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quarta-feira, 5 de janeiro de 2022

Inverno intenso e nevascas dificultam operações humanitárias no Afeganistão

O Ocha (Escritório da ONU para Coordenação de Assuntos Humanitários) alertou nesta quarta-feira (5) para as condições ainda mais severas enfrentadas pela população do Afeganistão devido ao inverno intenso que atingiu o país nos últimos dias. 

Nas últimas 24 horas, fortes nevascas e chuvas impactaram várias áreas, interrompendo voos de ida e volta para o aeroporto de Cabul, de acordo com a agência. “Prevê-se mais neve e baixas temperaturas nos próximos dias”, disse o porta-voz da ONU, Stéphane Dujarric.

Uma situação humanitária já terrível no Afeganistão piorou após a tomada do poder pelas forças do Taleban em agosto passado e a subsequente suspensão da ajuda, juntamente com o congelamento de bens por muitos países e organizações internacionais.

No final de dezembro de 2021, o Conselho de Segurança aprovou por unanimidade uma resolução que abre caminho para que a ajuda chegue aos afegãos que precisam desesperadamente de apoio básico, ao mesmo tempo que evita que os fundos caiam nas mãos do Taleban, uma medida saudada pelo chefe do Ocha como um “marco”, uma “decisão que vai salvar vidas”.

Imagens de uma nevasca que atingiu o Afeganistão em 2012 e bloqueou a ajuda humanitária ao país (Foto: Ocha/ONU)

Enquanto isso, os parceiros humanitários correm contra o tempo para entregar ajuda e suprimentos – em linha com os compromissos de expandir as operações.

“Durante dezembro, nossos parceiros humanitários alcançaram sete milhões de pessoas com suprimentos de alimentos em todo o país”, disse Dujarric. “A prestação de apoio à preparação para o inverno, incluindo itens pecuniários e não alimentares, também está em curso em várias partes do país”.

No mês de dezembro, cerca de 7 milhões de pessoas foram beneficiadas com a entrega de assistência humanitária e de comida por todo o país. O Ocha revela ainda que muitas famílias em várias áreas do Afeganistão irão receber kits para o inverno, com itens para amenizar o frio intenso, além de assistência em dinheiro. 

Segundo o Escritório da ONU, os doadores internacionais forneceram US$ 1,5 bilhão para operações humanitárias no Afeganistão em 2021. Em setembro, o secretário-geral António Guterres lançou um apelo de emergência de US$ 606 milhões, sendo que os doadores enviaram mais, um total de US$ 776 milhões. Já o Plano de Resposta Humanitária buscava US$ 869 milhões para entregar assistência aos afegãos, mas foram recebidos US$ 730 milhões. 

A OIM (Organização Internacional para as Migrações) expressou sua preocupação contínua com os milhões de deslocados internos no Afeganistão, enquanto a Acnur (Agência da ONU para Refugiados) está intensificando sua resposta para disseminar assistência oportuna para o inverno, especialmente para as famílias mais vulneráveis.

Ezatullah Noori, coordenador nacional de emergência da FAO (Organização para a Alimentação e Agricultura) no Afeganistão, destacou que esta é a terceira temporada de seca em cinco anos. “Se não apoiarmos o setor agrícola a tempo, perderemos um pilar essencial da economia afegã”, alertou.

Por que isso importa?

Desde que assumiu o poder, no dia 15 de agosto, o Taleban busca reconhecimento internacional como governo de fato do que chama de “Emirado Islâmico“. O grupo chegou a se reunir com autoridades da ONU (Organização das Nações Unidas) a fim de garantir que a assistência humanitária seja mantida no país.

O problema é que as acusações de abusos dos direitos humanos e de repressão, sobretudo contra mulheres, afastam cada vez mais o governo talibã da comunidade internacional. Tanto que, até agora, nenhuma nação reconheceu formalmente o Taleban como poder legítimo no país, apesar da aproximação com países como China e Paquistão.

Mais do que legitimar os talibãs internacionalmente, o reconhecimento é crucial para fortalecer financeiramente um país pobre e sem perspectivas imediatas de gerar riqueza. Inclusive, os Estados Unidos, o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional (FMI) cortaram o acesso de Cabul a mais de US$ 9,5 bilhões em empréstimos, fundos e ativos, sem qualquer previsão de retirada das sanções que bloquearam o dinheiro fundamental para reerguer o país.

Conteúdo adaptado do material publicado originalmente pela ONU News

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