistas. Em dezembro de 2013, levantamento do site The Brazil Business indicava a presença de ao menos sete organizações terroristas no Brasil: Al Qaeda, Jihad Media Battalion, Hezbollah, Hamas, Jihad Islâmica, Al-Gama’a Al-Islamiyya e Grupo Combatente Islâmico Marroquino.

Em 2001, uma investigação da revista VEJA mostrou que 20 membros terroristas de Al-Qaeda, Hamas e Hezbollah viviam no país, disseminando propaganda terrorista, coletando dinheiro, recrutando novos membros e planejando atos violentos.

Em 2016, duas semanas antes do início dos Jogos Olímpicos no Rio, a PF prendeu um grupo jihadista islâmico que planejava atentados semelhantes aos dos Jogos de Munique em 1972. Dez suspeitos de serem aliados ao Estado Islâmico foram presos e dois fugiram.

Mais recentemente, em dezembro de 2021, três cidadãos estrangeiros que vivem no Brasil foram adicionados à lista de sanções do Tesouro Norte-americano. Eles são acusados de contribuir para o financiamento da Al-Qaeda, tendo inclusive mantido contato com figuras importantes do grupo terrorista.

Para o tenente-coronel do Exército Brasileiro André Soares, ex-agente da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), o anúncio do Tesouro causa “preocupação enorme”, vez que confirma a presença do país no mapa das organizações terroristas islâmicas.

“A possibilidade de atentados terroristas em solo brasileiro, perpetrados não apenas por grupos extremistas islâmicos, mas também pelo terrorismo internacional, é real”, diz Soares, mestre em operações militares e autor do livro “Ex-Agente Abre a Caixa-Preta da Abin” (editora Escrituras). “O Estado e a sociedade brasileira estão completamente vulneráveis a atentados terroristas internacionais e inclusive domésticos, exatamente em razão da total disfuncionalidade e do colapso da atual estrutura de Inteligência de Estado vigente no país”. Saiba mais.

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